sexta-feira, 22 de abril de 2022

O Positivismo e a manutenção do Status quo

 O filósofo Auguste Comte foi um dos principais teóricos do Positivismo. Tal doutrina buscava sistematizar um conhecimento referente ao domínio do mundo social, analisando racionalmente as vinculações entre os fenômenos presentes na sociedade, ao invés de buscar a origem e a essência das coisas por meio de uma análise teológica e metafísica. A filosofia positivista pretendia racionalizar a moral e constituir um mundo guiado pela razão, progresso e ordem. Deste Modo, o positivismo se caracterizou como um meio termo entre o conservadorismo e os revolucionarismos de sua época. Mesmo assim, em uma análise socioeconômica e não puramente ideológica e comparativa com ideais antecessores, a ideia positivista se mostrou uma ferramenta de manutenção do Status quo burguês perante o possível espírito de indignação proletário.

  Em primeiro plano, o Positivismo ao destacar o coletivo sobre o individual e a ideia de felicidade como um bem público materializava uma  engrenagem  que acabou recebendo o nome de solidariedade. Segundo Comte, todos os homens tinham que cumprir funções determinadas pela moral, visando a harmonia social. Não havia mais a figura do homem em si, mas sim um corpo social chamado de humanidade, visto que todo o desenvolvimento emana da sociedade. Além disso, a felicidade deixava de ter sua busca relacionada aos objetivos individuais e pessoais característicos  de um viés cristão e passava a ter compromisso com o o meio social. Tais características, formaram a ideia da solidariedade positivista,  onde  ser solidário não tinha relação com a vida privada mas com a manutenção de um bem maior, denominado de sociedade. Com isto, os principais sistemas que aplicaram ideais positivistas, principalmente capitalistas, viram a solidariedade como um mecanismo essencial nas relações de trabalho.

  Como consequência, o trabalho figurou-se como a expressão máxima da solidariedade. Tal conjuntura permitiu que a classe burguesa, detentora do poder econômico e político formulasse um método de manutenção de seus privilégios contra umas possível revolução proletária, dado que para a filosofia Positiva e a sua solidariedade a aceitação dos lugares sociais e papeis definidos ( quase como uma sociedade estamental hierarquicamente rígida ) é eixo central para a harmonia social, criando-se um falso discurso de que todos os trabalhos são dignos e contribuindo para uma estrutura alienativa e sem consciência de classe por parte dos trabalhadores. Ademais, o Positivismo também retira a ideia de participação do poder político para a classe trabalhadora, acreditando que o poder moral é muito mais importante. Assim, em uma sociedade onde o meio  político ,  econômico  , social  e intelectual é peça chave para o modo e qualidade de vida, a moral ganha enfoque, mostrando que para o positivismo pouco se interessa a capacidade reflexiva e social de seu trabalhador, mas o seu trabalho prático e a sua faculdade de se encaixar na engrenagem sistematizada do meio social.

  Em síntese, conclui-se que a filosofia Positiva tem  grande importância ao ser uma das primeiras correntes de pensamento a analisar a sociedade de maneira racional. No entanto, esta mostra-se perigosa quando aplicada em Estados capitalistas, dado a sua natureza alienativa, quase estamental e falta de poder político para o proletário, justificados pela solidariedade.

João Felipe Schiabel Geraldini. Direito noturno. 1 ano.

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