segunda-feira, 13 de junho de 2022

 

Dificuldade da coragem

O despertar da vida é, por si só, um processo doloroso, pior do que isso é o despertar em uma sociedade mecânica, frívola e gélida como a nossa. Já diria Guimarães Rosa que o correr da vida embrulha tudo, porém, ouso dizer que o modelo em que vivemos hoje está além de um simples “correr”. Estamos sempre em uma maratona constante, competindo, seja uns com os outros ou de forma solitária. A necessidade de ser um alguém produtivo, a necessidade do “ter que ser”, a necessidade em poder dizer “desculpe, não tenho tempo”, com certeza é essa que embrulha tudo.

E seria poético pensar em uma vida embrulhada, não? E de fato é, ter a vida corrida e atarefada, em certas ocasiões, é um ato bonito. Mas acontece que nos perdemos e tornamos o poético uma rotina, característica que nos faz uma sociedade doentia. Compreender a finitude de uma existência e limitá-la à produzir capitais e bens materiais é reduzir o ser humano ao insignificante, ao código de barras e matéria – prima.

De fato, o modelo social hoje é esse: máquinas ambulantes! Todos correndo em uma vida embrulhada, alienados do que são, do que fazem e do que desejam. Sonham aquilo que lhes vendem, defendem aquilo que o patrão dita como certo e defendem a exploração que sofrem com posts escritos “amo minha empresa”, é mesmo um cenário perfeito criado pelo capitalismo. Sistema esse bem engendrado pelas massas dominantes para manipular as classes populares e enganar a classe média com a ideia esdrúxula de meritocracia. Triste em pensar e pior ainda vivenciar, ainda que a vida espere a coragem da nossa parte, é difícil ser ainda mais alegre nessa tristeza mecânica, Guimarães.

Julia Samartino, 1° Direito Matutino.

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