quinta-feira, 30 de junho de 2022

Ação social no contexto atual

 

Weber atribui o sentido de ação social como um tipo de conduta individual, que possui sentido tanto para o autor quanto para as pessoas afetadas por essa ação.

Dessa forma, Weber propõe um método mais individualista de análise social, ele parte do pressuposto que o indivíduo, com suas ideias próprias e moldadas pela cultura e pelo seu contexto histórico, modela a sociedade.

Quando nos deparamos com conversas realizadas pelo atual presidente da república, conseguimos ter maior entendimento do fenômeno entendido como ação social e qual sua finalidade numa sociedade, tomarei com exemplo uma conversa de Jair Bolsonaro com seus apoiadores no ano passado, em que o presidente diz: “O agro realmente não parou. Tem uns idiotas aí, o 'fique em casa'. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo”. O que podemos retirar como análise dessa ação, que foi a de proclamar deboche com as pessoas que foram contra os atos governamentais e ficaram isoladas em casa, é um apelo do presidente para que outros indivíduos que possuam os mesmos valores, aceitem esse discurso e formem o que é ditado por Weber por relação social. Essa classe de discurso, que busca ridicularizar os opositores, é muito comum em datas perto de eleições, visto que, reforçando seus valores culturais e ridicularizando adversário, as relações sociais ficam mais calorosas.

Grupos de pressão são parte fundamental para que essa categoria de relação seja feita, todo individuo realiza um ato considerando que outro grupo de pessoas irá aceitar e tomar como normal, dessa forma, o que possui por trás de um discurso degradante como esse, é todo um coletivo de apoiadores que recebem esse tipo de declaração como normal. Também, é imperioso notar o contexto cultural que cada ação carrega, faz muito sentido esse modelo de discurso no Brasil atualmente, pois é considerado um país majoritariamente conservador e capitalista, contudo, se trocarmos o contexto ou apenas colocarmos o mesmo discurso em outra época de um mesmo país, tal ação pode e provavelmente possuirá valor diferente.



Vinicius Alves do Nascimento - Direito Matutino 


a sociologia compreensiva de Max Weber

 
      Max Weber, um dos pais da sociologia, escreveu suas ideias sobre a compreensão da sociedade ao longo do século XIX com influências de Marx, Platão, Maquiavel, Kant, Nietzsche, entre outros. O intelectual, jurista e economista alemão entendia a sociologia como uma ciência da realidade que permitia se obter uma visão crítica em torno do mundo do indivíduo. Para ele, a sociologia é responsável por interpretar a ação social para, assim, poder explicar o comportamento dos indivíduos daquela sociedade. Por esse tipo de análise que sua teoria recebe o nome de sociologia compreensiva.

Com isso, a compreensão sociológica na realidade é uma interpretação hipotética que visa criar um caráter semelhante nas ciências humanas do que seriam as ciências nomológicas para o campo das ciências naturais, isto é, como não podemos realizar o mesmo tipo de entendimento científico que um biólogo realiza sobre um ser vivo (estudando-o a partir de regras que caracterizam o organismo), então, segundo Weber, um sociólogo deveria compreender o indivíduo com as interpretações hipotéticas de suas ações.

Para Weber, a interpretação do indivíduo dá-se pelo conjunto dos valores - carregados pelo mesmo que o levaram a realizar tal ação - e o sentido - motivo e lógica para a realização da ação. Ambas ações combinadas criam um caráter metodológico para as ciências sociais, validando-a como uma interpretação científica da sociedade. Com isso, depreende-se que a análise weberiana tem caráter individualista com enfoque central no indivíduo, sendo possível a criação do que seria descrito como tipos ideais - pessoas que apresentam valores e sentidos semelhantes na realização da ação social, como, por exemplo, o conjunto de características que definem um bolsonarista além do apoio político.

Vale-se ressaltar, por fim, que, a partir das informações supracitadas, a cultura compreende-se como um conjunto das ações sociais, ou seja, a similaridade de comportamentos e interações sociais de um grupo de indivíduos de determinada região em um determinado período histórico fazem o entendimento de uma cultura. Weber também compreende a cultura como uma maneira de dominação tal qual o direito, pois ambos são determinadores de condutas sociais ideais, perpetuando a mentalidade daquela sociedade.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

A abordagem da ação social por Weber

 

Uma das características mais marcantes do pensamento do alemão Max Weber é a sua abordagem do fato social, a que Weber atribuiu o nome de ação social. Ao contrário de Durkheim, ele defendia que o sujeito que analisa o fato social não procure distanciar-se dele, porque isso seria impossível, dada a carga de interesse que ele possui no fato – todos nós, por sermos membros da sociedade, por estarmos com ela envolvidos, somos, para Weber, incapazes de estudarmos os fatos sociais de forma distanciada. O método de análise que Weber defende é fundamentado no uso do que ele chama de tipos ideais, conjunto de ideais a respeito de um dado objeto estabelecidas de modo anterior a sua análise, ideias que se sabe não necessariamente corresponderem à realidade, mas que são extremamente úteis para chegar-se a ela.

É muito bem-vinda na atualidade essa concepção weberiana. Afinal, o tempo todo encontramos pessoas fazendo ou tentando fazer análises de toda sorte de acontecimentos. Tragicamente, elas parecem crer que suas análises são objetivas, distanciadas do objeto analisado, o que não poderia estar mais distante da realidade: cada vez mais, as alegações que fazemos são influenciadas e, pior, distorcidas por ideologias. A tendência é cada vez mais adotar a postura oposta à de Weber: utiliza-se preconceitos não para se chegar uma análise, mas para eles próprios serem a análise, e coloca-se sobre eles uma roupagem de análise objetiva e racional.

Além disso, Weber lembra que o indivíduo ocupa lugar central na análise, concepção que também permite um entendimento muito mais completo da realidade, qualquer que seja o fato social analisado, pois, afinal de contas, toda ação humana é levada a cabo por indivíduos. Certamente, o indivíduo pode ser influenciado em enorme grau pelas tendências de um grupo, mas este não existe por si só – ele nada mais é que um conjunto de indivíduos, de modo que, se uma parcela significativa deles opta por uma ação B em vez de uma ação A, a tendência do grupo que eles formam não é a mesma que seria caso optassem por A.

Evidentemente,  é de se lamentar que o pensador rejeite a pretensão de questionar com o intuito de modificar a realidade que se constata. “Uma ciência empírica não pode ensinar a ninguém o que deve fazer”. Ainda assim, as contribuições de Max Weber para todo o pensamento das Ciências Humanas são muito significativas – se é que tais palavras expressam de maneira satisfatória o tamanho de seu impacto – e por isso dignas de serem conhecidas e, uma vez conhecidas, questionadas, como devem ser todas as coisas.

Capitalismo e vontade individual para Weber

   Max Weber possui uma visão interessante a respeito da vontade do indivíduo. Diferente de Marx que acredita que o indivíduo é fruto do meio, Weber acredita que o indivíduo decide com base na sua racionalidade e seus princípios o que deverá seguir e defender. Com base nisso, surge o que ele chama de ação social, a qual é sempre determinada por uma mobilização de valores coletivos que seguem certos valores. Já que o indivíduo é capaz de construir sua própria mente, é inevitável que haja conflitos entre os grupos sociais, sendo assim necessário para ele o uso da legitimidade, que é a aceitação da dominação com bases racionais. Essa dominação pode vir das em algumas formas, sendo exemplos: dominação legal que se dá através dos meios legais, a dominação tradicional que se justifica pela tradição e a dominação carismática, que é exercida através de líderes carismáticos.
   Ademais, é importante ressaltar o papel do capitalismo para Weber. Novamente, diferentemente de Marx, esse pensador vê o capitalismo como uma coisa boa, sendo o modelo ideal para a geração de riqueza, da racionalização do trabalho e do progresso. Por fim, não é de se estranhar que Max apoiava-se na ética Protestante como base para seus estudos, principalmente o calvinismo. Segundo esta corrente, o homem de valor era aquele que trabalhava muito e não se entregava aos prazeres da vida, acumulando cada vez mais dinheiro, o que se diferencia da ética Católica que valoriza mais os bens da alma do que os bens materiais, inclusive valorizando a pobreza.

João Pedro Menon
1º Direito Matutino

Ação social e tipo ideal: a sociologia pouco compreendida de Weber

    A Sociologia para Max Weber, filósofo alemão, deveria ser uma ciência empírica, criticando o materialismo histórico, o qual afirmava, por sua vez, que a Sociologia deveria determinar as coisas, porém, para Weber, aquela deveria, apenas, explicá-las. Para tal, a ciência deveria entender o motivo de cada comportamento, formulando-se uma Sociologia "compreensiva", na qual o cientista deve compreender as situações a fim de explicá-las. Dessa forma, a Sociologia tem o real atributo de interpretar, de fato, as situações; e, quando essa interpretação é difícil, costuma-se julgar as ocorrências, ou seja, se alguém do ocidente for interpretar algum costume do oriente, provavelmente, aparecerá um momento de preconceito. 
    Consequentemente, para Weber, a Sociologia deveria interpretar o indivíduo sem juízo de valores. No entanto, por mais que se deve pensar a ação social do indivíduo - explicando o sentido dessa ação e o que faz com que a pessoa aja de tal forma - Weber não propõe uma ciência individualista. Dito isso, a ação social feita por cada indivíduo tem sempre efeito no outro, e, ao juntar mais de uma ação, forma-se a relação social. Ainda nesse assunto, a ação social é motivada historicamente e pode ser analisada pelo "tipo ideal", o qual é, no que lhe diz respeito, algo que não existe na realidade e não é o "dever ser", mas, sim, a racionalização de todas as possibilidades do real. Desse modo, pensa-se em um tipo ideal visando decifrar a ação social do indivíduo em determinado contexto.
    Por fim, pode-se afirmar que a Sociologia de Weber abrange, dentre seus pensamentos, a noção de ser "compreensiva" e de analisar a "ação social" do indivíduo por meio do "tipo ideal". Dessa maneira, Weber, muitas vezes, é pouco compreendido porque foge do padrão da época, inclusive, ao contrariar o materialismo histórico de Marx e Engels e ao afirmar que, além de que o capitalismo baseia-se na realidade, o poder vem de todos os lados, não só das classes sociais. Esta é uma parte da sociologia de Weber.

Laura Picazio - turma XXXIX de Direito - matutino

Relações legítimas entre dominador e dominado

       Para o sociólogo Max Weber, a dominação é resultado de uma relação social de poder desigual, em que há o lado que domina e o lado que é dominado. A relação de dominação ocorre quando indivíduos obedecem uma ordem vinda de parte da sociedade, seja de uma ou de mais pessoas. Em outras palavras, encontra-se a relação de dominação quando há indivíduos subordinados ao poder de outros. Diferentemente das relações de poder, as relações de dominação têm uma tendência de se estabilizarem, evitando conflitos. Na sociedade, essas relações buscam caminhos para se legitimarem, isto é, para serem reconhecidas e, assim, manterem a ordem social. Essas formas de dominação legítimas são três: a dominação racional/ legal, a dominação tradicional e a dominação carismática. Inicialmente, discute-se a dominação racional/ legal como uma relação burocrática - a própria burocracia estatal é representante dessa relação. Em segundo lugar, a dominação legítima tradicional, a qual é traduzida pela justificativa oral popular de "foi sempre assim"; em outras palavras, a dominação tradicional é aquela vinda de antepassados, de tradições. Por fim, a dominação carismática, muito relacionada a um magnetismo pessoal e a líderes populares, ela trás consigo a sensação heroica do dominador.

Mirella Bernardi Vechiato, 1º ano direito matutino

terça-feira, 28 de junho de 2022

ação social?

  Weber elabora uma teoria que consiste na sistematização de ações sociais, que seriam a "condução da vida". Desse modo, é preciso ressaltar que essa análise leva em consideração o impacto dos outros e das condições na nossa vida, não é possível analisar a realidade sem levar em conta o seu entorno.  Ademais, cabe citar que a observação do meio em que se está não deve ser limitada à hodiernidade, sendo preciso analisar o contexto histórico que determinou essa realidade, como os seus aspectos culturais. Logo, infere-se que as ações tomadas pelas pessoas são altamente influenciadas pelo seus valores, os quais foram modulados pela sociedade e suas realidades. 

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Weber e a análise social

   Quando se pensa na sociologia de Max Weber, considerado um dos pais fundadoras da teoria sociológica, vêm à mente o conceito de ação social, um dos pontos chave do desenvolvimento da sua teoria. A teoria de Weber é considerada compreensiva, pois estabelece a compreensão da realidade, os motivos das ações para conseguir estabelecer também os seus cursos e efeitos.  

  As ações sociais foram as relações dentro da sociedade, com o indivíduo sendo forma de participação ativa no âmbito geral. As ações, portanto, são o modo de condução da vida, é o que atribui sentido para atingir uma finalidade e possui dois tipos:  

  • -O tipo ideal: corresponde a algo que "deve ser", mas que não existe dentro da realidade. É a tentativa de organização do caos e da complexidade do real.  

  • -Verdade científica: advém da comparação entre os fatos e o tipo ideal.  

     Outros conceitos desenvolvidos por Weber são o de poder e dominação. O poder se desenvolve no âmbito da competição de vontades, na possibilidade de se impor a própria em uma relação social. A dominação, então, é a possibilidade de se decidir sobre a ação do outro, é a "probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo", e não se encontra somente na perspectiva de classe. Ser dominado implica na aceitação de um modo de condução de vida e se encontra pelo fio fino da legitimidade. 
   Finalmente, se percebe o papel do Direito como expressão da racionalização do poder e da dominação, que fornece condições para o capitalismo de se desenvolver. A racionalização da ciência e da técnica visando a produtividade, e o do Direito na previsibilidade da vida econômica. A forma do Direito na contemporaneidade representa o "tipo ideal" das condutas desejadas, é um contrato que prevê a ação no contexto das relações sociais, assume o papel de condutas expectáveis na realidade social.



Helena Motta

1 semestre Direito Noturno

Atuação do indivíduo civil inserido no capitalismo na ótica de Max Weber

  Na visão de Weber, a racionalidade se deriva da sociologia, e o significado de sociologia para o mesmo é, “uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”. Se faz necessário ressaltar que as ações sociais na ótica do pensador consiste na compreensão dos valores, os quais movem as comportamento dos indivíduos.

      Desenvolvendo melhor acerca da atuação do sujeito civil, Weber acredita que as ações sociais são uma interação entre indivíduos e o reflexo de seus próprios valores, os quais são expressados externamente a partir de determinada ação de outros, considerando e destacando o contexto histórico, social e cultural no qual se foi cometido a ação em questão.

       Ao contrário do que Marx defende, para Weber o poder emana de forma geral e de todos os lados, o capitalismo para ele é uma forma racionalização do trabalho para a geração de dinheiro e prosperidade, seu pensamento é fortemente influenciado pelo calvinismo, que seguia o raciocínio de quanto mais o sujeito trabalhar for afortunado por isso, este é um ser abençoado. 



Maria Eduarda da Cruz Cardoso 1º Direito - Matutino

RA: 221225609


domingo, 26 de junho de 2022

"A Concepção Weberiana de Economia e Sociedade"

    Segundo Max Weber, a função da sociologia é a de ser uma ciência de cunho interpretativo que, para ele, deve buscar compreender as chamadas ações sociais e buscar explicá-las, afirmando, ainda, que a sociedade seria o resultado das formas de relação entre os indivíduos que constituem essa sociedade, e, justamente, o indivíduo, logo, ocupa um lugar fundamental de destaque na perspectiva de Weber, mesmo em se falando do coletivo, o enfoque deve ser sempre no individual. 

    O conceito de "ação social", criado por Weber, significa um tipo de conduta do indivíduo que tem um sentido, tanto para ele próprio quanto para os outros que também são afetados. Esse conceito, também, pode ser definido como as manifestações de interação entre indivíduos, já que uma ação acontece somente quando indivíduos entram em contato uns com os outros. Considerando as particularidades de cada indivíduo, que é algo em que Weber acreditava, é possível afirmar que as ações sociais são, em sua visão, também, a ocorrência de interferências externas sobre como cada pessoa vive. Por essa complexidade no tecido de interações sociais, mostra ser de bom tom destacar que Weber deu um enfoque multicausal à análise dos fenômenos sociais, destacando fatores culturais e materiais presentes no surgimento das instituições da modernidade, além de analisar o processo de racionalização e desencantamento decorrentes do mundo que acompanham tais instituições, de modo a compreender a sociedade de uma forma mais abstrata e integrada às condições históricas, culturais e sociais. 

    O capitalismo, na visão weberiana, é um sistema que promove uma espécie de racionalização do trabalho e do dinheiro, sendo sustentado por uma prosperidade e por uma grande e crescente capacidade de se gerar dinheiro neste sistema, tal pensamento teve uma enorme influência do pensamento calvinista (pelo qual Max Weber sofreu forte influência) por conta principalmente da ideia de que a pessoa próspera e trabalhadora era uma pessoa abençoada, e quanto maior o seu sucesso financeiro/material, mais agraciado por Deus você será, e, na visão dos calvinistas o pecado era o ócio e a futilidade. Além da influência do calvinismo, Kant e o seu idealismo kantiano são, também, parte da influência que Weber teve em suas ideias e conceitos, especialmente na sua conceção de o que é o capitalismo, e, sob essa lupa kantiana na concepção de Weber, o sistema capitalista é enxergado como um ideal, com um espírito, e a partir disso, esse sistema seria construído de fato, na prática. 

    Com base em tudo que foi dito sobre Max Weber, suas influências e suas ideias, é possível afirmar, também, que a vida política e social na visão weberiana, tende a se balizar nas garantias oferecidas pela legitimidade legal, por meio do Direito, que seria uma ferramenta de consolidação da dominação do status quo, podendo ser visto, também, como uma forma de racionalização e confirmação do poder desse status quo dentro de um sistema capitalista legal e normatizado. Munido de todos esses conceitos que produziu, Weber produziu importantes obras sobre economia (como "A ética protestante e o espírito do capitalismo" e "Economia e sociedade", por exemplo), além de ter analisado a trajetória e o desenvolvimento de diversas economias de vários países do mundo. 


Otávio Aughusto de Andrade Oliveira - 1°Ano de Direito; Matutino

O Breve, mas essencial reconhecimento de Weber sobre a Moral

 Eric Voegelin, jurista europeu que trabalho diretamente com um dos maiores nomes do positivismo jurídico, Hans Kelsen, foi um grande filósofo que abalou muitos fundamentos da filosofia e das ciências sociais, especialmente da modernidade. 

Em sua obra A Nova Ciência da Política, de 1952, Voegelin aborda diversos aspectos do estudo político e dos desdobramentos dele na sociedade de sua época. Em uma de suas análises, o autor discorre sobre um dos grandes problemas que refletiram na decadência da ciência política, a formação da filosofia positivista e suas reverberações. Dentre um dos afetados, foram seus posteriores, como Max Weber. 

Grande defensor de uma ciência isenta de quaisquer valores que fossem, Weber teorizava acerca da influência dos citados para o saber científico e quão poder de ordem eles tinham sobre a política, no chamado demonismo da política ¹, em que os valores tinham significativa importância nas decisões dos políticos, determinando os resultados, este pensamento sendo denominado como sociologia compreensiva. Nesse sentido, Weber, embora estivesse ainda, de certa forma, alinhado a Comte, foi de encontro frontal à ideia positivista de desconsideração total do plano metafísico ou moral da pesquisa científica, contrariamente ao primeiro ideólogo, do qual afirmou a metafísica não possuir mais a força lógica necessária para mudar algo²

Enquanto se assemelha a algo ultrapassado, a saber a mínima atenção sobre a essencialidade do sistema moral para a vida de um meio social, o ponto tão aclamado pela autora deste artigo acerca da individualidade do ser prevalece como um degrau subido. A volta do crédito à parte valorativa do homem pela perspectiva weberiana levou a uma nova cosmovisão da alma do homem: aquela que tem poder de resistir a qualquer proposta quando há bons valores firmados no caráter - no caso, dos políticos- e que a moral possui sim um vigor que move toda a população rumo a um ideal. 

Em suma, esta breve análise de Max Weber pôde colaborar com a exaltação da unicidade de cada um, apesar do autor ter seguido mais pela linha do Positivismo que esta visão especial sobre os animais políticos, levando estes a um patamar de protagonista que só o homem pode experimentar dentre todos os seres vivos, sendo ele o de fazer suas escolhas, nem que elas sejam a de resistir a tudo que contraria o bom, belo e verdadeiro.Logo, se todos os cidadãos seguirem por esta receita e transformarem como enxergam a si mesmos- não como manipuláveis, mas como grandes responsáveis por si mesmos-, de fato a humanidade irá tender ao progresso, conforme Augusto Comte afirmou. 



¹ Voegelin, Eric. 1952. Pág 25
² Comte, Augusto.1844. Pág 66

Poder e Dominação

 Para Karl Marx, o poder vinha das classes sociais. Já para o intelectual Max Webber, o poder vinha de todos os lados. Mas então, o que é o poder?

Essa questão pode ser respondida como: é uma atividade de dominação. Ou até a "competição entre as vontades". E se ele está em tudo, como essa grande quantidade de poder não entra em conflito?

Webber dizia que essa atividade de dominação não é total, e sim uma probabilidade. Em outras palavras, o poder pode ser entendido como a chance de impor a própria vontade em uma relação social, mesmo com resistências. Dessa forma, ele está suspenso no fio da legitimidade, ou seja, na aceitação dessa dominação. 

Logo, confrontar o poder é não aceitar sua legitimidade, e isso pode ser feito quando essa dominação resulta da apropriação diferenciada de recursos escassos, gerando uma assimetria e instabilidade social. Assim, entende-se que nenhum poder é total, pois é uma probabilidade, e não uma efetividade permanente. 



Giovana Pevarello Parizzi
1° Direito - Matutino

Para toda ação, há uma intenção, com valores intrinsecamente impostos por instituições.

Em meio a busca de compreender a realidade, Weber, não exclui o que Marx até então havia interpretado, mas perpassa a ideia de observar o social apenas pelo meio econômico, haja vista que a ciência de Weber deveria ser capaz de "compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos", ou seja, entender os valores sociais, culturais e tradicionais que respondessem a ação dos indivíduos, em que o cientista social, estudioso dessa realidade, não deveria fazer juízo de valor diante das interpretações, mas sim compreender sem pressupostos o porquê da ação, principalmente, o significado daquilo que é motivo da aspiração, resultando, assim, em uma sociologia compreensiva. Diante dessa ideia o método por si não possui significado relevante quando dissociado da ação do indivíduo e de suas motivações que regem essa ação, tendo em vista que o indivíduo é a expressão social com suas complexidades e perspectivas distintas que mudam de acordo com o contexto social, em que perpetua e ratifica a ideia de que toda conduta é dotada de significados.

A busca pela compreensão está associada com as condutas expectáveis, uma vez que não se pode entender, de fato, o comportamento dos organismos vivos proposto por Durkheim, uma vez que é possível apenas explicá-los de acordo com regras causais, ou seja, aquilo que é entendido a partir da lógica dos sentidos e da consciência que tem para o agente o motivador da ação. O indivíduo dentro desse contexto possui um papel central, mesmo quando o coletivo já está formado, uma vez que é dotado de ações que já existem e buscam vigência, ou seja, se encontram na mente de pessoas reais. 

Nesse sentido, a ação sempre se orienta pela ação do outro, carregada de significados dentro de um contexto de relação social como em um almoço de família, aulas na faculdade e, também, no comportamento dentro de um local religioso. Logo, o real significado da ação advém de um processo histórico, ou seja, ganha intangibilidade no contexto de determinadas referências, principalmente, a cultural, a qual consegue moldar as ações dos indivíduos conforme seus preceitos. Segundo Max Weber, o conceito de cultura é um conceito de valor, uma vez que se manifesta e abrange componentes significativos da realidade os quais fazem sentido na consciência e na cosmovisão pessoal de cada indivíduo. Essa ideia está intrinsecamente ligada com a individualidade do indivíduo e o significado das conexões causais desempenhadas pela cultura, tendo em vista que as relações estabelecidas entre ambos possuem o valor que manifesta na realidade, haja vista que toda ação possui significados.

Outrossim, ainda é viável destacar a ideia de "tipo ideal" proposta por Weber, em que expõe pressupostos de como desenrolar uma ação humana baseada estritamente na realidade, a qual necessita suspender o juízo de valor, influenciado por erros e afetos, e conseguir organizar o caos e a complexidade do real. Diante dessas prerrogativas, transpondo para a contemporaneidade, casos de abuso como a da criança de 11 anos, em que a ação imediata de diversos indivíduos foi contradizer o aborto, é preciso ser analisado sem o juízo de valor, ou seja, entender os valores culturais, morais, econômicos e tradicionais que movem os indivíduos a julgarem tal caso, em outras palavras, Weber não está preocupado com o caso em si, mas sim com a ação do indivíduo que problematiza o caso, em seu comportamento e, também, em como esses valores e ideais da ação estão vinculados a determinadas instituições, que estabelecem, mesmo que indiretamente, uma hierarquia valorativa para a manutenção de ideias conservadoras, como no caso da religião e, essencialmente, um enquadramento da ação.

Ademais, o próprio mercado capitalismo e o Estado moderno centralizado, cria os indivíduos como eles são, ou seja, ideias e valores são perpetuados sem que o próprio indivíduo tenha ideia, o qual encontra uma obediência e uma ordem de determinado conteúdo. A dominação, entendida como um modo de condução da vida "vinda de fora", resulta em ações racionais direcionadas a fins e valores, e ações subjetivas afetivas e tradicionais, a qual consegue ser legitimada quando entendida como válida pelo indivíduo. O capitalismo, modelo de sistema vigente, não teria condições materiais de desenvolvimento se essa racionalização da ação fosse inexistente, tendo em vista que os moldes criados por ele estão sendo maximizados para a sua manutenção.

Fica claro, portanto, que o método de ciência proposto por Weber é de extrema relevância para a compreensão da atualidade, principalmente, mediante as inúmeras ações valorativas dos indivíduos, em que são carregadas por instituições que visam manter sua estrutura e, para isso, é preciso que haja dominação. Assim, a ideia proposta por Marx mostra-se relevante, entretanto, as ideias implementadas por Weber trazem à luz as reais motivações, não apenas materialistas, da ação individual. 


Natália Lima da Silva  

1º semestre Direito matutino 

Turma XXXIX

sábado, 25 de junho de 2022

Capitalismo Weberiano

 

Weber, ao contrário de Marx, encara o capitalismo de modo positivo, enquanto Marx via o capitalismo como um modelo de exploração do proletariado pela burguesia, Weber o vê como modelo ideal. Para este, o capitalismo provia a racionalização do trabalho e do dinheiro, garantindo a prosperidade, e capacidade de gerar cada vez mais dinheiro

Weber teve bastante influência do pensamento kantiano, que sustentava o idealismo. Kant acredita que o plano das ideias seria o mais puro e a priori. Baseado neste pensamento, Weber acreditava que o capitalismo era como um ideal, um espírito, e a partir disto esse sistema seria construído na prática.

Weber também utiliza o Protestantismo como base para seus estudos, principalmente o calvinismo. Segundo esta corrente, o homem de valor era aquele que trabalhava muito e não se entregava aos prazeres da vida, acumulando cada vez mais dinheiro. Logo, baseado neste pensamento, Weber analisa o desenvolvimento econômico das diferentes nações, e percebe que as protestantes se tornaram as maiores potências.


Bruno Issamu Ishioka

1° ano Direito - Matutino 

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Os movimentos sociais em uma perspectiva weberiana.

 Nas obras do poeta Allen Ginsberg, sobretudo durante os anos 60 nos Estados Unidos, bem como nas músicas de Bob Dylan e outros expoentes da época, é possível observar uma mudança de paradigma que marcou esses anos. 

Anteriormente, nos anos 50, a cultura era pautada por valores sobremaneira conservadores e tradicionais, como se vê no início da banda The Beatles, a qual originou-se com roupas sóbrias e clássicas, como ternos pretos, e, posteriormente, nos anos 60 e 70, começou a utilizar figurinos mais coloridos e repletos de elementos psicodélicos. 


O historiador Hugo von Hofmannsthal dizia: "Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura". Pode-se substituir, sem prejuízo do sentido que o autor quis transmitir, a palavra "literatura" por "cultura". Nesse sentido, em uma perspectiva de Max Weber, que apresenta a realidade social e ação social em uma maneira objetivamente científica, é possível perceber que os movimentos sociais que se tornaram efervescentes, principalmente na experiência estadunidense, durante os anos 60 e 70, se derivaram de um longo período de instauração cultural baseada em valores novos, contrários ao conservadorismo. Na época, essa tomada cultural foi chamada de "contracultura", justamente por ir contra a cultura vigente. 


Portanto, Max Weber revela que a ciência sociológica consegue transcorrer as experiências com um aparato científico e metodológico, como ele também mostrou em sua análise da economia americana em relação ao protestantismo. 


Cauan Eduardo Elias Schettini - Turma XXXIX - Direito matutino


Visão weberiana

 

Para Weber a sociologia é “Uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la em seu curso e seus efeitos”, bem como a compreensão dos valores movem a ação dos indivíduos. Desse modo o indivíduo ocupa lugar central na análise weberiana, em que a compreensão da sociologia deve levar em conta, que mesmo quando se trata de analisar entes coletivos o foco se mantém na ação dos indivíduos. Desse modo se difere de Durkheim, ao considerar que são às ações individuais que devem ser estudadas e não os fatos sociais reincidentes. Contudo a multiplicidade de conexões se funde resultando na cultura.

A ação social ou “condução da vida” deve ser sempre orientada em relação ao outro, desse modo a ação social relacionada ao outro faz com que se dê a relação social. A ação social é determinada por uma mobilização de valores, o que implica no fato de o “indivíduo decidir com sua própria consciência e cosmovisão pessoal”. Sendo assim a ação social representa a incidência de estímulos externos sobre o modo de conduzir a vida, surgindo assim um cenário de instabilidade permanente em que se faz importante a legitimidade que se caracteriza como a aceitação diante da dominação; a dominação pode se apresentar de modos distintos a exemplo da dominação legal que se dá através dos meios legais, a dominação tradicional que se justifica pela tradição e a dominação carismática que é exercida através de indivíduos carismáticos.

 Weber vê o capitalismo como ideal o qual promove a racionalização do trabalho e do dinheiro, sustentado pela prosperidade e capacidade de gerar dinheiro. A vida política e social tende a se equilibrar nas garantias oferecidas pela legitimidade, considerando que todos procuram despertar e cultivar a crença em sua legitimidade. Nesse sentido o direito é visto como expressão da racionalização do poder e da dominação.


Clara Letícia Zamparo 

Direito 1° ano - Matutino 

terça-feira, 21 de junho de 2022

Marx e Engels e as noções da Sociedade Civil

 Os jovens comunistas se reuniram  em Paris em 1844, Marx e Engels perceberam as conclusões teóricas que haviam  chegado com base na experiência da investigação filosófica e científica. Eles estavam determinados a agir como críticos dos jovens Hegelianos. Tal projeto, que revelaria um novo conceito de materialismo.

  Na obra de Marx e Engels o destaque é o método pelo qual as coisas são analisadas, somente com a compreensão adequada da realidade seria possível transformá-la, por isso os sociólogos discordam daquele idealismo dos Hegelianos.Desse modo, segundo Hegel a sociedade estaria em constante evolução ocasionadas pelas “leis históricas” que são determinadas pela cultura de cada povo, assim o direito serviria como uma forma de suprir as demandas de tal desenvolvimento, representando a superação das dificuldades, logo a lei variava em detrimento das vontades particulares.

  A sociedade civil era a representação da corrupção e da miséria, portanto cabia ao Estado ser a força que organizaria a desordem, constituindo o interesse coletivo universal, mas levando em consideração que o Estado também é produto das dinâmica histórica.Vale também ressaltar que nesse ponto há algumas discordâncias entre os sociólogos, enquanto que para Engels a sociedade civil é aquela burguesa que o Estado representa o centro de tal dinâmica, para Marx a sociedade civil a expressão de todas as classes, com o povo no centro, principalmente proletariado, no centro do dinamismo histórico.

 A Teoria Materialista de Marx está relacionada à matéria social,ou seja, os estados de produção e reprodução da vida social, na qual  o trabalho representa o exercício daquilo que faz a mediação entre os homens e a natureza na produção dos bens materiais, necessários à existência da vida em comunidade. Desse modo, não é possível sem a inter-relação do homem com a natureza. Tal trabalho, sendo explorado ou assalariado, segundo Marx, sempre será a relação do homem com a natureza para produzir os meios de produção e de sobrevivência. Para ele, até a sociedade comunista, que seria a mais evoluída em seu pensamento, teria como base o trabalho associado, livre, coletivo e destinado a atender às causas sociais, mas com o trabalho e os processos de produção ao comando dos próprios produtores.

  No decorrer da história, a sociedade passou por diversas estruturas socioeconômicas, cada uma delas possuía diferentes formas de produção do trabalho. É através de tais alterações  socioeconômicas, ao longo do tempo, que construíram a base sobre a qual se formou outras formas de consciência social, como a arte, filosofia, ciência, direito e as instituições jurídico-políticas (Estado).A formação social é a conexão dos  modos de produção, onde apenas um é dominante.

  Por fim, Marx e Engels dedicaram a vida, seus projetos, contra a exploração social sem conformismos ou adaptações.Enquanto o capitalismo estiver de pé, enquanto houver exploração, miséria, fome e desemprego, a obra de Marx e Engels será atual e somente a partir da assimilação de suas idéias e da experiência do proletariado é possível se pensar na luta conseqüente por uma nova sociedade.


segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

Para Marx e Engels, o materialismo histórico dialético parte de uma análise do contexto histórico do fato analisado. Podemos fazer uma comparação com o Direito, pois este se aplica na sociedade e como tal, contém uma história que o molda. O método de análise dos filósofos, parte do pressuposto da observação da realidade, o que realmente é e não como deveria ser. Esta forma é alterada durante o percurso do tempo e pode adquirir muitas faces. Atualmente, da forma como é, o Direito ligado ao Estado está fundamentado no capitalismo.

Materialismo Histórico-Dialético

 

Contrariamente ao idealismo, surgiu o movimento materialista. Apesar de ser mal interpretado, Karl Marx criou o materialismo histórico, amparado por Friedrich Engels. Suas concepções possuíam uma visão material das coisas no mundo, essa visão tem o fito de buscar uma interpretação sólida sobre as relações, trabalho e bens em todo o período da história.

Um outro ponto sobre o materialismo histórico é o de que todas as relações sociais são relações de produção, pois o sujeito está condicionado a sua condição material, assim como todas as suas relações. Diferenciando classes e suas vidas devido à materialidade.

 Marx diz que a história se transforma a partir da dialética, a qual é a contradição existente entre a classe dominante e a dominada. A dialética também possui a tese (afirmação), antítese (ideia contrária), e a síntese (resultado da contradição entre a síntese e a antítese).

Materialismo Histórico-Dialético

 

O materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, surgiu como uma crítica à dialética Hegeliana. A filosofia de Hegel é chamada de idealismo dialético, e ele faz parte de um grupo de filósofos conhecidos como os idealistas alemães. A dialética hegeliana costuma se apresentar em três etapas: uma tese que provoca uma reação; uma antítese que contradiz ou nega a tese; e uma síntese que resolve a tensão entre os dois e toma para si elementos de ambos.

A crítica de Marx a Hegel afirma que a dialética de Hegel é falha porque lida com ideias, focando-se apenas em conceitos. Marx, por outro lado, argumentou que a dialética deveria se concentrar no "mundo material", ou no mundo da produção e outras atividades econômicas, em vez do mundo mental das ideias. Essa foi uma mudança significativa, pois permitiu que a dialética da formação da filosofia fosse aplicada para o estudo das interações sociais baseadas no “mundo material”.

A teoria histórica de Marx baseia-se em um aspecto fundamental da existência humana: a necessidade de trabalhar para manter nossa sobrevivência física. Como resultado, o trabalho humano serve como base materialista para a sociedade e é central para a explicação histórica de Marx. Assim, há uma condição imposta pela natureza para a existência humana, que obriga os humanos a se unirem socialmente para produzir seus meios de subsistência ao longo da história, em todas as sociedades e modos de produção, desde os primeiros caçadores-coletores paleolíticos até as sociedades feudais e modernas economias capitalistas.


Epifanias do ressignificar

 

Certa vez, não inesperada ocasião

Um operador retirou suas luvas,

Rasgou o avental e limpou as suas mãos

Encarou a esteira à sua frente

Deparou-se com os olhares curiosos.

Encontrava-se inquieto

Nunca antes havia sido interpretado.

 

Em direção à porta, ele despediu-se.

Ao lado do instante do adeus, ficaram para trás

A sua depressão, as engrenagens,

Suas relações de produção,

As noites exaustivas após o expediente,

Seus turnos de dezesseis horas,

Sua segurança e, com ela,

O seu título de legítimo cidadão.

 

Eles disseram que ele teria o seu nicho

Eles asseguraram que seria feliz e digno

Eles afirmaram... enfim.

Hipóteses já não mais possuíam importância.

Ele ousou almejar existir como o planejado

Em troca, recebeu o extremo contrário:

Inadequação com o sistema.

 

Ideias e anseios quase o arruinaram.

Contudo, isso não mais aconteceria

Ele, ao ultrapassar a última porta,

Após ter sentido a densidade da poluição,

Tendo enxergado o vermelho acinzentado do anoitecer,

Tendo escutado os rumores do início da vida noturna,

Sentiu os sussurros do vento chamarem-no.

 

Lembrou-se das suas inclinações anteriores

Ouviu o seu eu do passado sedento por luz.

No âmago do recordar, buscou uma memória.

Queria ser escritor.

 

Antes que o seu gerente, irremediável e ranzinza,

O pegasse e o sufocasse por ter paralisado a Mecânica

Ele subiu em sua bicicleta, encarou o horizonte e

Partiu em direção à casa de sua mãe.

Naquele dia, pela primeira vez, apresentaria uma novidade:

Ele seria feliz. 

 Tituba não seria bruxa em um outro contexto histórico-dialético 

O livro "Eu, Tituba, bruxa negra de Salém", de Maryse Condé, conta a história de Tituba, uma mulher preta de Barbados que foi escravizada no contexto do colonialismo e, também, foi uma das mulheres condenadas por "bruxaria" em Salém no século XVII. Pode- se analisar tal situação a partir do método materialista histórico dialético, que foi desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels. 

Este método foi constrúido com a função de analisar a sociedade de maneira científica, com base na realidade. Ao contrário de Hegel, que entendia que a explicação do mundo estava na projeção das idéias, e esta influenciaria o "real", Marx e Engels entendiam que são justamente as bases materiais que influenciam tal projeção. A partir disso, pode-se entender de maneira mais profunda a situação que Tituba estava inserida: essa mulher estava incluída em um contexto que a religião cristã, aliada ao racismo religioso, predominava a materialidade daquela época e, assim, a projeção de idéias desses indivíduos. Dessa forma, caso Tituba estivesse inserida em uma situação não cristã e racista, seu desfecho provavelmente seria outro, como a não acusação de bruxaria (talvez nem mesmo existissem as chamadas bruxas em outra situação política-social-histórica), já que "as coisas não surgem do nada e nossas escolhas não são somente nossas, nem livres, mas existem (e inexistem) dentro de um contexto." (FERNANDES, Sabrina. 2020, p. 67)

Por fim, a concepção materialista da história na dialética de Marx e Engels entende que as representações, como arte, cultura e religião, não possuem total autonomia, mas vinculam-se à base material, isto é, a atividade material e ao comércio dos homens. No caso de Tituba, as relações de produção estavam pautadas no mercantilismo colonial, que necessitava do comércio escravista e do apoio católico, assim, verifica-se que de fato a representação da religião, que a entendia como bruxa, estava intrinsicamente ligada às condições materiais de produção. 

Bárbara Canavês Domingos 

Direito Noturno 








Realidades distintas e a concepção materialista

A nova rede social do momento é o tiktok, uma plataforma de vídeos curtos de diversos conteúdos, de educativos a comédia, porém um nicho que vem ganhando espaço e força é o do “get ready with me” na qual a tradução é “arrume-se comigo”, que consiste em uma pessoa escolhendo roupa e acessórios para sair. A princípio parece algo inofensivo, todavia os maiores produtores de conteúdo dessa temática são pessoas com grande poder aquisitivo, que exibem seus looks realmente de milhões, com bolsas, sapatos e diversos outros itens de grife que possuem um valor irreal para a grande maioria dos brasileiros.

É nessas circunstâncias que nós - meros mortais - nos deparamos com uma realidade utópica, onde há pessoas reais que gastam valores prescindíveis em roupas (que são maiores do que pagamos nossos carros e casas). Consequentemente, nos espantamos e deslumbramos sobre esse cenário ficcional, que por muitas vezes nem imaginamos que poderia realmente existir, entretanto esse impacto que temos ao se deparar com esses contexto é normal e natural, pois a diferença é realmente exorbitante. 

Podemos explicar a diferença de realidades através da concepção materialista da história, no qual é abordado pela perspectiva de Marx e Engels, dois sociológicos que conceituam a sociedade a partir do materialismo histórico, ou seja o modo que a economia está organizada irá estabelecer todas as demais relações, portanto as relações sociais são também relações de produção, já que todas relações possuem um viés econômico, determinando as pessoas, locais que elas vão frequentar, visão de mundo e no caso, como e quanto gastaram para se vestir. 

Podemos notar também que toda sociedade é marcada pelo campo econômico que é a maneira que a sociedade produz  e pelo campo ideológico, que se sustenta pela forma que a sociedade pensa, consequentemente um determina o outro, pois a maneira que a sociedade pensa e se organiza é um reflexo da economia individualista. 

Ou seja, quem possui uma realidade de gastar milhões com roupas e acessórios vive basicamente em outra realidade se comparado aos que não podem, pois possuem acesso a locais, pessoas e eventos que nós não teremos. Fazendo-se assim, uma segregação praticamente automática apenas usando como base o material que a pessoa utiliza, que no caso abordado aqui são as roupas, mas há de se existir muitos outros! 


 Marx e a Sociologia Alemã 

Considerada utópica, a sociologia alemã não traz ideias reais de mudança apenas observações rasas, movidas a pura e simples especulações, essa sociologia não tem a pretensão de analisar a sociedade com um olhar voltado para as bases da sociedade, mas sim observar aquilo que for mais fácil e raso de se presumir, sem motivações ligadas à transformação.

Marx, com suas ideias busca trazer dinâmica à sociologia, enxergando o problema pelas suas raízes, dando aos que compõem a classe operaria toda o reconhecimento da capacidade intrínseca a eles.

Marx enxerga a sociedade como algo em constante movimento, reconhecendo que o homem constrói sim sua realidade, mas utilizando apenas daquilo que a ele é disponibilizado, sendo o homem fruto daquela realidade que a ele é imposta, seus pensamentos, sua consciência, frutos do meio material em que aquele está inserido.

Seu método busca a compreensão da realidade, diferentemente de um socialismo com características utópicas, sua proposta traz a busca pela transformação dessa sociedade, levando em consideração as condições materiais de cada indivíduo, reconhecendo nas relações de produção a maneira com que os indivíduos constroem sua identidade.