sábado, 25 de março de 2023

 

O Individualismo e a Imaginação Sociológica nas sociedades contemporâneas


Nas sociedades contemporâneas, onde o capitalismo se encontra como sistema hegemônico, é notável a grande valorização do indivíduo, perceptível tanto dentro do imaginário das pessoas quanto em ações de massas. Tal noção de individualidade se vê em prova quando comparada ao cenário globalizado em que vivemos, onde um único indivíduo é insignificante comparado ao jogo de interesses de escala global, no qual a perspectiva do lucro se sobrepõe às necessidades individuais.


Assim nasce uma necessidade latente de se diferenciar de seus semelhantes, de forma a se afirmar como pessoa única e indispensável. Surgem então diversas formas de se pensar a realidade que buscam essa individualidade, e dentre estas uma em específico se mostra danosa a sociedade: me refiro aqueles cidadãos que, na ânsia de tornarem visíveis, escolhem se revoltar contra o coletivo em favor de si mesmos, tornando seus princípios verdades incontestáveis e atacando qualquer um que se oponha a eles, na justificativa de estarem lutando pelo 'bem maior'. Nas concepções de Wright Mills, tais homens se veem “limitados pelas órbitas em que vivem” e diante das mudanças de sua sociedade adquirem a “sensação de estarem encurralados” pela realidade que os rodeia. 


A exemplo de como tal individualismo exacerbado pode causar transtornos ao coletivo, podemos recordar o início da pandemia do Covid-19, quando uma parcela da população, incluindo presidentes e líderes globais, se mostrou contra as recomendações de órgãos da saúde e cientistas. Em uma realidade onde conhecimento é poder, negar a autoridade de tais entes é se colocar em posição acima dos outros, como um detentor da verdade, ainda que as hipóteses que se defenda se sustentem em puro senso comum e achismo. Essas pessoas negam o cânone da ciência, concebido por pensadores como Descartes e Bacon, colocando suas superstições e opiniões acima da razão e dos métodos que deveriam nortear o conhecimento.


Voltando a Wills, é possível afirmar que ocorre uma deformação da imaginação sociológica por parte desses grupos. Sua percepção do ‘eu’ no mundo é fortemente influenciada pelo subjetivo de suas vivências, de forma a desconsiderar o coletivo. Ao buscar se destacar enquanto indivíduo, se elimina o contexto global, onde suas ações têm consequências que reverberam na sociedade, principalmente quando se considera a grande facilidade de se espalhar opiniões como fatos que existe atualmente, muito graças às redes sociais. Voltando ao exemplo da pandemia, a grande disseminação de fake news a respeito da doença, realizada por alguns indivíduos, afetou o coletivo na medida em que dificultou a prevenção do contágio; ao afirmar, por exemplo, que o uso de máscaras fere a liberdade individual, se desconsidera o fato de que tal ação serve para proteger o coletivo. 


Desta forma, a concepção de individualismo que temos atualmente se choca com a realidade globalizada, onde ações tomadas tendo em vista o bem estar próprio afetam direta ou indiretamente o coletivo em que se vive. Ao ignorar o contexto maior em favor de suas próprias vivências, há um risco grande de se interpretar incorretamente a realidade, o que leva a injustiças e arbitrariedades em todos os aspectos da vida em sociedade.



Ana Paula de Souza


RA: 231221029


1º Direito matutino


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