domingo, 24 de março de 2024

A sociologia funcionalista de Durkheim na realidade brasileira

O soneto simbolista “Psicologia de um Vencido” de Augusto dos Anjos, retrata, a partir do campo semântica da química, a efemeridade da condição de existência do ser humano, incluindo seus diversos estágios de decadência (física, moral e espiritual). O emprego de elementos químicos na composição do poema enfatiza o mero significado do sujeito no mundo: matéria orgânica. Analogamente, o sociólogo Durkheim compreende o estudo do funcionalismo como uma metáfora do corpo humano. Para o pleno funcionamento da sociedade seria necessário a existência de uma coesão social, com base na interdependência entre variados sistemas sociais, da mesma maneira que o corpo biológico depende das funções de cada órgão para o seu desempenho.


Nesse sentido, a manutenção e a busca permanente pelo equilíbrio social estaria atrelada à ideia de uma sociedade em que o coletivo tem maior poder sob o individual. Percebe-se, na contemporaneidade, a forte influência da construção de uma cultura social repleta de preconceitos enraizados pela sociedade conservadora, machista e patriarcal no Brasil. O caso em que a estudante Geisy Arruda foi hostilizada pelos colegas da faculdade, por usar um minivestido rosa, evidencia a potência da consciência coletiva, capaz de suscitar um consenso entre a maioria e a consequente reação de defesa de princípios, regras e comportamentos por ela fundamentada.


A preocupação em evitar o surgimento da anomia conferiu ao indivíduo um caráter espontâneo (já que a consciência coletiva está ligada à consciência individual), sendo seus próprios valores fabricados pelo pensamento da sociedade e, logo, suas reações também são comuns às atitudes dos demais. Quando imerso em um estado de anomia, o indivíduo tenta agir de modo cujas ações sejam um mecanismo para defender a sociedade da desintegração social. O deplorável linchamento e consequente homicídio de Fabiane Maria de Jesus, após ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças, retrata a falta de confiança pública na efetividade de aparatos da segurança pública e a posterior busca pelo restabelecimento da normalidade por meio da justiça com as próprias mãos, em detrimento do uso da força policial estatal.


Logo, fica claro a importância da modificação da sociedade como forma de sobrevivência. A ascensão de movimentos que reprovam as condutas de determinadas instituições e confundem valores tradicionais com valores atuais (em concordância com o cenário contemporâneo) mostra a deficiência da atual ordem social. Dessa forma, cresce cada vez mais a desarmonia e a desesperança em se alcançar a integração necessária para o progresso social, político e econômico do país, já que a insatisfação popular com a eficiência de órgãos públicos acaba levando à violência e à prática de diversos tipos de crimes, além da inserção no cotidiano de aspectos negativos como intolerância, ódio e injustiça.


Caroline Garrido Portella / 1°ano Direito Noturno / RA: 241224391

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