terça-feira, 7 de setembro de 2021

"Uma intepretação compreensiva de um país difícil de se compreender"

Sempre que falamos do brasileiro enquanto povo, ou dos problemas do Brasil, lembramos daquelas frases já tão conhecidas: “é o jeitinho brasileiro...”; “todo país tem seus problemas, o problema do Brasil é o brasileiro”; “até poderia funcionar, mas nós estamos no brasil”; “o brasileiro devia ser estudado pela NASA” ... entre tantas outras que batem nessa tecla do brasileiro como malandro, que não sabe seguir as regras ou que, para fugir a ordem, apostam na baderna. É como se o brasileiro fosse único e típico, afastado da logica que rege o mundo e isolado nessas terras, como se nunca tivéssemos sido colonizados ou forçados a uma adaptação ao mercado internacional.

Mas essa narrativa criada não representa a realidade. O autor brasileiro e sociólogo pesquisador, Jessé José Freire de Sousa, em sua obra “A ralé brasileira – quem é e como vive”, fala sobre isso, e da necessidade de romper com essa forma de isolar o brasileiro do mundo se apoiando na bengala do jeitinho brasileiro, uma perspectiva culturalista que nos isola. Isso porque a repetição de falácias, como a de que o Brasil não dá certo por estar cheio de brasileiros, ganha consonância na fala do outro, se legitimando e se tornando realidade; é a ação social weberiana.

O que acontece no Brasil é o mesmo que no resto do mundo. Estamos sob o regime do mercado capitalista e somos controlados pelo Estado da minoria, dos poderosos. O alerta de Jessé de Sousa é sobre, justamente, o perigo de culpar a cultura brasileira; de tentar se apagar e refletir o que é visto nas nações exemplo, como os Estados Unidos, Alemanha e Japão. É como se, quando repetimos os estigmas colocados sobre nosso povo, estivéssemos nos enrolando numa corda que nós mesmos trançamos, caindo na armadilha que nós mesmo armamos.

É assim que se engendra a ideia de que o povo brasileiro é pobre e miserável, e de que isso é culpa do operário, da empregada doméstica, do caminhoneiro..., da ralé, que não se esforça pelo bem do país, que não busca estudo, que não quer melhora. E em paralelo, exaltamos a imagem de políticos, de empresários, de grandes fazendeiros e de figuras da mídia, que se esforçam tanto pelo bem do país. É por não enxergarmos a realidade do Brasil que caímos nessas enganações. Quem construiu esse país foi o negro, foi o índio, foi a mulher foi o pobre, e não a elite privilegiada que se sustenta pela exploração do outro, do fragilizado.

A dificuldade de se compreender o Brasil foi construída, por isso tentar compreendê-lo é uma tarefa tão complicada. Porque para isso, temos de ser capazes de enxergar com clareza o que acontece no Brasil, o que somente será possível após nos desvelarmos da visão de mundo que nos foi imposta pelo sistema. Mas como fazer isso? Talvez pela educação, trazendo mudanças graduais para o pensamento do brasileiro, ou talvez devêssemos fazê-lo de forma mais radical, forçando uma mudança imediata. Mas independente de como será feito, deve acontecer, e deve-se respeitar dessa vez a existência e a vontade do povo no processo, sem novamente impô-los ideologias.

 

Rodrigo Beloti de Morais

1º Ano – Noturno.

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