Trabalho desumano, jornadas exaustivas,
salários irrisórios, fome infindável, frio avassalador, vida paupérrima. Esse é
o cenário descrito na obra “Germinal”, do escritor Zola. Os mineiros que
trabalhavam na mina de Montsou, na França, estavam inseridos nesse ciclo
interminável há gerações. A herança dos pobres era transferir a condição de
miserável aos sucessores da família. As futuras gerações, antes mesmo de
nascerem, já estavam fadadas a seguirem uma vida precária e laboriosa. Do
tataravô ao bisneto, o destino oprobrioso já estava traçado. Enquanto os homens
se matavam nas minas, entregando seus corpos e suas almas, em troca do serviço
exigido, e as mulheres ficavam reclusas aos lares e aos filhos, os patrões da
mina esbanjavam luxo de sobra e uma vida de ostentação. Banquetes? Casas que
mais pareciam palacetes? Sentimento de superioridade perante os serviçais da
vila? Claro que sim, tudo isso se fazia presente para sustentar a opulência e a
ganância da burguesia que perpetuava a exploração da camada que de poderosa
nada tinha, porque não era a classe social hegemônica. O desenrolar da história
somente se altera, quando Étienne chega a Montsou e, ao se dar conta da
situação na qual as famílias viviam, revolta-se, movimentando a classe
operária, em prol dos direitos trabalhistas.
Estabelecendo um paralelo entre o enredo do
livro – o qual, se bem analisado, não está tão distante da realidade de muitos
trabalhadores na atualidade (basta notar o despertar para a luta contra a
escala 6x1) - e o materialismo histórico-dialético, de Marx e Engels, é
possível comprovar como condições materiais da existência se manifestam nas
relações de produção e como as mudanças sociais são impulsionadas por conflitos
de classe derivados das estruturas econômicas. Segundo os pensadores, a
economia – infraestrutura – determinaria a cultura, a política e o direito –
superestrutura -. Nesse sentido, classes dominantes, como a de “Germinal”,
seriam responsáveis por moldar pensamentos e formas de compreensão
preponderantes, que determinariam a vida social e política e limitariam outros
grupos de ascenderem. Na produção literária tratada, a família Grégoire, dona dos
meios de produção, explorava, brutal e atrozmente, os trabalhadores da mina,
apenas para se afirmar no poder. Qualquer mudança que clamasse por melhorias,
como o aumento salarial, era sinônimo de ameaça a sua autoridade.
Por fim, ressalta-se a infeliz semelhança
entre a contemporaneidade e o século XIX. Um número considerável de
trabalhadores brasileiros ainda precisa lutar por direitos mínimos, negados
pelos patrões e pelos que se mantêm pelo serviço de terceiros. O movimento
contra a escala 6x1, embora ainda não tenha tido uma resolução, já é uma
vitória e necessita ser enaltecido, porque despertou aqueles que, assim como os
mineiros, há gerações eram desumanizados. A luta germina, pois, a mudança.
Isadora
Cardoso Peres - Noturno
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