segunda-feira, 10 de abril de 2023

Durkheim e o Preconceito Coletivo

 

Émile Durkheim, sociólogo francês do século XIX, defendeu em sua tese que a sociedade, através das relações sociais, exerce uma coerção moral e ideológica na formação do indivíduo. Essa força, logo, existiria em um plano além do pessoal e comum à maioria, delimitando as nossas noções de certo e errado, coibindo anomalias e estabelecendo assim uma noção de ordem social.  Durkheim utilizou-se do termo “consciência coletiva” para nomear esse fator comum à média que ordena os indivíduos, estabelecendo assim um conceito que elucida uma série de situações em que, através desses fatores comunitários e confinatórios, os seres humanos ainda agem de maneira primitiva e preconceituosa.

Como explicado antes, a consciência coletiva pavimenta a personalidade do indivíduo, porém isso não significa que ela seja única e atemporal. Ao analisarmos as opiniões e valores cultivados por, exemplificando, homens ocidentais brancos, idosos e heterossexuais, veremos que apesar de cultuados como os mais “corretos” de sua época, carregam conceitos ultrapassados e monofocais, frutos de uma visão de mundo dominante e opressora. Na atualidade percebemos claramente que os princípios regentes da humanidade são diversos e se encontram em constante transformação, porém, grupos sociais com pouca diversidade cultual e contato com classes sociais distintas tardam a acompanhar essa mudança.

Em seu livro “Memória da plantação”, a escritora Grada Kilomba descreve episódios de racismo sofrido por ela na Universidade de Berlim, na Alemanha. Buscando realizar seu projeto de doutorado, a intelectual enfrentou uma série de complicações, entraves e até desmotivações verbais pelo fato de ser uma mulher negra. Sendo assim, podemos observar que os funcionários e envolvidos compartilhavam uma mesma consciência de que o espaço universitário, ocupado majoritariamente por pessoas brancas desde sua fundação, não comportaria/seria afetado negativamente pela presença de uma pessoa de outra raça, um pensamento fundamentalmente e desveladamente racista.

Nesse sentido, a perspectiva de Durkheim nos ajuda a compreender que grande parte dos problemas e discriminações que ocorrem na sociedade nem sempre são inerentes ao indivíduo, mas sim à uma mentalidade comunitária arcaica que prospera nos mais diversos âmbitos. Para tanto, a diversificação social e étnica se faz importante para, além de enriquecer culturalmente os espaços segregados, também promover uma discussão multifocal acerca dos padrões e valores adotados pelas comunidades ao longo do tempo e, com isso, promover o desenvolvimento e a união humana.  

Bruno Vieira Salles

RA: 231224885

1° Ano

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