terça-feira, 7 de setembro de 2021

DIÁRIO DE UM LAMENTO

São Paulo, dia sete de setembro de 2021, cinco horas da tarde
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário da milícia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça pensando em se alimentar
Apoiadores hoje, só Israel
Alguns políticos são o verdadeiro cartel

No trabalho, em pé, mais um cidadão José
Servindo a empresa, ganhando mal
Passa fome, pra sobreviver até o natal
Ele sabe o que eu desejo
Sabe o que eu penso
O dia é de luta e o clima propenso
Vários tentaram fugir, mas eu não quero
Essa oportunidade para muitos é zero
Será que Deus ouviu minha oração?
Será que o juiz aceitou a investigação?
Mando um recado lá pro meu irmão
Se o PM te ver, levanta sua mão
Sempre um susto, a cada esquina
Pode crer, moleque é gente fina
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá
Tanto faz, o Capitalismo só quer mais
Por quanto tempo ainda vamos chorar?
Mato o tempo pra ele não me matar
Mulheres na luta, guerreiras de fé
Respeito é bom e necessário, né?
Se provando toda hora, calejando os pés
Cuidando da família, se transformando em 10

Cada dia menos uma vó, menos bença
Para esse crime, cadê a sentença?
Cada partida, um sorriso, uma história de lágrima, fome, vidas e glórias,
Abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo
Misture bem essa química
Pronto, este é o nosso momento
Lamentos no hospital, na escola, no pátio
Ao redor do campo, em todos os cantos
Mas eu conheço o sistema, meu irmão, hã
A gente não importa tanto
Ratatatá preciso evitar
Que esse traste em 2022 possa ganhar
Meus ideais e sonhos me protegem
Pra viver no país além do que eles querem
Tic, tac, ainda é 18:40
O relógio da covid anda em câmera lenta

Ratatatá, mais um metrô vai passar
Com gente de bem, engajada e eufórica
Lendo o jornal, insatisfeita com o hipócrita
Com raiva por dentro, a caminho do Centro
Olhando a manifestação, dos gados é lógico
Vendo todos eles, parece um zoológico
Infelizmente a vida não tem tanto valor
Quanto um celular ou computador
Hoje, tá difícil, até saiu um sol
Passaram por cima da Anvisa, mas não tem futebol
Alguns cidadãos têm a mente mais fraca
Classe média quis votar em piada
Graças a Deus e à Virgem Maria
Faltam só um ano, um mês e uns dias
Tem uma cela lá em Brasília fechada
Aguardando o presidente, ninguém abre pra nada
Só o cheiro de morte e Pinho Sol
Rafa Braga dormiu sem lençol
Qual que foi? Quem sabe? Não conta
Jair vai ficar 30 anos de ponta a ponta
Nada deixa um homem mais doente
Que a partida dos parentes
Aí moleque, me diz então, cê quer o quê?
A vaga 'tá lá, mas não pra você
Você não tem um carro importado
Seu currículo é bom, mas não é tocado
Não te permitem ter um futuro
E a vida bandida fica do outro lado do muro
Já ouviu falar de Lúcifer?
Que saiu da presidência sem moral
Um dia no Carandiru, não ele é só mais um
Comendo rango azedo com pneumonia
Nunca olharam para Osasco, Jardim D'Abril, Parelheiros
Mogi, Jardim Brasil, Bela Vista, Jardim Ângela
Heliópolis, Itapevi, Paraisópolis
Miliciano não tem moral na quebrada
Pro Estado será só um número, mais nada
Nove pavilhões, sete mil homens
Ganhando menos que merecem, quase nada
Minha mãe me falou para não desistir
Que essa luta precisa de mim
Não importa mais em quem ele votou
Mas se trocar uma ideia, o pensamento mudou
O dia a dia espanta e assusta
Com o dia cinza e a fuligem caindo com a chuva

Quero saber aonde o Brasil vai chegar
Pensar bem em quem vamos votar

Aquele que tenho ranço, pilantra corno manso
Não percebe que ele está só
Não simpatizei, desde menor
A incompetência até que dá dó!

Esses papos me incomoda
Vivemos pela nota

Esse sistema vicioso precisamos parar

Não, já, já, o processo 'tá aí
Ele vai perder e vai sair
Se eu trombo esse fulano, não tem pá, não tem pum
Vai perceber que não sou mais um

Amanheceu com sol, quase outubro
Tudo funcionando, cuidado com o mundo
De madrugada eu senti um calafrio
Não era do vento, não era do frio
Acertos de conta tem quase todo dia
Tem outra logo mais, lá em Brasília
Humanidade é o que a gente tenta
Comanda o país de forma violenta
Cada determinação faz mal a alguém
Estamos aqui para fazer o bem
Fumaça na janela, tem fogo na selva
Desmatamento, foi além, se pá, tem refém
Salles, liberou fazer
Achando que não têm nada a perder
Os indígenas começaram a fugir
Seus direitos, não deixam existir
Traficantes, homicidas, estelionatários
Constitui boa parte do plenário
Demos a brecha que o sistema queria
Mas Chico avisou, amanhã será outro dia
Depende do sim ou não de alguns homens
Que preferem ser neutros para manter o seu nome
Ratatatá, caviar e champanhe
Lira tá apoiando, irritando minha mãe
Negligência assassina, sem oxigênio
Um genocídio neste milênio
O ser humano é descartável no Brasil
Como modess usado ou Bombril
Cadeia? Claro que o sistema não quis
Esconde o que o jornal não diz
Ratatatá! Sangue jorra como água
Do ouvido, da boca e nariz
O senhor, meu pastor
É culpado pelo que o fiel fez
Periféricos no salmo 23
Sem padre, sem repórter
Sem arma, sem socorro
Vivendo na margem no lodo e esgoto

Cadáveres na rua, sem lugar no cemitério
Adolf Hitler tem parceiro pro inferno!
Quem dera o governo garantisse a vida plena
Tipo aqueles filmes do cinema
Ratatatá, no sistema deu pane
Vai preso o miliciano e sua gangue
Mas quem vai acreditar na minha insolência?
Dia 7 de setembro, dia da independência

(Reinterpretação da música "Diário de um Detento")

Eduardo Damasceno - Turma XXXVIII (Noturno)

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