segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Na prática, a teoria tem sido outra

 

É admirável, pelo motivo de propor a fraternidade, o método científico marxista do Materialismo Histórico-Dialético, desenvolvido pelos filósofos alemães Friedrich Engels (1.820-1.895) e Karl Marx (1.818-1.883) e abordado nas aulas dez a doze do curso de Introdução à Sociologia. Vejamos:

Por que Materialismo? Porque, de acordo com a teoria marxista, são as condições materiais que definem quem um indivíduo é, ou seja, qual consciência ele terá, sendo que suas ideias não modificam o mundo, mas, sim, são consequências do seu dia a dia e trabalho. Percebe-se, portanto, que há uma inversão em relação à lógica idealista de outro filósofo alemão, Friedrich Hegel (1.770-1.831), segundo a qual é a consciência individual que transforma o mundo. O marxismo prega ser necessário desenvolver no proletariado a consciência e o discernimento suficientes para que comece a refletir sobre sua condição social, visto que, por muitas vezes, o proletário sequer percebe que está sendo explorado e atuando como instrumento do enriquecimento financeiro de outra(s) pessoa(s).

Por que Histórico? Porque Marx e Engels recorriam a fatos históricos para sustentar o que argumentavam; afinal, a historiografia permite afirmar que sempre houve disputa pelo poder entre a elite social e as camadas sociais mais baixas. É justamente devido a essa constatação que, no livro “O Manifesto Comunista” (1.848), cuja autoria é de Marx e Engels, está escrito: “...Até os nossos dias, a história da sociedade humana tem sido a história da luta de classes...”; de fato: na Roma Antiga, opunham-se patrícios e plebeus; na Idade Média, nobreza e escravos eram os antípodas; já na Idade Moderna, burgueses e proletários passaram a ser os protagonistas do confronto. Fazendo uma analogia, nota-se que o mecanismo de funcionamento da sociedade ao longo do tempo é similar ao de uma roda gigante em movimento constante: sempre há segmentos sociais diametralmente opostos, estando um no topo da roda e outro em seu ponto mais rasteiro.

Por que Dialético? Porque, apesar de o marxismo refutar o idealismo hegeliano, também é verdade que se utiliza de um aspecto da teoria de Hegel: a dialética do Senhor e do Escravo. Essa dialética tem a intenção de mostrar que, apesar de o senhor mandar em seu escravo, depende mais deste do que o contrário; logo, quem tem mais poder nessa relação é o escravo e não o senhor, como pode parecer em um primeiro momento. A única ressalva a ser feita é que, por escreverem em uma conjuntura capitalista, Marx e Engels substituem os termos “senhor” e “escravo” por “burguesia” e “proletariado”, respectivamente.

Pois bem. Uma vez apresentada a essência da teoria marxista do Materialismo Histórico-Dialético, torna-se necessário analisar sua aplicação nas oportunidades até então conhecidas.

Para isso, inicialmente é importante dizer que alguns autores liberais e, por exemplo, o médico e psicanalista austríaco Sigmund Freud (1.856-1.939), conhecido como o “Pai da Psicanálise”, já anteciparam que a aplicação da teoria marxista não seria viável, criticando-a, ao argumentarem que Marx e Engels talvez houvessem sido muito utópicos quanto a suas propostas, por pensarem que as pessoas deixariam de lado suas divergências a fim de atingir a igualdade plena (Comunismo). Freud escreveu que o marxismo não poderia ter sucesso, que o mundo mais fraterno não seria formado, visto que a psique humana é competitiva, desejosa, violenta e movida pela libido (energia relacionada à procura por conquistas, satisfações). Portanto, deve ficar claro que, apesar de o marxismo ser uma ideia bastante relevante nos âmbitos filosófico e sociológico, também foi e é bastante criticado.

Além de críticas embasadas como a de Freud, podem ser analisados estudos de caso em que a proposta marxista foi utilizada como instrumento para conquista de poder político, mas completamente deturpada após esse poder ser obtido:

à UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS (URSS): no contexto da Guerra Fria (1.945-1.991), a URSS protagonizou uma deterioração do marxismo (mais precisamente, marxismo-leninismo) em muitas esferas, principalmente após 1.970, como se pode constatar na série televisiva Chernobyl (2.019), transmitida pela plataforma de streaming Amazon Prime, em que são evidenciados a ineficiência do Estado soviético ao ter que lidar com o desastre social e econômico vigente e o descaso dos governantes para com a população soviética;

à VENEZUELA: principalmente após 2.013, quando Nicolás Maduro (1.962-...) assumiu o poder, além da crise econômica (iniciada em 2.014) oriunda da desvalorização petrolífera no mercado global, o país sofre com a crise política, evidenciada pelo crescente autoritarismo implantado por Maduro com sua ditadura. Enquanto a população enfrentava uma inflação de quase 1.700.000% em 2.018, Maduro foi visto em um restaurante turco bastante requintado;

à CUBA: o país vive, em 2.021, uma gravíssima crise econômica, e, segundo o escritor cubano Ernesto Pérez Chang, em entrevista ao portal de notícias G1: “Agora as pessoas se deram conta de que não há um governo socialista ou comunista, mas um governo de militares empresários que estão interessados em ganhar mais dinheiro. Não há nada que se reverta em programas sociais verdadeiros. Há muita decepção. O regime está em perigo e responderá com mais violência à ação dos manifestantes.”

Posto isso, convém rememorar o ex-presidente dos Estados Unidos da América Ronald Reagan (1.911-2.004): “O poder concentrado sempre foi o inimigo da liberdade.”

Bem, esses são apenas alguns dos muitos exemplos de adulteração da concepção marxista do Materialismo Histórico-Dialético. Afinal, Marx e Engels propunham um mundo mais fraterno, justo, em que as pessoas conseguissem trabalhar, mas dentro de uma dinâmica que não fosse a de exploração. Portanto, a teoria marxista é boa! Mas sua aplicação, na maioria das ocasiões, foi desvirtuada, tornando-se autoritária e terrível, visto que, em momento algum, Marx e Engels defendiam que o Estado deveria assumir funções totalitárias por décadas. Então, a sensação que se tem ao ver a aplicação da teoria marxista nesses casos, após tê-la estudado, é a mesma de quando se lê uma obra espetacular, mas cujo filme não corresponde às expectativas, justamente por ter sido mal adaptado.

Esta é a conclusão que fica após tudo o que foi discorrido: indubitavelmente, é muito importante tentar conscientizar as pessoas a respeito do papel social que estão desempenhando; agora, querer que todas alcancem um nível de altruísmo tão elevado não parece ser tarefa fácil (e sequer possível, para Freud).

 

Aluno: Marcos Tadeu Gaiott Tamaoki Junior;

Curso: Direito (noturno)/2021;

Termo: Primeiro;

Turma: XXXVIII.

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