quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A nação brasileira

 

Em 2020, o Brasil se encontrava na décima segunda posição entre os maiores PIBs do mundo. Ao mesmo tempo, o Brasil voltava para o mapa da fome e da miséria. Um país tão rico, no qual tão poucos usufruem dessa riqueza. É difícil não se perguntar “onde será que erramos?”, “onde será que falharam conosco?”

O sistema é algo complexo e muito sutil na forma com que ele nos influencia. Ele se faz parecer a coisa mais importante do mundo. Ele faz parecer que, sem ele, nós não seriamos nós, que nossa sociedade colapsaria. De certa forma, o Mercado competitivo capitalista diz: “não haveria inovação sem mim”, “ninguém faria nada sem mim”.

Essa lógica utilitarista está tão intrínseca na nossa vivência que a adotamos sem reparar, e se torna cada vez mais difícil enxerga-la de forma crítica, pois ela se faz parecer “simplesmente como as coisas são”. Essa influência estratégica é inclusive citada no texto de Jessé Souza, quando Souza menciona a ideia de meritocracia.

Desse modo, a desigualdade tem que assumir uma forma “individual” para ser legítima. Essa forma individualizada de desigualdade, construída para negar a forma real e efetiva da produção classística da desigualdade, é exatamente a “ideologia da meritocracia”. Segundo essa ideologia, a desigualdade é “justa” e “legítima” quando reflete o “mérito” diferencial dos indivíduos.

Em outras palavras, as instituições fazem com que as falhas em suas sistematizações sejam justificadas no erro pessoal e humano. Ou seja, nessa linha de pensamento, o sistema é simplesmente como as coisas devem ser, não há como muda-lo, ele é a conclusão natural. Aqueles que não sucedem nele que estão errados, eles são a verdadeira falha.

E nós acreditamos. Nós acreditamos que ter valor é o mesmo que ter preço, e por isso mesmo, colocamos preço em tudo. Em nossa arte, em nossas paixões, e até em nós mesmos. O que não pode ser precificado não tem valor algum, jogue fora, desista, é inútil. E se você se tornar o objeto inútil na sociedade? Que outra alternativa você tem, se não desistir?

Desumanizamos uma parcela inteira da nossa população pois se não o fizermos, teremos que assumir que o sistema é falho e que somos responsáveis pelo sofrimento dessas pessoas; e no fim do dia, o Brasil é uma nação em negação.

Vitoria Talarico de Aguiar, 1º ano, diurno

 

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