domingo, 7 de maio de 2023

 O Capitalismo e suas várias roupagens: a modernidade e o mundo do trabalho


O século XIX foi marcado por diversas mudanças sociais e políticas ao redor do mundo, uma nova classe social surgia: a burguesia e com ela outras formas de exploração da classe trabalhadora. Nesse contexto conturbado, Karl Marx e Engels tentam olhar para essa sociedade por uma nova óptica, a materialista. Segundo essa lógica, o mundo material influencia a mentalidade dos indivíduos, ou seja, as circunstâncias concretas e materiais atuam como principal meio de explicação da sociedade vigente e dos fenômenos sociais. 

Apesar de serem filósofos de dois séculos atrás, o pensamento de Engels e Marx perpetua até os dias atuais. Nesse sentido, o sociólogo Richard Sennett escreve um texto chamado “deriva”, que por meio da história de “Rico”, faz uma analogia com a sociedade capitalista. A história se trata da vida de um pai e seu filho que passam toda a vida trabalhando para ascender socialmente, além disso, o texto mostra as inseguranças e implicações que Rico passa no mundo do trabalho e que apesar de estar em uma condição de vida melhor que a do pai, ainda vive em função de seu trabalho.

Tendo em vista esse contexto, é necessário fazer uma análise mais profunda da sociedade atual e das dinâmicas de produção. Segundo o filósofo Zygmunt Bauman em seu livro “amor líquido”, na atualidade as relações sociais são guiadas por uma lógica de consumo, pois em um mundo volátil, no qual há rápidas mudanças a todo momento, é impossível que essa “liquidez” não tenha consequência nas relações sociais. Deste modo, o filósofo explica que por meio das tecnologias e plataformas de comunicação, as pessoas encontram um perfil na internet que as interessem e rapidamente surge uma nova amizade, depois se algo nessa relação não agradar mais, com um clique é possível desfazer essa conexão e ir em busca de outras. Essa lógica também é observada na vida de Rico, pois por não ter um emprego fixo, ele sempre precisa se mudar em busca de novas oportunidades e, assim, acaba não possuindo relações de amizade longas e duradouras e sua vida social é submetida à lógica de trabalho. Desta forma, apesar de as plataformas de comunicação serem muito recentes, esse fenômeno se relaciona analogamente ao pensamento de Marx e Engels, já que eles dizem que o modo de produção vigente define as relações sociais do indivíduo e o seu modo de vida.

Além disso, é preciso analisar a questão da precarização do trabalho no mundo atual. Com o advento das tecnologias de informação, as redes de serviço se adequaram a essa modernização, utilizando plataformas digitais para intermediar e facilitar a relação com os clientes. Nesse sentido, surgiram aplicativos como Uber, iFood e Rappi que apesar de simplificar as relações entre trabalhador e cliente, acarretam em péssimas consequências sociais. Esses aplicativos seguem uma retórica diferente do que era visto até então, eles adotam um discurso que o entregador ou motorista não se enquadra como funcionário e sim como colaborador autônomo, desta maneira, essas empresas digitais não tem praticamente nenhuma obrigação trabalhista com o trabalhador e, assim, ele é privado de muitos direitos. Além disso, muitas dessas plataformas pedem para os usuários avaliarem o serviço do motorista, fazendo com que os que forem pior avaliados recebam poucas propostas para entregas, diminuindo seu salário. Nesse sentido, pode-se afirmar que essa realidade é análoga a de “Rico”, pois por não ter um trabalho fixo, ele está em um estado constante de insegurança, sendo um dos principais dilemas de sua vida. Desta forma, é evidente que apesar de estarmos em um mundo diferente, as inseguranças e a precarização do trabalho permanecem em todas as épocas das sociedades capitalistas.

Conclui-se, portanto, a atualidade do discurso de Marx e Engels, pois eles discutem a fundo a lógica do modo de produção capitalista e inovam a maneira de pensar a sociedade usando a dialética materialista. Assim, por meio de uma história tão simples como a escrita por Sennett, é possível identificar os pontos mais profundos da sociedade em que estamos inseridos.


Gabriela Cristina de Freitas Abreu

Primeiro ano de Direito Noturno

RA: 231220278


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