segunda-feira, 16 de maio de 2022

Émile Durkheim: pontos positivos e negativos

    O sociólogo Émile Durkheim foi o responsável por trazer, de fato, a sociologia para o ensino superior e áreas acadêmicas no geral. Para ele, a sociedade é como um corpo biológico, pois todas as suas partes, no caso indivíduos, devem interagir entre si para que o organismo funcione em equilíbrio. Apesar de trazer avanços na metodologia do estudo científico com suas análises, alguns pontos levantados pelo sociólogo são alvos de críticas, como a influência do positivismo em suas ideias.

    Em primeiro lugar, é certo afirmar que o funcionalismo concede uma insignificância às pessoas. De acordo com ele, o objeto de estudo da sociedade são os fatos sociais, que definiu como "coisas" coercitivas, gerais e externas ao indivíduo: coercitivas pois caso não sejam incorporadas, promovem algum tipo de punição ao indivíduo (por exemplo o ato de comer de boca fechada); gerais pois se aplicam a todos, sem exceção; e externos pois independem das ações individuais. Nesse sentido, quando se analisa a argumentação, percebe-se que ela condiz com a realidade, de fato, alguns costumes, por exemplo, se encaixam como fatos sociais, contudo, desconsiderar a individualidade das pessoas pode em muitos casos ser algo negativo à sociedade, minorias que enfrentam padrões já preestabelecidos podem sofrer com isso, por exemplo. 

    Além disso, vale ressaltar que não se pode negar a influência do positivismo no pensamento de Durkheim. Da mesma forma de Auguste Comte, o sociólogo defende a criação de uma ciência neutra, ou seja, sem a manifestação de influências no estudo para se chegar a um determinado resultado, além de defender o mesmo método de estudo das ciências da natureza para as ciências sociais, sendo mais exato e menos interpretativo. Assim, percebe-se que, do mesmo modo que o positivismo, Durkheim desconsidera a impossibilidade da neutralidade no ensino e propagação do conhecimento, ainda mais nas humanidades, também impedindo a propagação do senso crítico e debate sobre certos assuntos.  

    Portanto, quando se trata de reconhecer os feitos de grandes figuras, como Durkheim, é essencial que se perceba tanto os pontos positivos quanto os negativos. Obviamente que a discussão em si já é enriquecedora, possuindo ela pontos considerados prejudiciais ou não, no entanto, não se deve deixar de julgá-los, mesmo que quem os pronuncie possua uma grande autoridade em sua área.

    Fernando Alee Suaiden, 1° Semestre de Direito, turma matutina.

As funções de Durkheim

      O Funcionalismo é uma visão de mundo que utiliza da metodologia do "dever ser", ou seja, como tal coisa deve ser na sociedade. Para isso, a sociedade organiza-se em uma célula em que cada indivíduo exerce uma função específica, contribuindo, assim, para o todo. Com o sucesso dessa organização, a sociedade estaria saudável, funcionando corretamente, com deveres e direitos civis estabelecidos, assim como as funções de cada coisa ou pessoa.

    Dessa maneira, Durkheim baseia-se nessa ideologia para afirmar que, no quesito científico, tudo estaria relacionado a tal questão de direitos e deveres, fugindo dos pensamentos metafísicos e pautando-se na metodologia do "dever ser". Dessa forma, ele estabelece o conceito de "expectativa social", a qual seria, por sua vez, o cumprimento das funções e das leis. Consequentemente, para ele, o coletivo é superior ao individual, culminando na noção de solidariedade (quando o ser nega a si mesmo em detrimento da coerção social), a qual pode ser mecânica (feita automaticamente pela sociedade) ou orgânica (de modo social, necessita de interdependências)

    Outrossim, o filósofo propõe a noção de fatos sociais: esses valores que vão além do indivíduo em si e servem para todos a fim de manter a coerção social. Tais fatos podem ser: normal, quando a expectativa social é cumprida corretamente, ou patológico, quando a sociedade é desestruturada, contestando a lógica dessa. É importante frisar que o fato social deve ser analisado de forma imparcial e considerando o contexto da época, ou seja, ele tem característica histórica. 

    Por fim, conclui-se que a ideologia exposta por Durkheim é de extrema importância, sendo extremamente necessária a fim de estudar toda e qualquer sociedade em seu espaço-tempo, buscando encontrar as funções sociais de cada grupo da época e como esses relacionavam-se diante de cada situação. Entretanto, os conceitos estabelecidos pelo filósofo recebem alguma críticas acerca do conservadorismo implícito neles, visto que eles não pretendem mudar as funções sociais, mas sim reafirmá-las e garantir as infraestruturas que nelas baseiam-se. 

    Desse modo, conclui-se que, no século XXI, talvez esse raciocínio não seja o melhor caminho para se pensar. É fato que ele auxilia muito quando se trata de aprender sobre as sociedades, como já citado anteriormente, mas não significa que ele é completamente correto e deve ser seguido à risca, uma vez que a sociedade é dinâmica e, portanto, muda constantemente, o que dificulta na manutenção das mesmas funções sociais para os mesmos grupos populacionais. 

    Laura Picazio, 1º Semestre de Direito, turma matutina. 

Harmonia como regra

Em uma perspectiva que recai sobre considerar a verdadeira essência das coisas que cercam o indivíduo no meio social, o ideário durkheimiano é formado. Em meio aos preceitos que o indivíduo é constantemente influenciado diretamente e indiretamente por uma vontade coletiva, que busca manter os costumes consolidados como parte da moralidade, contribuindo, assim, para que ocorra a mimetização dos valores individuais, a ideia de fato social entra em voga, uma vez que exerce sobre o indivíduo uma coerção exterior, a qual é representada por uma violência simbólica, ou seja, não existe uma coação física, mas sim danos psicológicos. É importante ressaltar que, embora seja um conceito estabelecido por Durkheim, tal ideia não é atípica da realidade, haja vista que tal fator é algo recorrente do contexto social. 

Sob essa ótica, o método para Durkheim passa a ser a busca por uma pesquisa de campo, o qual acredita que somente assim será possível entender a realidade da sociedade de forma verdadeira, uma vez que busca uma explicação interna para entender os fatos externos. A coerção se torna evidente quando os indivíduos resistem às normas sociais como um casamento além do padrão heterossexual, educação baseada em alguns preceitos conservadores e cristão são relegados a um segundo plano socialmente. Tal ideia contrapõe a reprodução de um modelo coletivo, em que há uma acomodação às regras e que convencem os indivíduos de um senso de pertencimento e escolha. Assim, ocorre uma imposição de visões e comportamentos os quais não se chegariam espontaneamente, havendo, assim, uma negação de si em nome da coesão. 

Outrossim, cabe ressaltar que o funcionalismo na teoria de Durkheim, está intimamente ligado à ideia de interdependência das partes, ou seja, para um bom funcionamento do organismo vivo, é preciso que todas as partes funcionem perfeitamente, ou seja, deve haver uma correspondência entre as partes, para a manutenção do fato social. A divisão do trabalho é um exemplo dessa regra, haja vista que há um comportamento coletivo para a manutenção de uma vida digna, em que os indivíduos, muitas vezes, são submetidos a situações precárias, entretanto, são dependentes de tal situação, neste caso, a empregatícia. Nessa perspectiva, observa-se a atuação do fato social no estabelecimento da harmonia social. 

Ademais, para Durkheim a explicação do fato social não deve estar ligada exclusivamente à satisfação das necessidades sociais imediatas, mas sim a uma explicação mais interna  que explique a causa eficiente dos fatos, ou seja, uma ideia maior de eficiência que estabelece a harmonia e a coesão. Em um exemplo concreto, o crime e a punição não parte do princípio que afeta apenas o envolvido, mas sim o coletivo, haja vista que a punidade do crime ressoa como uma vitória para o homem honesto, em virtude do papel da correção e do cumprimento das normas.

Fica claro, portanto, que a ideia de subordinação aos costumes e regras impostas exclui a individualidade e os reais desejos dos indivíduos. A consciência coletiva influencia apenas como uma base para a manutenção da harmonia das partes do corpo social e não necessariamente está vinculada a realização das vontades. Nesse sentido, somente o afastamento do meio social pode fazer com que os indivíduos encontrem sua essência, entretanto, a participação da vida em sociedade é algo intrínseco ao ser humano, cabendo então, sua promoção individualmente como meio para o enfraquecimento dos fatos sociais que imperam na realidade. Desse modo será possível a criação de uma sociedade verdadeiramente humanizada que valorize as percepções e vivências dos indivíduos.


Natália Lima da Silva  

1º semestre Direito matutino 

Turma XXXIX


"sic mundus creatus est"

    No seriado alemão “Dark”, somos apresentados à uma trama paradoxal e, sob uma primeira análise, contraditória. Ao envolver viagens no tempo e conceitos de Física, o roteiro nos mostra não só como o passado influencia o futuro, mas como o futuro pode influenciar o passado, revelando um perturbador cenário da existência humana em que todos estão presos em um ciclo infinito de uma tortuosa existência. Por mais que tal obra pareça uma mera distopia, podemos analisar que o cenário educacional brasileiro está preso em um ciclo que tende a se repetir eternamente por conta da desinformação do pensamento ultraconservador.

    Primeiramente, vale introduzir um conceito sociológico de Émile Durkheim. De acordo com o pensador francês, há um tipo de análise de mundo e das relações humanas supérflua e potencialmente – como no caso que busco analisar – perigosa: a análise ideológica, que define-se como um estudo dos fatos sociais impregnado de viés ideológico, isto é, que parte de uma ideia já concebida para a posterior averiguação de um evento. Pois bem, tal forma de se pensar está enraizada naqueles que defendem pautas como “escola sem partido” e que se dizem contra a “doutrinação” presente no ensino brasileiro. Afirmo isso pois, os adeptos de tal tese já possuem em si uma visão conservadora que considera o estudo de questões sociais pertinentes como mera “balbúrdia”. Acreditar nisso não somente é um desrespeito com a busca por um ensino de qualidade, como também enquadra-se, muitas vezes, como um atentado à liberdade de expressão do professor.

    Parto então para o ponto principal do meu raciocínio. De que modo isso seria responsável por prender o cenário educacional brasileiro em um ciclo infinito de falhas? Novamente sob o pensamento de Durkheim, a ignorância generalizada poderia ser responsável por uma coerção social, visto que a sociedade seria como um organismo vivo que exerce influência sobre tudo e todos, havendo pouco – ou nenhum – espaço para a individualidade. Portanto, nota-se que um pensamento perigoso poderia influenciar outras pessoas a virarem adeptas de tal postura. Por conseguinte, a luta por esse ensino incompleto defendido teria maior força, podendo de fato influenciar mudanças na grade curricular escolar. Logo, ao criarmos um ambiente de estudo onde inexiste o pensamento crítico, estaríamos fadados a criar pessoas com o mesmo pensamento, que no caso seria um enraizado com ideais conservadores que menospreza o estudo de matérias como a Sociologia e a Filosofia. Em suma, a análise ideológica leva à má formação escolar, que novamente levaria à indivíduos adeptos da análise ideológica, e assim por diante.

    É com pesar que concluo que, assim como os personagens do seriado “Dark”, o povo brasileiro está preso em um ciclo de ignorância. Por sorte, diferentemente da obra citada, podemos romper essa angústia incentivando uma educação com um olhar crítico e respeitando certas temáticas como sendo necessárias. Ou então, poderemos apoiar a tese de que ciências sociais não passam de balbúrdia e desrespeitam os bons costumes. Nesse caso, infelizmente, a vida imitará a arte.


Mateus G. F. de Souza

Direito - Turma XXXIX Matutino

CONSCIÊNCIA FUNCIONAL

 Chego a conclusão de minhas indagações

Após minuciosa análise ideológica

Discordo aqui das pré noções

Possuo outra metodologia sociológica:

 

Observação e compreensão do que é observado

Em razão da coerção sobre as pessoas,

Me refiro aos fatos sociais

Devem estes serem vistos como coisas

 

Critico também o “Pai da sociologia”

Mesmo em sua teoria, não era “tão positivista”

Este produzia ideologias

Percebo suas noções metafísicas logo à primeira vista

 

Ainda,

vejo a sociedade como fator-chave,

Consciência coletiva

Também me influencia para que minha cova, eu cave

 

Restabelecer a norma, a harmonia

Evitar o desequilíbrio e a anomia 

É o que visa a sanção,

Quanto mais presente, mais percebe-se a coerção

 

Vejo a educação como a forja do ser

O papel de incutir regras a serem naturalizadas

Formam assim o “modelo coletivo”

Reproduzido, traduz tais atitudes antes incorporadas

 

Práticas sociais surgem de “causas eficientes”

Estas explicam a utilidade do fato social 

Lembro-me de dividir facilmente

Entre fato social patológico ou normal


Por fim, resumo aqui o funcionalismo

Inter-relação dos fatos sociais,

Que juntos formam um organismo

Prazer, me chamo Durkheim