segunda-feira, 13 de junho de 2022

O camelô

Qualquer um que, nos últimos anos, tenha feito uso do transporte metropolitano da capital paulista com alguma regularidade certamente teve a oportunidade de observar o fenômeno dos vendedores ambulantes, ou ao menos aspirantes ao posto. Sim, há os camelôs, e há os aspirantes a camelôs, porque a Companhia Paulista de Transporte Metropolitano não permite o comércio ambulante no interior de seus trens e estações. Disso resulta que muitos que buscam afrontar a regra vendendo seus chocolates, chicletes, fones de ouvidos, pães de mel, entre tantas outras mercadorias, frequentemente perdem seus produtos para algum guarda da estação.

               Nestes breves parágrafos, olharemos para essa conjuntura sob a perspectiva do materialismo histórico de Marx e Engels. 

Primeiramente, há que se notar que somente optam pelo comércio ambulante como trabalho aqueles que se encontram em condição de marginalização abjeta. Então, lembra-se que são privados de sua fonte de renda porque a sua atividade laboral, embora perfeitamente insonte de geração de danos a outras pessoas, é banida naquele local. 

               Ora, pensemos agora na humanidade como esse ente em permanente processo de desenvolvimento, resultante não de vontades entendidas individualmente, mas de uma força histórica determinada pelas relações de produção. O que representam o camelô e o aspirante a camelô da Estação São Joaquim do Metrô em termos desse curso da humanidade? A que tipo de relação de produção eles estão sujeitos?

               A resposta a esta última pergunta é evidente: a nenhuma. Sim, a nenhuma. Esses sujeitos são colocados tão à parte da coletividade, da rede de relações fundadas no capital, que lhes é tirada até mesmo a possibilidade de estabelecer as relações de produção eivadas de exploração características de toda sociedade do capital. Isso não significa, é claro, que esses indigentes se veem livres da exploração: esta apenas deixa a esfera particular, de um empregado explorado por seu empregador, por exemplo, e entra na esfera mais ampla do particular que toda uma sociedade explora, no sentido de que ele somente se encontra em sua situação de patente precariedade por causa de todo um sistema que rege aquela sociedade, um sistema inelutavelmente vinculado à mais-valia e que portanto tem a exploração do trabalho em seu próprio cerne.

               O vendedor ambulante e aquele que tenta sê-lo na estação de metrô são apenas mais uns dos incontáveis “ninguéns”, dos incontáveis “nadas”, dos incontáveis ignorados desse sistema, condenados à sua situação em decorrência de uma série de privilégios que uns detêm mas que a eles, arbitrariamente, não couberam, e de ser o sistema em que se inserem tal que aquele que não encontra maneiras de explorar com maior eficiência as fraquezas de seus semelhantes a fim de atender aos próprios interesses é deixado para trás, a apenas olhar todos os que o passam e nunca o olham, porque para cada um nada importa além de si

 


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