domingo, 2 de abril de 2023

O mito da Ordem e do Progresso

O lema “Ordem e Progresso”, presente na histórica bandeira brasileira, representa um ideal positivista propagado pelos militares que proclamaram a República. Para eles, que exerceram os primeiros mandatos executivos do novo regime político instaurado, a monarquia representava um regresso para a sociedade brasileira, tendo em vista que tal regime não era mais vigente na maioria das outras civilizações. Contudo, eles acreditavam, de acordo com o positivismo, que o passado histórico foi necessário para que a sociedade pudesse progredir. Logo, a escravidão, o genocídio indígena e a agressiva miscigenação foram banalizadas para justificar a construção de uma civilização que segue uma ordem para o progresso.

Além dessa corrente sociológica prejudicar uma reparação histórica essencial para a desconstrução das mazelas que corroem o tecido social, ela forma uma ativa moral universal que prescreve a cada agente, individual e coletivo, regras de condutas que regeriam a harmonia. Isso também é prejudicial para os cidadãos, pois aqueles que não seguirem a norma serão classificados como “os causadores da desordem” e “os anormais”. Assim, tornam-se alvos a serem eliminados em prol daqueles que buscam o progresso. Essa dinâmica foi vista no holocausto provocado por Hitler, que definia grupos sociais (judeus, homossexuais etc) que representavam o retrocesso da nação, a qual deveria ser formada apenas pelos “homens de sangue bom”. Infelizmente, ideias positivistas ainda podem ser vistas em alguns pensamentos conservadores brasileiros, como a frase “bandido bom é bandido morto”. Tal frase demonstra o desejo de “manter a ordem social”, eliminando aquilo que a desconfiguraria. Repara-se que não há uma interpretação da realidade social como desigual. Então, preside também o desejo de manter uma estrutura desigual, violenta e estigmatizada que mantém os mais pobres como refém de um sistema que os excluem. Assim, percebe-se que “a ordem” a ser mantida pelo positivismo é uma ordem que respeita apenas interesses elitistas.

Embora o positivismo não exista, atualmente, como força sistemática como foi durante a Segunda Guerra Mundial, ainda há ideias que têm como falso pressuposto a superioridade de algumas pessoas em detrimento de outras, teórica do positivismo. Isso pode ser observado ao se analisar o agente universal que vocaliza conhecimento. A grade curricular do ensino da História, os físicos e biólogos estudados no fundamental, as perspectivas sociológicas são, majoritariamente, compostas por um viés masculino e branco. Isso não acontece porque as civilizações não europeias não possuem o seu próprio desenvolvimento ou porque não existam mulheres e pretos nos estudos das diferentes ciências, mas acontece porque tais vozes foram silenciadas, esquecidas e invisibilizadas durante anos pela justificativa de que elas eram inferiores. Tal territorialização do poder, que define quem é o mais apto para produzir o conhecimento, ainda está presente nas relações sociais contemporâneas e exclui vozes potentes que, na margem, buscam alcançar o centro. Por isso, faz-se tão importante que as mais diferentes perspectivas que residem no tecido social ecoem sobre o conhecimento e sobre a sociedade: para que o mito positivista de superioridade não exerça, nunca mais, influência social.

Aluno: Giulia Lopes Batista Pinto

Direito - matutino

RA: 231224702

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