quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A legitimação do ilegitimável

   

  Já dizia o historiador Sérgio Buarque de Holanda que o brasileiro corresponde a um “homem cordial”, isso é, ele age sempre com a emoção, no calor do momento, ignorando a razão e deixando de lado a criticidade. Tal como a teoria de Sérgio, inúmeras são as características culturais que caracterizam o povo brasileiro. Assim, construído através da miscigenação de diversas culturas - indígena, europeia e africana principalmente - o ideal identitário brasieliro consiste numa junção de diferentes valores. Consoante o sociólogo alemão Max Weber (1864 - 1920), intrínseca à sociedade estão presentes ações sociais, ou seja, ações tomadas individualmente que levam em conta o coletivo, quando na condução de sua vida o indivíduo busca conexões com os outros.

        Atualmente pode-se dizer que o capitalismo rege as condutas e relações em sociedade, todavia segundo Weber o espírito capitalista sempre esteve presente. A cultura vem antes da economia, pois foi ela quem produziu as condições para o surgimento dos modelos de produção vigentes. Todavia, de onde surge essa cultura excludente que, legitimada pelos ideais capitalistas, desencadeia uma série de problemas sociais? 

        A classe detentora de poder, desde as primeiras civilizações, utilizou da dominação para impor seus valores e culturas aos demais grupos, construindo assim uma base ideológica que visa sempre privilegiar os que estão no topo. Tal construção cultural excludente reflete até hoje nas relações sociais, o que pode ser evidenciado através da tremenda desigualdade socioeconômica e do abandono por parte do Estado das classes preteridas. Transgredir esse cenário torna-se um desafio cada vez mais denso no Brasil atual. O atual governo implanta ideias retrógradas e que visam manter intacta a ordem social vigente que coloca a elite em primeiro lugar e a massa em escanteio. Além disso, o Estado - como única instituição, segundo Weber, que pode utilizar a violência de forma legítima, através por exemplo de prisões e leis - vem abusando desse monopólio da violência para barrar correntes vanguardistas que buscam mudanças nessa ordem elitista. Como exemplo, pode-se citar as fortes medidas punitivas durante manifestações contra o atual governo Bolsonaro, nas quais a violência é utilizada de modo escancarado para reprimir os movimentos revolucionários. Desse modo, a violência por parte do Estado contra forças progressistas são cada vez mais banalizadas no sistema atual, tonando legítimo o ilegitimável.

        Portanto, torna-se evidente a face retrógrada do Brasil durante tal interpretação compreensiva de um país difícil de compreender. As ações sociais refletem uma construção excludente e elitista desde os primórdios da sociedade brasileira. Até os dias atuais e intensificado pelo governo Bolsonaro - de base ideológica retrógrada e conservadora - forças dominantes mantêm-se unidas em prol da opressão da militância revolucionária. Logo, como bem disse a ativista Marielle Franco assassinada em 2018: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra aos pobres acabe?”


Beatriz Ferraz Gorgatti - 1° ano direito matutino

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