sábado, 6 de maio de 2023

Liberdade manipulada: as estruturas de dominação capitalistas

 

                Analisando, a partir de uma perspectiva aprofundada e contemporânea, a célebre expressão imperativa “Proletários de todos os países, uni-vos”, resumidora das propostas sociais apresentadas por Marx e Engels em seu “Manifesto Comunista”, percebe-se que a mesma não se trata somente de um apelo para que as massas trabalhadoras se engajem em busca da promoção de uma sociedade mais justa, mas parte da percepção de que essa mobilização perpassa um elemento fundamental e caro à realidade hodierna: a conscientização da população quanto a sua condição de dominada, em meio ao controle da vida social pelas classes dominantes. Tal dominação, na visão marxista, se expressa através da imposição, pelas classes sociais no centro do poder, de modelos de conduta e ideais que se generalizam na sociedade e induzem a uma falsa percepção de autonomia do indivíduo na escolha de seus próprios valores e representações. Desse modo, para a análise dessa conjuntura de controle social, se faz pertinente ponderar os elementos que constituem as suas raízes socioeconômicas e o modo como ela se manifesta na realidade contemporânea.

                É válido demonstrar, inicialmente, como a dominação das massas se relaciona diretamente às relações de produção na sociedade. Nesse sentido, Marx estabelece como fundamento básico e central para a percepção dos elementos que caracterizam um corpo social, as condições materiais de sua existência, no sentido de que o modo como os indivíduos se relacionam economicamente, de modo a suprir as suas necessidades materiais, é determinante para definição de sua conduta e de seus valores. Sob essa perspectiva, tal concepção materialista pode ser usada para compreender como se estabelecem as relações de poder na sociedade atual, uma vez que o capitalismo, como principal modelo econômico vigente, estrutura o corpo social a partir de uma lógica socioeconômica intensamente desigual, determinando os grupos sociais que ocuparão as posições centrais de prestígio na sociedade, os quais imporão os seus interesses sobre os demais. Por sua vez, as instituições estatais, como representações do poder das elites, atuam de modo a institucionalizar tais interesse, contribuindo não só para a generalização das visões de mundo da burguesia, ao que Marx denomina “ideologia”, como também para a manutenção dessa conjuntura de dominação e exploração.

                Ademais, convém evidenciar como no contexto atual se manifesta tal estrutura de dominação. Nessa perspectiva, tomando por base as relações laborais hodiernas, o mercado se impõe cada vez mais como uma força imperativa que molda o modo como o trabalho se estabelece e, logo, acaba influenciando em todos os aspectos da vida social. Essa influência do mercado no âmbito das esferas coletivas e particulares fica clara no livro “A Corrosão do Caráter”, do sociólogo Richard Sennett, no qual o autor discorre, através da análise de casos concretos, a maneira como o caráter dinâmico e fugaz do capitalismo contemporâneo resulta não só em uma completa inseguridade social, devido à rapidez como as demandas do mercado se estabelecem e influenciam na garantia do emprego, como também fomenta a liquidez das relações sociais, a partir do apagamento do sentimento coletivo, em prol da produtividade econômica individual. Os atuais níveis de desemprego, pessoas em trabalhos informais, pobreza e casos de ansiedade e depressão são exemplos que evidenciam essa dominância do mercado sobre as relações socioeconômicas.

                Em suma, as atuais estruturas de controle e determinação se estabelecem a partir da influência das relações de produção sobre a conjuntura social e produzem reflexos ainda no contexto contemporâneo. Observa-se, logo, como os sentidos que se inserem na expressão de Marx e Engels inicialmente citada se constituem importantes preceitos atemporais, visto que se associam diretamente a essa realidade, atentando para a necessidade contínua de emancipação das massas populares em meio à hegemonia das classes dominantes.

Eduardo Garcia da Silva

RA: 231220324

1º Ano – Direito Noturno

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