quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Plot twist sociológico - a ética protestante e o espírito do capitalismo

 Uma das minhas primeiras leituras sociológicas foi "A ética protestante e o espírito do capitalismo". No auge dos meus 15 anos esse título me soou muito bem aos ouvidos e até hoje é um dos meus livros preferidos, não necessariamente pelo conteúdo, que também é ótimo, mas pela metodologia incrível que Max Weber conseguiu entregar nesta obra. Além da linguagem acessível, o livro nos entrega uma explicação do que é o capitalismo, através da concepção de Weber e qual a relação do protestantismo no desenvolvimento desse sistema, claro, também apartir da concepção do filósofo mas muito bem embalada a partir de dados e pesquisas.


Até então, todo meu conhecimento era pautado, de maneira não muito profunda, nas concepções de Marx. Conhecer essa outra linha de raciocínio me fez enxergar além de um muro que eu já julgava alto o bastante. Hoje, ainda pendendo mais ao lado marxista, enxergo as concepções de Weber essenciais pra compreender a raiz do viés mais liberal do sistema. O que nos é de extrema importância, uma vez que o liberalismo é, de fato, sedutor e romantizado, compreender da onde vem a sustentação e o ar de sobriedade dos que o defendem, é um ponto chave.

Weber define que a busca pelo lucro nada tem relação com o capitalismo, pois se configura em diversas sociedades e em tempos distintos, até mesmo antes do seu surgimento. Para weber, o que vai definir o capitalismo como um modo de produção que se diferencia de todos os outros momentos em que buscavam lucro, é a sua complexidade por meio da empresa racional, que vai conceituar o espírito do capitalismo.

A partir disso, Weber parte para pesquisas que visam compreender como esse espírito se fundamenta. Observa diversas nações ao redor do mundo e busca qual delas melhor desenvolve esse sistema e o que elas tem em comum. Weber passa a pesquisar sobre os principais sujeitos e instituições que o fazem desenvolver desde o século XVI. Assim, encontra o protestantismo, que esteve presente nas regiões mais avançadas do sistema. Comparado ao catolicismo, enquanto modelo empregado que regula todos os âmbitos da vida pessoal e social, o protestantismo influencia de maneira muito mais severa a vida das pessoas.
Weber notou que em países de maioria puritana Calvinista, devido a própria doutrina da predestinação de João Calvino, que se diferencia da salvação pela fé, de Martinho Luteri, o Espírito do capitalismo tende a se desenvolver. Assim, aqueles que são predestinados, devem se sujeitar às restrições e evitar a vida mundana. Por isso, um dos fatores que contribuem com o desenvolvimento do capitalismo, se encontra nas severas regras e disciplinas puritanas, como ocorreram na Inglaterra, países baixos e Estados Unidos da América.

Sendo assim, a partir da leitura da obra pude compreender o quanto a cultura influencia no modo de produção. E para além disso, o quanto o capitalismo necessita de uma cultura específica, de mecanismo que o sustentem através da disciplina do povo. Compreender a questão do espírito como peça fundamental do capitalismo, diferencia-lo da busca indiscriminada por lucro, me fez enxergar os entraves e a complexidade de bater de frente com essa complexa instituição e me fez construir novas perspectivas em cima disso, possibilitando rearticular luta, cultura e resistência somado aos ideais já adquiridos.

*Marcella Peixoto - 1° ano/ noturno 

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