terça-feira, 14 de dezembro de 2021

O protagonismo branco e o direito de ser negro.

 O racismo possui muitas particularidades e se esconde no cotidiano capitalista, uma vez que, como expresso por Mbembe, o capitalismo cria a ideia de subsídios raciais para assim, ter mais domínio sobre os indivíduos de uma sociedade. Isto posto, anteriormente ser negro era, para os brancos, ser inferior ou ser selvagem e ignorante, contudo, hodiernamente, a visão branca sobre corpos negros e a cultura negra é (ainda de inferioridade) um objeto, uma moda, uma estética.

Exemplo disso são brancos que usam tranças de origem africana, brancos que participam de religiões de matrizes africanas como umbanda e candomblé, brancos que conquistaram a fama a partir de estilos musicais criados por pretos, além de diversos outros aspectos. Baco Exu do Blues, cantor preto brasileiro, evidencia o fato em uma de suas músicas: “A partir de agora, considero tudo blues, o samba é blues, o rock é blues, o funk é blues, o soul é blues… Tudo que quando era preto, era do demônio e depois virou branco e foi aceito, eu vou chamar de blues. É isso, entenda, Jesus é blues.”

O pensamento que passa é de que os brancos querem ter o direito de serem negros, querem se apropriar da luta e dores como se fosse vivência deles, ignirando completamente seu papel na história, tal como denunciado por Mbembe que considera o “ser negro” uma invenção colonizadora para exaltar seu poder de dominação, agora de protagonismo, ao tentar tornar-se o tema principal na luta da causa negra.

Recentemente, uma música sobre orgulho de ser negro viralizou na plataforma Tiktok, a ideia era criar uma corrente de vídeos em que pessoas pretas cantam a música como uma forma de valorizar os criadores de conteúdo negros do aplicativo, todavia, os vídeos com maior alcance e maiores números de curtida, vizualização e compartilhamento era de pessoas brancas cantando a música com versos “Cê sabe que eu sou negro. Mano, eu vou morrer negro, sou negro, ne-negro, negro”.

Assim, é possível entender e analisar esta forma “sutil e inofensiva" de racismo, mediante a ideia do racismo como criação de dominação branca e a necessidade de ser protagonista da causa parte do conceito de dominação dentro do movimento preto. Consequentemente, o direito de ser (realmente) continua sendo marginalizado e inferiorizado pela população branca que cada vez mais acredita ter direito a tudo e todos, que para Mbembe é apenas mais um reflexo da realidade vivenciada pela população de países com histórico escravocrata.



Maíra Janis de Sousa

1º ano - Direito Matutino


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