segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Quem vai às ruas no dia 7 de setembro?

     O que faz alguém ir às ruas brasileiras no 7 de setembro de 2021? Penso eu.  Então, me deparo com diferentes respostas para uma mesma pergunta. Encontrei algumas que me parecem mais possíveis de serem aplicadas, sem (tantas?) distorções da realidade. O que faz alguém que eu conheço vestir uma blusa com a bandeira do Brasil e dirigir-se ao Largo do Rosário — em Campinas — para defender sua pátria e pertencer ao exército brasileiro (o povo), como disse o vereador campinense Major Jaime? E o que me faz, Letícia, vestir cores do arco-íris em direção ao Largo do Pará, nesse mesmo dia, para compor o Grito dos Excluídos, existente no Brasil desde 1995? O que nos move e qual o impacto de nossas ações?  

Poderia dizer que o Brasil é uma nação perdida, em que todos os partidos sempre foram e serão farinha do mesmo saco, portanto, os lados das manifestações não se diferenciam. E insinuaria que não existirá consequência sobre os atos do 7 de setembro, pois, em um país onde a corrupção impera, nada há de ser feito para combater injustiças. Finalizaria pensando: uma blusa da seleção brasileira é um símbolo da identidade nacional, local onde o futebol é capaz de unir todas as coletividades, portanto, ela representa a união dada pelos nossos laços culturais. Poderia fazê-lo, mas não acho que esses pensamentos tenham profundidade e sirvam de análise aos Brasis, especialmente ao Brasil de Bolsonaro.  

O que significa um indivíduo que veste uma camisa da seleção, em um contexto em que a bandeira do país foi tomada por movimentos conservadores, que ressaltam o patriotismo? O que representa fazer parte do “exército brasileiro”, na realidade em que um presidente insinua “tem que todo mundo comprar fuzil, pô” e faz constantes ameaças à democracia?  E como se dá a resposta de uma bandeira que não só possui as cores de um arco-íris, como simboliza o movimento LGBTQ+ e toda sua histórica contraposição à necessidade da preservação de um culto à Família e a Deus, clamada pelo conservadorismo? As vestes e adereços que eu e meu conhecido utilizamos, os Largos para que nos direcionamos, estão longe de serem atos que se detém apenas no plano da individualidade — mesmo que instaurados nos corpos de indivíduos — tratam-se de ações de cunho social.  

O que faço do meu 7 de setembro, muito antes, representa a coletividade a qual pertenço, um território de disputas histórico-sociais entre grupos que exploram-oprimem e entre as pessoas que são por esse sistema espoliadas. Por óbvio, um 7 de setembro muito brasileiro, mas nem por isso desvinculado das dinâmicas analisadas em outros países, o que permite compreender sem tantos estereótipos nossas particularidades e não as separar do mundo em que estão inseridas. O meu fazer e do meu conhecido são antes influenciados por instituições que estão envolvidas nas dinâmicas de poder da sociedade: a Família, a Igreja, a Polícia, a Escola, os Partidos Políticos. Quem vai às ruas pela defesa de uma religiosidade acima das pessoas não tem uma ideia dissociada do todo, e é exatamente por isso que ela também não deixa de reverberar nele e de, nas suas formatações, realizar manutenção. Quem vai às ruas pelo grito das pessoas excluídas também não criou seu pensamento do além, mas da necessidade de resistência frente à realidade latente, em que a dominação não pode ser omitida.   

 

-Letícia Magalhães, Noturno.


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