quinta-feira, 31 de março de 2022

Um embate clássico (ou moderno?)

Com a Idade Moderna, chega também a ânsia por conhecimento. Diferente de outras épocas, onde a busca pelo entendimento das coisas se dava única e absolutamente pelas indagações da natureza e pela observação, a crença no abstrato e nos poderes divinos. A modernidade traz o desejo de se deixar a rusticidade do pensamento e adentrar no mecanicismo dos métodos. Superar a subjetividade e alcançar o mais alto nível da racionalidade. As ciências nasciam e, junto delas, a dúvida.

Dois embates racionais foram traçados, Francis Bacon e René Descartes abrem a discussão que permeia toda uma época, e que vestígios são observados até o momento atual. Bacon, o pai da ciência moderna, empirista, desenrola sua teoria em meio a constatação de que tudo que havia de certo até ali, não passava de mera sorte e acaso. Portanto, fazia-se necessário superar os frutos do intelecto humano de sua contemporaneidade. Para ele, nem mesmo o ser podia ser considerado uma constatação de valor, aí vemos a sua primeira discrepância com Descartes, que acreditava que o ser era a única certeza que se podia ter. 

Bacon fundamenta sua teoria na indução, e aproxima-se de Platão ao dizer que o homem possui amarras que o distanciam da verdade. O homem e a sociedade também podem ser amarras em si. Seu método, portanto, carrega a necessidade de não apenas interpretar, mas de se mecanizar a interpretação, fazendo uso de instrumentos que auxiliem a indução. Acredita que, sem esses instrumentos, o intelecto nada pode alcançar com certeza. Propõe então, dois caminhos: a antecipação e a interpretação da natureza; a antecipação, dotada dos preceitos, o mais comum e passível de influência dos ídolos, formulados por Bacon, como obstáculos da mente; e a interpretação, o método que sugere uma observação, organização e hipóteses oriundas da natureza. O intelecto humano é como um dado viciado, só apresenta os resultados que lhe são mais apropriados, e para Bacon, é necessário a análise de dados bons e ruins, sem influência externa, sendo os dados perniciosos ainda mais úteis. 

Para Descartes, sobretudo, a mente é soberana. A razão é dotada do mais alto nível de conhecimento possível a ser alcançado. Começa então a busca pela verdade, num método seguido por ele, por meio da desconfiança das certezas absolutas e da realidade. Admite que, um dos primeiros passos, foi declarar-se ignorante, mesmo em meio a todos os ofícios e artes. Isso nos lembra alguém, não? Para fácil entendimento, Descartes lança o famoso “só sei que nada sei” de seu antepassado Sócrates, indiretamente. 

Descartes aprendeu e estudou os mais diversos estudos eruditos, em busca do mais alto nível de entendimento de seu espírito, no entanto, deparou-se com a noção de que mesmo estando no século da iluminação, os letrados não muito se diferenciam daqueles que quase nada sabem. Conheceu tudo que podia, a fim de poder diferenciar o que pudesse ser fantasioso. 

Empreende então um caminho a procura do verdadeiro conhecimento que pudesse sustentar o seu método, dedicava-se aos passos:

  1.  Não aceitar nada como verdade, duvidar de tudo aquilo que fosse conhecido anteriormente e não apresentasse princípios minimamente reais;

  2.  Dividir as descobertas em partes, a fim de examiná-las minuciosamente uma por uma;

  3.  Começar a análise dos mais simples aos mais complexos;

  4.  Por fim, finalizar a metodologia e registrá-las, para que tudo estivesse muito bem passível de entendimento.

A primeira verdade de sua filosofia racional passa a ser “penso, logo existo” , a existência de seu ser e sua consciência eram incontestáveis, e que sua função era a racionalidade. Para ele, a razão não sugere veracidade de tudo que se conhece, mas configura um fundamento inicial de que aquilo exista. Assim, Descartes também admite a existência de um Deus. 

Esse embate se estende também a uma área curiosa, a Psicologia; uma de suas abordagens pretendia unir o melhor dos dois mundo: o método e a experiência. O behaviorismo de Watson, Skinner e, mais antigamente, Pavlov, buscava ser uma ciência experimental, mas que não se prendia aos mecanicismos. Estabelecendo métodos de previsão e controle de comportamentos, também não deixava seu lado empírico, muito conhecido através de experimentos, como o do cão com a sineta de Pavlov e os ratinhos de Skinner. A busca pelo cientificismo na Psicologia, para evitar a eterna prisão de ser uma ciência introspectiva e pouco palpável, gerou a Análise do Comportamento, muito utilizada por psicólogos do mundo todo.

Graças aos nossos antepassados filósofos, Descartes e Bacon, que se empreenderam em trilhar seus caminhos na dualidade entre método e experiência, acabaram por criar alicerces para todas as ciências, desde as exatas às naturais.



Ana Beatriz Cordeiro Santos - 1º ano de Direito (noturno).


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