quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 O caso de uma forte apologia ao estupro num trote universitário em 2019 na cidade de

Franca, mostra muito bem como os capitais culturais de Bourdieu atuam nas pessoas. Um

médico formado na UNIFRAN foi convidado a participar do trote de recepção de calouros,

entretanto o discurso proferido pelo homem causou desconforto entre as pessoas. Tal discurso

do requerido, evidentemente estava carregado de ódio a comunidade gay, ataques as pessoas, e

principalmente a fortíssimas apologias a estupros.


“...E prometo usar, manipular e abusar de todas as dentistas e facefianas que tiver

oportunidade, sem nunca ligar no dia seguinte... Juro solenemente nunca recusar a uma tentativa

de coito de veterano (inaudível...) mesmo que ele cheire cecê vencido e elas, a perfume barato."

Essas loucuras foram apenas parte do discurso vociferado por Matheus Gabriel Braia no evento.

Apesar de toda a apologia a crimes, ofender pessoas e a dignidade humana, a juíza Adriana

Bonemer inocentou Matheus do processo levado a justiça pelo Ministério público do Estado de

São de Paulo. O Ministério ainda “recomendou” que o médico pagasse quantia equivalente a

40 salários mínimos, mas nada houve.


O que mais surpreendente em tudo isso, são os argumentos utilizados por Bonemer para

julgar improcedente a ação contra Matheus. A decisão e argumentos da julgadora estavam

cheios de diversos habitus que por sua vez refletem os capitais que atuam no campo social. “Há,

inclusive, feministas críticas do próprio movimento, como Camille Paglia, que atesta que a

decadência de uma civilização é marcada pelo descontrole moral, pela ode pública à corrupção

sexual.” é evidente que o habitus da magistrada a predispõe a considerar o feminismo e as

reinvindicações das mulheres meramente como ideias depravadas e de corrupção moral, o

capital cultural que perpetua a cultura do estupro e ideias machistas afetara a decisão da juíza a

ponto de até mesmo esquecer que, apenas o fato de estar numa posição de destaque foi uma

conquista oriunda do movimento que ela critica.


A perspectiva sociojurídica do caso do trote na UNIFRAN revela que o habitus e os

mais diversos capitais, principalmente o cultural, afetam as decisões jurídicas. Bourdieu estava

correto nas suas argumentações a respeito do habitus e de tudo aquilo que o cerca. Reitero que

os argumentos utilizados pela juíza demonstram que sua visão de mundo (dominada pelo

habitus) cegou seu discernimento sobre o caso concreto.


João Vitor Pereira de Oliveira- direito diurno

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