segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

Para Marx e Engels, o materialismo histórico dialético parte de uma análise do contexto histórico do fato analisado. Podemos fazer uma comparação com o Direito, pois este se aplica na sociedade e como tal, contém uma história que o molda. O método de análise dos filósofos, parte do pressuposto da observação da realidade, o que realmente é e não como deveria ser. Esta forma é alterada durante o percurso do tempo e pode adquirir muitas faces. Atualmente, da forma como é, o Direito ligado ao Estado está fundamentado no capitalismo.

Materialismo Histórico-Dialético

 

Contrariamente ao idealismo, surgiu o movimento materialista. Apesar de ser mal interpretado, Karl Marx criou o materialismo histórico, amparado por Friedrich Engels. Suas concepções possuíam uma visão material das coisas no mundo, essa visão tem o fito de buscar uma interpretação sólida sobre as relações, trabalho e bens em todo o período da história.

Um outro ponto sobre o materialismo histórico é o de que todas as relações sociais são relações de produção, pois o sujeito está condicionado a sua condição material, assim como todas as suas relações. Diferenciando classes e suas vidas devido à materialidade.

 Marx diz que a história se transforma a partir da dialética, a qual é a contradição existente entre a classe dominante e a dominada. A dialética também possui a tese (afirmação), antítese (ideia contrária), e a síntese (resultado da contradição entre a síntese e a antítese).

Materialismo Histórico-Dialético

 

O materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, surgiu como uma crítica à dialética Hegeliana. A filosofia de Hegel é chamada de idealismo dialético, e ele faz parte de um grupo de filósofos conhecidos como os idealistas alemães. A dialética hegeliana costuma se apresentar em três etapas: uma tese que provoca uma reação; uma antítese que contradiz ou nega a tese; e uma síntese que resolve a tensão entre os dois e toma para si elementos de ambos.

A crítica de Marx a Hegel afirma que a dialética de Hegel é falha porque lida com ideias, focando-se apenas em conceitos. Marx, por outro lado, argumentou que a dialética deveria se concentrar no "mundo material", ou no mundo da produção e outras atividades econômicas, em vez do mundo mental das ideias. Essa foi uma mudança significativa, pois permitiu que a dialética da formação da filosofia fosse aplicada para o estudo das interações sociais baseadas no “mundo material”.

A teoria histórica de Marx baseia-se em um aspecto fundamental da existência humana: a necessidade de trabalhar para manter nossa sobrevivência física. Como resultado, o trabalho humano serve como base materialista para a sociedade e é central para a explicação histórica de Marx. Assim, há uma condição imposta pela natureza para a existência humana, que obriga os humanos a se unirem socialmente para produzir seus meios de subsistência ao longo da história, em todas as sociedades e modos de produção, desde os primeiros caçadores-coletores paleolíticos até as sociedades feudais e modernas economias capitalistas.


Epifanias do ressignificar

 

Certa vez, não inesperada ocasião

Um operador retirou suas luvas,

Rasgou o avental e limpou as suas mãos

Encarou a esteira à sua frente

Deparou-se com os olhares curiosos.

Encontrava-se inquieto

Nunca antes havia sido interpretado.

 

Em direção à porta, ele despediu-se.

Ao lado do instante do adeus, ficaram para trás

A sua depressão, as engrenagens,

Suas relações de produção,

As noites exaustivas após o expediente,

Seus turnos de dezesseis horas,

Sua segurança e, com ela,

O seu título de legítimo cidadão.

 

Eles disseram que ele teria o seu nicho

Eles asseguraram que seria feliz e digno

Eles afirmaram... enfim.

Hipóteses já não mais possuíam importância.

Ele ousou almejar existir como o planejado

Em troca, recebeu o extremo contrário:

Inadequação com o sistema.

 

Ideias e anseios quase o arruinaram.

Contudo, isso não mais aconteceria

Ele, ao ultrapassar a última porta,

Após ter sentido a densidade da poluição,

Tendo enxergado o vermelho acinzentado do anoitecer,

Tendo escutado os rumores do início da vida noturna,

Sentiu os sussurros do vento chamarem-no.

 

Lembrou-se das suas inclinações anteriores

Ouviu o seu eu do passado sedento por luz.

No âmago do recordar, buscou uma memória.

Queria ser escritor.

 

Antes que o seu gerente, irremediável e ranzinza,

O pegasse e o sufocasse por ter paralisado a Mecânica

Ele subiu em sua bicicleta, encarou o horizonte e

Partiu em direção à casa de sua mãe.

Naquele dia, pela primeira vez, apresentaria uma novidade:

Ele seria feliz. 

 Tituba não seria bruxa em um outro contexto histórico-dialético 

O livro "Eu, Tituba, bruxa negra de Salém", de Maryse Condé, conta a história de Tituba, uma mulher preta de Barbados que foi escravizada no contexto do colonialismo e, também, foi uma das mulheres condenadas por "bruxaria" em Salém no século XVII. Pode- se analisar tal situação a partir do método materialista histórico dialético, que foi desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels. 

Este método foi constrúido com a função de analisar a sociedade de maneira científica, com base na realidade. Ao contrário de Hegel, que entendia que a explicação do mundo estava na projeção das idéias, e esta influenciaria o "real", Marx e Engels entendiam que são justamente as bases materiais que influenciam tal projeção. A partir disso, pode-se entender de maneira mais profunda a situação que Tituba estava inserida: essa mulher estava incluída em um contexto que a religião cristã, aliada ao racismo religioso, predominava a materialidade daquela época e, assim, a projeção de idéias desses indivíduos. Dessa forma, caso Tituba estivesse inserida em uma situação não cristã e racista, seu desfecho provavelmente seria outro, como a não acusação de bruxaria (talvez nem mesmo existissem as chamadas bruxas em outra situação política-social-histórica), já que "as coisas não surgem do nada e nossas escolhas não são somente nossas, nem livres, mas existem (e inexistem) dentro de um contexto." (FERNANDES, Sabrina. 2020, p. 67)

Por fim, a concepção materialista da história na dialética de Marx e Engels entende que as representações, como arte, cultura e religião, não possuem total autonomia, mas vinculam-se à base material, isto é, a atividade material e ao comércio dos homens. No caso de Tituba, as relações de produção estavam pautadas no mercantilismo colonial, que necessitava do comércio escravista e do apoio católico, assim, verifica-se que de fato a representação da religião, que a entendia como bruxa, estava intrinsicamente ligada às condições materiais de produção. 

Bárbara Canavês Domingos 

Direito Noturno 








Realidades distintas e a concepção materialista

A nova rede social do momento é o tiktok, uma plataforma de vídeos curtos de diversos conteúdos, de educativos a comédia, porém um nicho que vem ganhando espaço e força é o do “get ready with me” na qual a tradução é “arrume-se comigo”, que consiste em uma pessoa escolhendo roupa e acessórios para sair. A princípio parece algo inofensivo, todavia os maiores produtores de conteúdo dessa temática são pessoas com grande poder aquisitivo, que exibem seus looks realmente de milhões, com bolsas, sapatos e diversos outros itens de grife que possuem um valor irreal para a grande maioria dos brasileiros.

É nessas circunstâncias que nós - meros mortais - nos deparamos com uma realidade utópica, onde há pessoas reais que gastam valores prescindíveis em roupas (que são maiores do que pagamos nossos carros e casas). Consequentemente, nos espantamos e deslumbramos sobre esse cenário ficcional, que por muitas vezes nem imaginamos que poderia realmente existir, entretanto esse impacto que temos ao se deparar com esses contexto é normal e natural, pois a diferença é realmente exorbitante. 

Podemos explicar a diferença de realidades através da concepção materialista da história, no qual é abordado pela perspectiva de Marx e Engels, dois sociológicos que conceituam a sociedade a partir do materialismo histórico, ou seja o modo que a economia está organizada irá estabelecer todas as demais relações, portanto as relações sociais são também relações de produção, já que todas relações possuem um viés econômico, determinando as pessoas, locais que elas vão frequentar, visão de mundo e no caso, como e quanto gastaram para se vestir. 

Podemos notar também que toda sociedade é marcada pelo campo econômico que é a maneira que a sociedade produz  e pelo campo ideológico, que se sustenta pela forma que a sociedade pensa, consequentemente um determina o outro, pois a maneira que a sociedade pensa e se organiza é um reflexo da economia individualista. 

Ou seja, quem possui uma realidade de gastar milhões com roupas e acessórios vive basicamente em outra realidade se comparado aos que não podem, pois possuem acesso a locais, pessoas e eventos que nós não teremos. Fazendo-se assim, uma segregação praticamente automática apenas usando como base o material que a pessoa utiliza, que no caso abordado aqui são as roupas, mas há de se existir muitos outros! 


 Marx e a Sociologia Alemã 

Considerada utópica, a sociologia alemã não traz ideias reais de mudança apenas observações rasas, movidas a pura e simples especulações, essa sociologia não tem a pretensão de analisar a sociedade com um olhar voltado para as bases da sociedade, mas sim observar aquilo que for mais fácil e raso de se presumir, sem motivações ligadas à transformação.

Marx, com suas ideias busca trazer dinâmica à sociologia, enxergando o problema pelas suas raízes, dando aos que compõem a classe operaria toda o reconhecimento da capacidade intrínseca a eles.

Marx enxerga a sociedade como algo em constante movimento, reconhecendo que o homem constrói sim sua realidade, mas utilizando apenas daquilo que a ele é disponibilizado, sendo o homem fruto daquela realidade que a ele é imposta, seus pensamentos, sua consciência, frutos do meio material em que aquele está inserido.

Seu método busca a compreensão da realidade, diferentemente de um socialismo com características utópicas, sua proposta traz a busca pela transformação dessa sociedade, levando em consideração as condições materiais de cada indivíduo, reconhecendo nas relações de produção a maneira com que os indivíduos constroem sua identidade.

O problema da visão idealista

      O materialismo de Marx e Engels é baseado no rompimento de tradições idealistas, para que se compreenda o mundo que vivemos, é afirmado que é necessário a análise concreta e com muito afinco das transformações históricas na sociedade, ademais, essa análise deve ser feita a partir da realidade verdadeira, e não por idealizações e utopias. Vale ressaltar também que a crítica as teorias de Hegel eram constantes, uma vez que  a prática revolucionária e as lutas comunistas estavam em ascensão, e suas ideias de sociedade civil eram distintas.

    Assim, Marx e Engels criaram a teoria que reconhecia a realidade burguesa e tentava a partir dela gerar uma solução, visto que a comunidade era representada pelo burguesia, onde os interesses individuais eram colocados a frente, excluindo o interesse coletivo. Esse contexto pode ser facilmente ser relacionado à sociedade contemporânea, dado que as críticas marxistas oferecem a ideia de que não existe uma "sociedade perfeita", e isso se comprova quando as leis não são de fato efetivas, quando não promovem a igualdade entre classes.

    Dessa forma, entende-se que quando se rompe com as teorias idealistas, a partir da visão de Marx e Engels, se tem uma visão muito mais concreta e válida, pois a sociedade esta diretamente ligada com a desigualdade social, e é preciso encarar esse problema com uma visão realista, para que assim haja uma mudança social que de fato seja válida, como é pregado por Marx quando se trata do materialismo histórico dialético.

Isis Lara Bento Schiavom - 1º ano, Direito Noturno.

    

Prosa de bêbados

 Dois bêbados andavam madrugada afora, rindo alto e tropeçando nos próprios pés. Debatiam um assunto que apenas seus neurônios quase mortos pelo álcool poderiam raciocinar, misturando política e religião, proclamando lamúrias e bradando besteiras. 

"Valdo, 'cê não vai acreditar. Sabia que o nome que eu queria colocar no meu filho é o nome de um demônio? Eu também não! Só fui descobrir quando minha velha me pôs pra fora de casa..."

"Beto, tu é muito pirado, cara, como é que tu não sabia dessas paradas?"

"Oxe, como é que eu ia saber? Não pesquisei nem o significado do meu nome, vou pesquisar o de uma cria que nem nasceu, humph. Ei, mas depois que eu dei um Google, fiquei ligado, os demônios têm até castas, uma hierarquia só deles, acredita? E o nome que eu queria é o de um dos mais fortes deles, não sei do que minha mulher tava reclamando."

"Caraca, maluco, mesmo quando tu faz cagada tu faz ela certo. Ou, parando pra pensar, os demônios têm aqueles lances de contrato também, né? Tava fechando um contrato com a imobiliária, mas aqueles salafrários são tudo bandido ladrão... OPA" Valdo enroscou seu sapato numa quina na calçada e quase caiu, se apoiando no amigo e quase derrubando ele também. 

"HAHAHA, seu besta, presta atenção! Mano, é só falar dessas coisas de capitalismo que já dá tudo errado, tô te falando."

"Meu chapa, não é que tu tá certo? Falar de Inferno e capitalismo é a mesma coisa. E se para pra pensar ainda, Jesus dava pão e peixe igual pra todo mundo, né não?"

"Pois então! Não tem prova maior sabe do quê? Que o Céu é comunista!"

"É o que, doido?"

"O Céu é comunista, lá todo mundo ganha igual todo mundo, nunca ouvi falar que existe alguém mais merecedor que outro por lá. E o Inferno é capitalista, porque lá nois sofre que nem aqui. Pior, talvez"

"E não é que faz sentido? E ainda tem aqueles bagulhos de materialismo histórico e luta de classes, se não tivesse classe entre os anjos, titio Lúcifer não sentiria inveja e não cairia do Céu! Tu é um gênio!"

De repente, um homem de um prédio ao lado abre a janela e grita "calem a boca, seus vagabundos!"

"Cala você, Luci!

Os dois começam a rachar o bico como duas hienas fumantes. 

"Se o velho lá é o Lúcifer, você é o Valdo Marx."

"E você é o Beto Engels!"

Um silêncio se instaurou entre os dois depois de rirem mais um pouco, enquanto caminhavam lentamente para suas casas. 

"Valdo, será que no Céu tem pão?"

FIM


Micaela Herreira - 1o ano Direito - noturno 

 Depois do Marxismo 

O comunismo é a herança de Carl Marx para nós? Certamente não é, o artifício mais incrível que nos foi deixado, é o método. Muito utilizado nas ciências humanas, pode ser abstraído para além delas, mas, os equívocos causados - ainda hoje - sobre esse assunto, são muitos, usar o método para analisar e desvendar o mundo não é sinônimo de ser um comunista. 

Desse modo, podemos dizer que esse método se encaixa com a realidade, pois, a sua principal atividade é transformar. Terra-céu e não o contrário, nesse método não enxerga baseado nas ideias, na verdade, ele inicia-se no concreto e tem seu fim nas ideias, isso significa dizer que os homens são quem são, graças a relação que eles possuem com os meios materiais, nesse modo de pensar, o ser humano difere-se dos outros animais, por produzir bens-materiais, criamos ferramentas, e atribuímos valor e sentimento a elas, o convívio com diferentes produtos, produzem diferentes seres humanos.

Evidentemente que existe um enorme preconceito ao método marxista, antes mesmo de estudar o que é e o seu funcionamento, o senso comum o julga pela epistemologia do nome, veja bem, um exemplo de como os indivíduos - em geral - possuem visões positivistas e superficiais, enquanto nem mesmo conhecem o materialismo-histórico e como sua utilização pode ser útil. O tempo histórico não é uma linha continua, e a evolução humana também não, mas, se a genética e a biologia não seguem uma reta cronológica, por que perguntamos a qualquer criança ou jovem para nos explicar a história dos homens e ele descreve o macaco - primeiramente - então, surge algo mais ereto, os pelos diminuem, posteriormente, esse ser torna-se cada vez mais ereto, com pelos faciais apenas, e poucos pelos no restante do corpo, o cabelo cada vez mais curto e a pele cada vez mais clara, a linha do tempo do progresso humano, engendrada no imaginário de todos, mas, o método marxista, assim como o verdadeiro estudo genético evidência uma teia de relações, a evolução da espécie humana - por exemplo - envolve diversas outras espécies e ancestrais comum, que se sucedem ao longo de milhares de anos, é um uma história vertical ao invéz de horizontal, no mesmo sentudo, uma revolução não ocorre somente porque indivíduos foram abençoados com a dádiva do pensamento transgressivo, na verdade, uma revolução envolve episódios de insatisfação, conflito entre classes, relação do indivíduo, com os produtos, o acesso aos meio de produção e ao bens materiais, mudam o curso do pensamento humano, como se fossem uma mutação biológica, ideias como o uso e desuso, não satisfazem mais as explicações que são buscadas.



    



O discurso das elites


A teoria de Marx e Engels vem para romper com toda a construção da filosofia  até então feita, eles criticam fortemente esse idealismo filosófico dos pensadores anteriores a eles, como Hegel e Kant, e passam a querer que a filosofia passe por uma mudança com o Materialismo Histórico e Dialético, na qual ela parasse de estudar o mundo idealizado de uma sociedade e passasse a estudar a vida real, a realidade alemã vivida por eles e que essa filosofia fosse a filosofia da realidade social de sua época. Junto com isso, Marx e Engels trazem a visão da burguesia que contém o monopólio dos meios de produção e assim, segundo a lógica de superestrutura e infraestrutura, controlam a economia e a ideologia presente na sociedade.

 Assim podemos interpretar a nossa sociedade atual, que com base nos paradigmas impostos pela sociedade burguesa são passados até mesmo para os proletariados, como acontece dos proletários e trabalhadores de baixa renda que defendem as reformas neoliberais, que apoiaram a nova CLT e que apoiam até os dias atuais o governo Bolsonaro. Desse modo, Roberto DaMatta escreve no seu livro “A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil” cita que no Brasil existe um discurso próprio do cidadão de bem, cristão e brasileiro  que consegue misturar dois discursos que não se misturam, a igualdade formal presente na Constituição, que não condiz nem um pouco com a realidade, e a nossa sociedade hierarquizada do jeito que é, mantendo a hierarquia com base no discurso da igualdade, que, dessa maneira, dita as estruturas do Brasil sendo esse o discurso das elites que influenciam a opinião pública e muitos dos discursos da população.



Gabriel Goes Rosella

1 ano de Direito Noturno 

A psicologia marxista

Quem é o dono do pedaço em se tratando de psicologia? 

Freud?!

Não, depende da sua abordagem. 

A psicologia sócio-histórica, ou histórica-cultural, é a psicologia de teor marxista. Criada por Vigotski, bebe da fonte do grande pai Marx. Para ela, o fenômeno psicológico surge da interação do homem e das relações sociais. 

O foco principal está em perceber o indivíduo diante de sua história e do papel que cumpre socialmente. Portanto, como forma de superar a tendência de análise dentro da psicoterapia, que é a preocupação com o meio externo e sua influência, a psicologia marxista inova em observar o contrário, sendo assim, como o indivíduo transforma o meio em que está inserido.

A adequação do marxismo em todos os campos da ciência é muito apropriado e ocorre com louvor. Como seria um Direito marxista?



Existe liberdade quando estamos submetidos ao Capitalismo?

            É comum ver aqueles que repudiam com tanta veemência as linhas ideológicas Marxistas usarem a bandeira da liberdade como argumento. Afinal, qual liberdade, de fato, existe dentro de sociedades submetidas ao Capitalismo, defendida por esses?

            Primeiramente, ao pensar em nossas relações sociais, pode-se ver a influência do sistema capitalista na construção dessas. Tratando de tais relações aqui, pensa-se principalmente nas relações pessoais, como aquelas com nossas famílias, amigos e amores, e quão influenciadas são pelo sistema em que vivemos. Os filhos, como tal, por muito tempo foram vistos como a criação de mais mão de obra e, consequentemente, mais colaboração para a renda familiar. Talvez, ao analisar nossas relações afetivas fora da família, nos deparemos com a oculta necessidade de ter pessoas com poderes aquisitivos similares e com a dificuldade de ter relações fora desse padrão. Afinal, realmente escolhemos nossos círculos sociais?

            Ademais, as liberdades tão gritadas por aqueles que se dizem apoiadores do Capitalismo comumente se relacionam com a liberdade de ir e vir, de ter acesso a produtos e tecnologias que esses veem como fundamentais. Porém, ao analisar o cenário brasileiro atual, por exemplo, qual é a validade existente em ver que um seleto grupo tem a suposta liberdade de viajar, adquirir itens com preços exorbitantes – e utilidades ínfimas –, enquanto a grande maioria da população sequer tem o capital necessário para se deslocar até seus locais de trabalho e manter uma rotina alimentar? A liberdade que tanto se preza é, na realidade, o privilégio de uma pequena quantidade de pessoas frente à miséria da esmagadora maioria.

            Por fim, para Marx, as relações sociais eram delineadas pelas relações de produção e isso é visto, até hoje, no mais simples cotidiano. Para além, até mesmo a mídia e a cultura de massa dentro do Capitalismo criam uma supressão da liberdade, a de pensamento nesse caso. Entende-se, assim, que enquanto estivermos subjugados ao Capitalismo, não haverá uma relação de pessoas livres ou não, mas tão somente a relação entre privilegiados e explorados, que, com forças extremamente limitadas, tentam se ver minimamente livre das tantas manobras que fazem perpetuar o Capitalismo.


Patrícia André - Direito - 1° ano, noturno 

We don't talk about Marx

   Qual relação poderia haver entre um sociólogo e um personagem de animações para a família? Ambos são mal interpretados dentro da realidade em que estão inseridos. Em Encanto, filme da Disney, somos apresentados a uma família não tradicional da América latina que possui dons sobrenaturais, onde cada membro possui sua função e o que é esperado de cada um deles e dessa forma, excluem dois participantes da família, Bruno e Mirabel, onde o primeiro não pode sequer ser mencionado por conta de superstições que afirmam que ele "traz azar". 

     Ainda que seja uma animação com um intuito familiar, Bruno pode ser muito bem substituido pelo sociólogo Karl Marx no contexto atual em que o Brasil está, uma vez que através de falsas informações, falar do mesmo se torna um ato de revolução nas raras as vezes em que o que se é dito possui verdade. O sociólogo possui teorias que criticam o modo de vida capitalista e exemplifica formas que o sistema utiliza de até mesmo alienar os indivíduos, apontando as falhas e um modo de solucionar tais problemas, porém, como forma de embate ao pensamento do mesmo, uma onda de notícias falsas foi estabelecida e uma ideia errada, no Brasil, de que o "comunismo", é o mal propagado dentro do país, mesmo que nunca tenha realmente estabelecido tal regime. 

     No decorrer da obra cinematográfica, percebemos uma reviravolta em que, na verdade, o personagem Bruno, não possuía o poder de trazer mau agouro e muito menos era o vilão como muito traduzido por outros, mas é demonstrado que na verdade, tudo não passou de um mal entendido, uma vez que seu poder era prever o que de fato iria acontecer. Parafraseando novamente com a realidade, é perceptível que Marx busca, muito contrário ao que pensam, trazer uma visão do futuro, um futuro onde as lutas de classe trouxeram a evolução necessária para sanar a desigualdade e a alienação que é proposta pelo capitalismo, pois, assim como a família mencionada no filme, o país vive um momento de cegueira onde não podemos ver além daquilo que estamos fazendo, além daquilo que somos programados para conseguir ver. Para o sociólogo, devemos utilizar da história da humanidade, a história da luta de classes e nos orientar a respeito da realidade, e não de idealizações. 

     Visto isso, tem-se a conclusão de que devemos falar sobre Karl Marx e "devemos falar sobre Bruno", pois eles são aqueles que se propõem a discutir o que é de fora da realidade em que vivem, trazendo a tona os reais problemas e dificuldades, sendo em animações ou no contexto socioeconômico mundial.


Maria Cecília da Silva Mateus, 1° direito noturno

Materialismo histórico de Marx

O materialismo histórico é uma teoria marxista que defende a ideia de que a evolução e a organização da sociedade ocorrem de acordo com a sua capacidade de produção e com suas relações sociais de produtividade ao longo da história. Essa concepção que é fundamentada tanto por Karl Marx quanto por Friedrich Engels, tem um conceito bem diferente dos conceitos iluministas, pois segundo ela, as alterações sociais que acontecem ao longo da história não estão baseadas em ideias, mas sim em valores materiais e em condições econômicas.


Giovanna Cayres 

Direito noturno 

Um objetivo novo

            Diferente das correntes sociológicas da época, Marx Weber compreendeu que para o funcionamento de uma sociedade, não era primordial a necessidade de uma estrutura que impusesse uma função social, mas sim, vontades individuais que geram a demanda de uma ação, a qual consequentemente leva a um equilíbrio social.

           Ao enfatizar o indivíduo, torna-se nítido que o estudo das ciências sociais daquele tempo possuía a utilidade de transformação social, vinculando-se com as políticas dirigentes da época, fato que está em desacordo com a concepção de Weber, ao passo que, em sua visão, a análise social deve visar apenas o entendimento de uma sociedade

          Portanto, esse liame serve de pretexto para uma parcialidade nas conclusões e nos estudos, influenciando políticas públicas afim de satisfazer interesses particulares que se beneficiam dos estudos sociais, perdendo-se, então, a originalidade e a essência desses últimos. 



Ana Júlia Rodrigues Aguiar, 1° Direito Noturno. 


Uma análise da realidade sob a percepção de Marx, Engels e referências artísticas.

“Subiu a construção como se fosse máquina 
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas 
Tijolo com tijolo num desenho mágico 
Seus olhos embotados de cimento e lágrima” 


Não há trecho melhor para iniciar qualquer discussão sobre Karl Marx e Engels do que essa estrofe da música “Construção” de Chico Buarque. Tal trecho mostra a exploração do trabalhador, que trabalhava como se fosse máquina, de modo desumano. A mesma situação é apontada por Marx, uma vez que o sociólogo aponta que o trabalho na sociedade capitalista é caracterizado pelo desprazer, pelo seu carater exploratório e pela alienação, sempre visando o lucro das classes dominantes, de forma que o proletariado vende sua força de trabalho, a qual é responsável por tudo que é produzido e não chega nem perto de receber a quantidade equivalente de rendimentos, ou seja, é aplicado o conceito de mais-valia de Marx, que representa a diferença entre o salário que é pago e o valor que é produzido pelo trabalho. Em vista dos aspectos apresentados, faz- se necessário a análise de um dos trechos de “Tempo Perdido”, canção escrita por Renato Russo. 

 

"Todos os dias quando acordo  

Não tenho mais 
O tempo que passou” 


O trecho nos leva a uma dura reflexão, afinal, quando somos os proletariados, para termos as condições materiais e assim garantir nossa sobrevivência, vendemos mais que nossa força de trabalho, vendemos também nosso tempo, nossa saúde e nossa integridade. Em poucas palavras, vendemos recursos finitos em que seu esgotamento significa o fim da vida para termos direito a uma vida digna, irônico, não é? Tal reflexão se torna ainda mais árdua quando pensamos em pessoas que trabalham mais que o necessário a fim de colecionar bens materiais e assim ter a concepção de “vida ganha”. Por fim, caro leitor, te deixo os seguintes questionamentos: Quanto vale uma hora do seu tempo? Caso a morte te concedesse uma última hora de vida antes do fim, quanto você pagaria por uma hora do seu tempo? Vale a pena perder a vida tentando “ganha-la”? 

A ideia de “ganhar” a vida está atrelada a ideia de possuir uma série de aquisições materiais, possuir um carro do ano, celular da moda, vestir aquilo que é socialmente aceito, utilizar diversas coisas não por gosto ou preferência, mas sim para manter o status, não apenas para a manutenção do ego, mas também, porque as pessoas te tratam de acordo com o que você possui e não o que você de fato é. Tal fenômeno é explicado por Marx e Engels através do capitalismo, para eles as relações socias são seriamente comprometidas pelo sistema capitalista e as pessoas enxergam as outras como objeto ou mercadoria. Essa realidade é retratada no poema de Carlos Drummond de Andrade “Eu, Etiqueta “, nessa obra o eu-lírico retrata que está o tempo todo estampando marcas e logotipos de coisas que ele nem conhece, servindo de vitrine, de anúncio ambulante e que mesmo estando na moda, isso lhe causa agonia, uma vez que se sente como quem perdeu sua individualidade e está exatamente como os outros, já deixou de ser um homem, agora se tornou uma “coisa”. 


“Em minha calça está grudado um nome 
que não é meu de batismo ou de cartório, 
um nome... estranho. 

(….........) 

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, 
minha gravata e cinto e escova e pente, 
meu copo, minha xícara, 
minha toalha de banho e sabonete, 
meu isso, meu aquilo, 
desde a cabeça ao bico dos sapatos, 
são mensagens, 
letras falantes, 
gritos visuais, 

É duro andar na moda, ainda que a moda 
seja negar minha identidade 

(….........) 

Por me ostentar assim, tão orgulhoso 
de ser não eu, mas artigo industrial, 
peço que meu nome retifiquem. 
Já não me convém o título de homem. 
Meu nome novo é coisa. 
Eu sou a coisa, coisamente.” 


Em relação ao verbo “coisificar”, faz-se indispensável discutir também sobre a “coisificação” do trabalhador, uma vez que no livro “O capital”, Marx afirma que no capitalismo, os bens materiais passam a ser fetichizados e vangloriados,conforme já vimos acima, entretanto, o proletariado, por sua vez, perde seu valor de ser humano e passa a ser visto apenas como mero instrumento de trabalho para gerar lucro, sendo, então, “coisificado”. Peguemos, como exemplo, outro trecho da música “Construção”, mas, dessa vez o trecho final da história retratada: 


“E tropeçou no céu como se fosse um bêbado 
E flutuou no ar como se fosse um pássaro 
E se acabou no chão feito um pacote flácido 
Agonizou no meio do passeio público 
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego” 


Infelizmente, esse trecho retrata o quão desprezível se tornou a vida do trabalhador, o quão banal foi considerado a situação, o evento não choca, não causa preocupação tão pouco comoção. O trabalhador é considerado como um objeto, como uma coisa que pode ser facilmente substituída por outra que irá desempenhar a mesma função, a única preocupação aparente é com tráfego que está sendo atrapalhado graças ao corpo, já sem vida, do trabalhador que está na contramão. Dessa forma, é possível perceber da forma mais dolorosa possível a “coisificação” do trabalhador e a insensibilidade das pessoas umas com as outras. Tal insensibilidade está presente principalmente na burguesia quando é para com as classes que não são dominantes, conforme de denuncia Cazuza em sua canção “Burguesia”: 


“A burguesia não repara na dor 
Da vendedora de chicletes 
A burguesia só olha pra si 
A burguesia só olha pra si” 


Por fim, Marx e Engels afirmam que o Estado, apesar da visão da sociedade de que ele serve para garantir o bem comum, a democracia, a garantia dos direitos fundamentais e o interesse público acima do privado, atua para manter a sociedade capitalista e os respectivos interesses de quem detêm os meios de produção. Desse modo, a perspectiva de que o Estado é uma representação “universal” do interesse coletivo não passa de uma ilusão. O mesmo ocorre com o Direito, Marx quebra a visão idealista sobre o Direito e afirma que o Direito não provém da concepção do que é mais justo e sim da necessidade das relações capitalistas, por exemplo, o escravagismo é considerado inaceitável para a lei, mas, a exploração do trabalhador desde de que exposta em contratos é aceitável, legal e justa. 


“A Justiça não é cega, ela escolhe um lado que quer ver. Ela está quase sempre a serviço do Estado, dos interesses dos detentores de capital e de poder.  “(CARNEIRA, 2017) 


Anny Barbosa-1º semestre de Direito Noturno.