segunda-feira, 25 de março de 2024

Um único modelo de evolução e ordem social: a visão positivista da sociedade

A Sociologia passa a ser introduzida como uma nova ciência por Augusto Comte ao identificar a sociedade como objeto de estudo, este com o intuito de descobrir as leis gerais e naturais que a regulam através de métodos científicos. O estudo da sociedade para Comte, segue passos de observação sem destaque às aspectos subjetivos das interações sociais, culturais e históricas, propondo estudar a sociedade de maneira mais técnica e assertiva, tal como a resolução de problemas matemáticos.

          É nesse contexto que ele destaca uns dos papéis fundamentais da Sociologia, de reconhecer a formação de constituições revolucionárias, isto é, para que seja possível a perpetuação constante da ordem e do desenvolvimento, ilustrando uma perspectiva conservadora da conjuntura social. Ideia esta, consoante com a corrente Positivista proposta por ele, que expressa a constituição irrevogável do progresso e da ordem como uma das duas condições fundamentais da civilização moderna. Nesse sentido, transformações de teor revolucionário que "ameacem" tal conservadorismo do progresso e da ordem, não deveriam perturbar tal vigência. Comunidades LGBTIA+ no caso, são exemplos claros de empecilhos da ordem para tal corrente.


          Ademais, a linearidade progressiva e constante do desenvolvimento da humanidade ilustra a consciência de etapas naturais únicas de evolução, que se desdobram através de processos até chegar ao positivismo. Ao teorizar tal visão conservadora, ele desconsidera e restringe o desenvolvimento da humanidade a uma porção da sociedade, privilegiando a formação do processo histórico-cultural branca europeia, supondo que sociedades distintas desta dita, não atingiram tal estágio na evolução natural da sociedade e na produção de conhecimento científico positivo.


          A fortíssima discriminação dos povos indígenas, por exemplo, entre muitas vezes pode estar associada nessa falsa crença de inferioridade sobre esse povo, manifestando que estes ainda não atingiram o progresso positivo tal como a sociedade europeia no século XIX declarado por Comte. A perspectiva de que indígenas não pertencem a cidade, coloca como distante a condição de pertencimento destes na sociedade supostamente com um grau de evolução maior. Junto aos ataques de grileiros e da agropecuária, os indígenas acabam por não dispor de lugar digno que seja respeitado no hodierno. Sob a regência de um governo nacional presidencialista preconceituoso, de acordo com o relatório Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o número de casos de violência contra os indígenas no ano de 2021 foi o maior dos últimos 9 anos, o que destaca tal discriminação racial pendente ainda no atual século. 


          Dessa forma, os resquícios da linha de pensamento da corrente positivista desenvolvida do Comte ainda permeia as relações interinstitucionais e culturais do conservadorismo, refletida em discursos de segregação e hostilidade contra porções de sujeitos destoantes da ordem tradicionalista. Diante disso, é possível relatar que perpetua-se ainda no século XXI, resquícios de perspectivas do conservadorismo positivista na sociedade contemporânea de quando foi introduzido como concepção teórica.


Fernanda Finassi Merlini de Sousa - 1° Ano, Direito Noturno.


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