domingo, 31 de março de 2024

Renovada face da “Suma felicidade”


"Suma Ciência" multiplicado por "Suma Potência" conduz à "Suma Felicidade". A fórmula extraída da obra "A Cidade e as Serras" de Eça de Queirós ilustra perfeitamente o conceito positivista de Auguste Comte, que preconiza a dedicação à ciência. Durante a primeira metade do século XIX, o pensador francês desenvolveu sua doutrina fundamentada no cientificismo, industrialismo e na formulação de "leis invariáveis". Assim como Jacinto, o protagonista, que inicialmente, na narrativa de Eça, acreditava encontrar a felicidade somente no avanço tecnológico, Comte via na ciência o único caminho viável para o progresso de uma sociedade, alcançando, desse modo, o ápice evolutivo máximo.

Entretanto, nos dias de hoje, tais preceitos positivistas são reinterpretados sob uma perspectiva crítica. Assim, apesar de as ideias de Comte terem moldado a concepção de sociologia e impulsionado diversos movimentos cruciais para o desenvolvimento da civilização ocidental como a conhecemos, tais princípios teóricos suscitam diversas questões na sociedade contemporânea. Isso porque, o positivismo preconiza que, em prol do progresso, deve-se suprimir a noção de indivíduo em favor do coletivo, ou seja, há uma abdicação do eu em prol do todo: "eu nego minhas aflições e problemas para que a ordem permaneça". Dessa forma, indivíduos que buscam desafiar esse equilíbrio são considerados adversos. No entanto, qual é essa "ordem" que deve ser mantida e quem a determina? Historicamente, é o homem branco, representante da elite detentora do poder, que estabelece as "leis invariáveis" as quais, sob a visão eurocêntrica e machista de Comte, devem ser perpetuadas. Isso reforça a aceitação dos "papéis sociais" e suas respectivas posições, legitimando, por meio do ideal positivista, uma justificativa para a manutenção das profundas disparidades socioeconômicas presentes no mundo.

No entanto, de acordo com o biógrafo Romain Rolland: "Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça." Assim, nas últimas décadas, vários grupos têm lutado incansavelmente pela subversão dessa ordem social arcaica e pela instauração de uma estrutura que promova a equidade.

Portanto, assim como Jacinto, ao longo da narrativa, vai desconstruindo a ideia de progresso centrada exclusivamente na ciência e na ordem social, o ideal positivista tem sido contestado e reformulado ao longo do tempo em prol da inclusão social, visando uma sociedade mais justa e equitativa.

Maria Vitória Ferreira – 1º ano Direito Matutino


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