segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Sociologia de Manuel Bandeira a Émile Durkheim

 Versos escritos n’água ( Manuel Bandeira )

 

Os poucos versos que aí vão, 
Em lugar de outros é que os ponho.  
Tu que me lês, deixo ao teu sonho 
Imaginar como serão.  
 
Neles porás tua tristeza 
Ou bem teu júbilo, e, talvez, 
Lhes acharás, tu que me lês,  
Alguma sombra de beleza...  
 
Quem os ouviu não os amou.  
Meus pobres versos comovidos!  
Por isso fiquem esquecidos 
Onde o mau vento os atirou. 


Tal como Manuel Bandeira no poema Versos escritos n’água, o sociólogo francês Émile Durkheim considera a necessidade de se isolar do fato para não interferir na sua compreensão. Isso significa que, para a total compreensão de uma poesia ou qualquer que seja o objeto de estudo, o sujeito não deve fazer parte do objeto analisado, com a finalidade de não cair no senso comum. 


Ademais, existem diversas outras compreensões acerca da metodologia sociológica - enquanto Durkheim considera a sociedade como sendo anterior às questões sociais, os marxistas e materialistas clássicos possuem uma visão antagônica, levando em consideração a precedência da matéria sobre o espíritoEsses últimos, por exemplo, levam em conta a importância em se aproximar do fato (sendo a partir de vivência pessoal, leitura de relatos, análise de estatísticas, opiniões populares) para um entendimento mais profundo do tema. 


Por outro lado, o poeta, Manuel Bandeira, teve sua obra caracterizada essencialmente pela experiência pessoal e as nuances ocasionadas pelo vivido factual (ter tuberculose desde muito jovem)É inegável que a jornada de sua vida, marcada principalmente por solidão e medo, foi o destaque que o tornou tão único nesse meio e aproximava o leitor do objeto exposto em cada poema composto. 


Por fim, outra dessas poesias que complementa o debate é “O Bicho”, também de Bandeira, na qual o relato narrado perpassa a animalização do homem degradado pela sociedade e aproxima o leitor do eu-lírico com a quebra de expectativa. “O Bicho, meu deus, era um homem”, encerra os versos e representa algo que configuraria a quebra da coesão social na sociedade capitalista. Se isso não for um exemplo de anomia (ausência total de normas sociais) dentro de uma sociedade moderna, racionalista e individualista do ocidente, eu não sei como representá-la através de um exemplo, de forma mais genial. 

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