terça-feira, 7 de setembro de 2021

 

A interpretação culturalista da realidade brasileira é ainda muito disseminada. Nela, há uma ideia de que a cultura não é condicionada pelas estruturas, mas sim herdada dos portugueses durante o Brasil colônia. Contudo, é válido ressaltar que as relações competitivas de produção do capitalismo foram transplantadas para o Brasil e transformaram a realidade social. A cultura, dessa maneira, é influenciada pelas instituições, que estão relacionadas com a estrutura econômica.

Na modernidade capitalista, os valores que guiam e dão sentido as ações sociais são vinculados a instituições responsáveis por moldar as relações de produção. O mercado molda o Estado, o qual se organiza de forma burocrática e racional para ser um representante fiel das necessidades do mercado. É por esse motivo que em momentos de crise o governo apoia e impulsiona a economia, se colocando como “salvador” do sistema. Nesse sentido, o Estado serve aos interesses da classe dominante, a qual forma o mercado, e tende a otimizar o funcionamento do mercado, chegando a retirar direitos trabalhistas para tal.

As instituições enquadram e influenciam a ação social, além de representar valores e ideologias, servindo muitas vezes para estabelecer uma hierarquia valorativa. A perspectiva moral é importante na dominação e atualmente pode-se observar a influência enorme da bancada evangélica em decisões importantes para o país.

Outrossim, a luta social é imprescindível para a obtenção de direitos, bem como para a mudança nas pautas das instituições. A força social influencia o Estado, mesmo esse sendo quase que totalmente persuadido pelo mercado. As ações afirmativas, por exemplo, foram implantadas devido a décadas de movimentação. Nesse contexto, o dominado assume um papel de ator social e se apropria de recursos escassos para a luta social. Na Universidade, por exemplo, as cotas trouxeram novas nuances para uma epistemologia que foi por muito tempo hegemônica.

Logo, podemos compreender que falar unicamente da interpretação culturalista e do "jeitinho brasileiro" como uma característica gritante e individual  é fruto de uma má compreensão. Muito se fala que o Brasil é atrasado e que nunca avança, entretanto não devemos esquecer que o país não fica de fora da influência das instituições pautadas no mercado. Devemos lembrar que a desigualdade tem um caráter de classe, não cultural, envolvendo condições de status e poder. Faz-se importante ressaltar também uma variação cultural: o trabalho como virtude. A condução da vida é feita por meio do trabalho e diversos valores passam a se vincular na política liberal.


Lorena Prado Silva – 1° Período Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário