segunda-feira, 5 de maio de 2025

O “Germinal”, de Émile Zola, sob a óptica do materialismo histórico-dialético

 

  Trabalho desumano, jornadas exaustivas, salários irrisórios, fome infindável, frio avassalador, vida paupérrima. Esse é o cenário descrito na obra “Germinal”, do escritor Zola. Os mineiros que trabalhavam na mina de Montsou, na França, estavam inseridos nesse ciclo interminável há gerações. A herança dos pobres era transferir a condição de miserável aos sucessores da família. As futuras gerações, antes mesmo de nascerem, já estavam fadadas a seguirem uma vida precária e laboriosa. Do tataravô ao bisneto, o destino oprobrioso já estava traçado. Enquanto os homens se matavam nas minas, entregando seus corpos e suas almas, em troca do serviço exigido, e as mulheres ficavam reclusas aos lares e aos filhos, os patrões da mina esbanjavam luxo de sobra e uma vida de ostentação. Banquetes? Casas que mais pareciam palacetes? Sentimento de superioridade perante os serviçais da vila? Claro que sim, tudo isso se fazia presente para sustentar a opulência e a ganância da burguesia que perpetuava a exploração da camada que de poderosa nada tinha, porque não era a classe social hegemônica. O desenrolar da história somente se altera, quando Étienne chega a Montsou e, ao se dar conta da situação na qual as famílias viviam, revolta-se, movimentando a classe operária, em prol dos direitos trabalhistas.

  Estabelecendo um paralelo entre o enredo do livro – o qual, se bem analisado, não está tão distante da realidade de muitos trabalhadores na atualidade (basta notar o despertar para a luta contra a escala 6x1) - e o materialismo histórico-dialético, de Marx e Engels, é possível comprovar como condições materiais da existência se manifestam nas relações de produção e como as mudanças sociais são impulsionadas por conflitos de classe derivados das estruturas econômicas. Segundo os pensadores, a economia – infraestrutura – determinaria a cultura, a política e o direito – superestrutura -. Nesse sentido, classes dominantes, como a de “Germinal”, seriam responsáveis por moldar pensamentos e formas de compreensão preponderantes, que determinariam a vida social e política e limitariam outros grupos de ascenderem. Na produção literária tratada, a família Grégoire, dona dos meios de produção, explorava, brutal e atrozmente, os trabalhadores da mina, apenas para se afirmar no poder. Qualquer mudança que clamasse por melhorias, como o aumento salarial, era sinônimo de ameaça a sua autoridade.

  Por fim, ressalta-se a infeliz semelhança entre a contemporaneidade e o século XIX. Um número considerável de trabalhadores brasileiros ainda precisa lutar por direitos mínimos, negados pelos patrões e pelos que se mantêm pelo serviço de terceiros. O movimento contra a escala 6x1, embora ainda não tenha tido uma resolução, já é uma vitória e necessita ser enaltecido, porque despertou aqueles que, assim como os mineiros, há gerações eram desumanizados. A luta germina, pois, a mudança.

 

Isadora Cardoso Peres - Noturno

 

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