segunda-feira, 25 de abril de 2022

O raso entender sobre o subversivo

   Apesar do caráter pós-teológico do Positivismo de Auguste Comte, muitas de suas características ainda são vistas em nossa sociedade. O traço imediatista da observação positivista é, quiçá, um dos objetos mais perpétuos da corrente, sendo visto cotidianamente nas opiniões e pensamentos populares.

   Assim, por exemplo, vê-se, nos últimos anos, um extremismo político que, no geral, baseia-se em constatações que não apresentam qualquer tipo de aprofundamento. Tratam-se como subversivo quaisquer ações que destoem de um falso moralismo religioso acerca de família e Estado. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” é o slogan de um governo que, formalmente, é laico, mas que explicita em todos seus atos um ataque ao que considera imoral ou contrário à ideia de religião que acatam – apesar de serem tudo o que atacam.

   A subversão, nestes moldes, representa tudo que ataca a ordem que se pretende manter, apesar dos positivistas bradarem constantemente a ideia de “progresso”. Talvez, assim como no livro distópico “1984” de George Orwell, os positivistas desejem que “O progresso, no nosso mundo, será o progresso da dor” (ORWELL, 1948, p. 310) e o que atrai melhorias nestas estruturas que se pretende manter seja alvo de combate, seja o objeto a ser apontado como subversivo e imoral.

   Afinal, qual o caráter científico de uma corrente que, dentro da realidade, não acata mudanças? Tratar tudo e todos contrários como subversivos, não admitir este necessário espaço para alterações e se manter como “conservador” é, também, ser anticientífico ao ignorar um dos traços mais marcantes da natureza: a inconstância.

Patrícia André - Direito, 1° ano noturno 

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