quarta-feira, 8 de setembro de 2021

As duas maiores instituições brasileiras intrinsicamente ligadas são o mercado e o Estado. O último constantemente é retroalimentado pelo primeiro. Por isso, há uma racionalização burocrática do Estado para favorecer a dinâmica do mercado e promover a hegemonia segura da classe dominante. Além disso, o próprio Direito representa uma ferramenta legal que define quem obedece e até quando obedece. O sujeito é justamente submetido a observância das normas e inserido em uma hierarquia funcional.

Justamente é a sociedade coletiva imperada por suas instituições que moldam os indivíduos, ou seja, o Estado e o mercado enquadram as ações sociais. A luz desse pensamento desenvolvido por Weber e reinterpretado por Jessé Souza, nota-se que a “ralé brasileira” representa em torno de 1/3 dos brasileiros que vivem abaixo da linha de uma vida digna e não dominam o conhecimento intelectual acadêmico de pós-graduação. Por isso, precisam encontrar outros modos de sobrevivência por meio da venda de sua força física de trabalho.

[Gabriela tem 27 anos e desde os seus 15 anos trabalha como empregada doméstica na casa de uma família abastada. Do caminho do trabalho de volta para casa, encontrou no lixo algumas apostilas de cursos preparatórios para vestibular e tentou ler alguma coisa. Contudo, seu foco e concentração para os estudos eram muitos deficitários, afinal, nunca tinha tido os privilégios de ser uma alfabetizada funcional. Subitamente as listas de aprovados são divulgados e uma manchete cobre a página principal do jornal da semana: “emprega doméstica de 37 anos é aprovada na faculdade pública de medicina”.]

A notícia midiática que representa justamente um lampejo de luz oferecido às camas sociais marginalizadas economicamente com o intuito de garantir a manutenção do discurso errático da meritocracia. Uma tentativa de interpretação compressiva do Brasil demonstra que o acesso da ralé brasileira no intuito usufruir de oportunidades de classes elitistas jamais se tornará recorrente em nosso país, assim, mantendo uma cena exclusiva de manchetes esporádicas nos jornais. A desigualdade social nunca foi tão expressiva para perpetuar o status quo de opressão de classes tão latentes desde os primórdios do Estado brasileiro.


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