quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A pseudo elite e seu incomodo com qualquer possibilidade de justiça social

 Na obra “A ralé brasileira” de Jessé Souza, o autor critica a visão patrimonialista que exclui as classes menos favorecidas e abarca apenas a história da classe dominante. Segundo ele, a concepção de patrimonialismo, em que o público é utilizado para favorecer interesses privados, potencializou a difusão da ideia de que o brasileiro seria corrupto por natureza e cultura, desde seu descobrimento em 1500. Essa concepção contribui para a criminalização das práticas políticas no Brasil e faz com que figuras populistas e com ideias salvacionistas tenham grande apoio popular. Esse processo que se inicia com Getúlio Vargas, tido como “pai dos pobres”, também é observado com a ascensão de Jair Bolsonaro, que apesar de suas diferenças gritantes, compartilham as mesmas aspirações fascistas e excludentes.O patrimonialismo atribui ao Estado a culpa pela corrupção ainda que o responsável real por essas práticas seja o próprio mercado. 

    Esse mercado, fortemente concentrado na mão de poucos, pertencentes à elite brasileira, utiliza-se dessa criminalização e responsabilização da política para perpetuar seus privilégios e sustentar um país extremamente pautado na desigualdade. Dessa forma, as elites dominantes ao se verem diante dos governos petistas que buscavam a implantação de práticas sociais e de medidas de reparação histórica, como é o caso da implantação de cotas e dos benefícios como o bolsa família, se mostraram extremamente incomodadas. O incômodo dessa pseudoelite, a classe média, é muito bem retratado no filme “Que horas ela volta?”, que retrata o incômodo dos patrões ao observarem a filha de sua empregada conseguir uma vaga na universidade e seu filho não.

Toda essa indignação fez com que a presidente Dilma Rousseff fosse vítima de um golpe político e midiático que criminalizava os governos petistas sob o pretexto de corrupção, ainda que esse não tivesse provas e as “pedaladas fiscais” tivessem ocorridos em todos os mandatos anteriores. Nesse cenário de crise institucional e política surge um “herói” capaz de salvar a nação do fantasma da corrupção e do comunismo, que sempre andam lado a lado nas narrativas políticas. Assim, começa o governo de inspiração fascista de Jair Bolsonaro, pautado na necropolítica, que exclui as minorias, quer acabar com os direitos, ataca a democracia e suas instituições e coloca o país em uma posição de extrema vulnerabilidade, especialmente a “ralé brasileira”, como Jesse Souza denominou as camadas mais pobres da sociedade. 


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