segunda-feira, 25 de abril de 2022

 Sejamos positivos


    Existe hoje grande relevância na visão positivista da ciência. Nos últimos dois anos, muito se ouviu esse nome, quase sempre em um contexto em que o que ele representa é defendido e louvado – por vezes louvado quase que messianicamente --, e na filosofia positivista podemos encontrar algumas ideias relevantes a seu respeito.
      Para Auguste Comte, filósofo criador do positivismo, o desenvolvimento das ciências e das tecnologias, o desvendar as leis naturais e produzir a partir dessa compreensão coisas úteis à humanidade, é indispensável ao progresso, e este, nas palavras do filósofo, “constitui, como a ordem, uma das duas condições fundamentais da civilização moderna”.
    Ainda que sejam justas tantas das críticas que estudiosos fazem ao Positivismo, acredito que nesse ponto relativo à ciência e à tecnologia não há como condenar tal filosofia. Assim, a meu ver, a defesa da ciência enquanto a prática do método científico observada recentemente é perfeitamente acertada. Causa incômodo somente o quanto frases em sua defesa passaram a ser repetidas como chavões, muitas vezes sem que quem as repetisse sequer se preocupasse em compreender o que, afinal,  é a tal ciência. No entanto, eu entendo que essa repetição de chavões sem que se entenda o que significam é uma tendência humana perfeitamente perdoável  o leitor talvez discorde quanto ao quão perdoável é, mas não nos detenhamos nisso, sobretudo quando exibida por indivíduos que, devido a pressões de toda sorte que a vida lhes impõe, não têm a possibilidade real de se preocupar com coisas abstratas e tão distantes de suas necessidades imediatas.
    É importante lembrar também que foi a partir das ideias de Comte que o mundo ganhou a Sociologia como ciência, como um campo do saber dotado de método, farto que é também de extrema relevância para o mundo de hoje. Nesse contexto da pandemia dos últimos dois anos, quando se fala em ciência, tipicamente está-se referindo às naturais, mas são de igual relevância para a humanidade as ciências humanas, inclusive as sociais, para cuja origem a doutrina positivista deu uma contribuição fundamental. Comte acreditava que o mundo carecia de uma "física social", isto é, de uma análise dos fenômenos sociais feita do mesmo modo, no sentido de com o mesmo rigor metodológico, com que é feita a análise de fenômenos físicos; como fez Descartes em relação às ciências naturais, o positivista defendia que essa física social tivesse preocupações práticas, a preocupação em alterar o mundo, visando sempre à conquista do progresso e à manutenção da ordem, objetivo certamente passível de críticas.
    Tendo em mente essa dualidade do legado comtiano, eu faço ao leitor um convite: sejamos mais positivos, no sentido que comumente se atribui à palavra – façamos questão de reconhecer qualidades sempre que as encontrarmos, ainda que seja em meio a algo ou alguém que julguemos donos de muitos defeitos. Sendo, quase certamente, o único leitor o caro professor Agnaldo, esse convite parece-me desnecessário, mas ainda assim achei que seria pertinente e, principalmente, bonito, terminar o texto com ele. 


Helena B. Almeida
Direito - Matutino

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