quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O desencantamento do Brasil

 Vivemos em um país dificílimo de ser entendido. Para tentarmos criar algo que se assemelhe a uma ideia de país, de povo, devemos entender o que nos move e nos relaciona uns aos outros. Essa análise é possível com um olhar atento às ideias de Max Weber.

Weber é um dos mais completos autores para entendermos o modelo econômico no qual vivemos, assim como para o entendimento do papel da cultura e da ação social, que segundo ele preexiste o capitalismo, sendo esse um resultado do desencantamento do mundo e das mudanças na forma que nos relacionamos com o divino e com a existência espiritual, a partir das reformas ao cristianismo e a ética de trabalho, no mundo ocidental.

Partindo de suas análises acerca da cultura, da relação dos governantes com seus governados e da propensão do indivíduo a ilusões e relaxamentos sob líderes carismáticos, vemos que o seu pensamento é imprescindível para entendermos a crise política, institucional e de ideário em que vivemos.

Exemplo dessa crise é o fato de grupos organizados, sendo capitaneados pelo presidente da república, saírem às ruas acirrando ataques à democracia e a instituições de estado, incitando golpe e planejando ataques aos poderes da república.

O que move grande parte destes movimentos civis e políticos, especialmente neste 7 de setembro, é uma relação quase religiosa de crença em uma salvação em vida, uma mudança radical, na qual os demônios – figuras burocráticas, reguladoras, judiciárias –, que estariam colocando o líder em uma jaula de ferro (que se assemelha e essa ideia weberiana, neste suposto estado globalista, super burocrático, que inibe as ações legítimas de uma força representativa), são expurgados e o líder carismático então poderá tudo.

Os movimentos são contraditórios, as alianças são condicionadas a fatos escondidos, nada é o que parece, tudo parece não ser coisa alguma, ao mesmo tempo que é algo que nem sequer imaginamos.

Vivemos um momento único desde a redemocratização, obscuro. As instituições ficam inertes, sob a justificativa da fraqueza e inabilidade do inimigo. Porém a corda se estica, dia após dia. E não será tarde demais até que seja.


*Miguel F. C. Rodrigues - Direito NOTURNO - 1° Semestre

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