domingo, 22 de agosto de 2021

Levante e lute

 


“Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve
Você pode e você deve, pode crer

 

Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer

 

Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura”

 

[...]

 

Pode-se dizer, de certa forma, que Karl Marx e Engels ficariam seduzidos por esse trecho formidável de Gabriel Pensador. O cantor de rap traz em sua música uma temática muito abordada pelos filósofos comunistas, ou seja, da luta que o proletariado deve iniciar contra a dominação e exploração dos grandes proprietários.

Lastimavelmente, Karl Marx não estava equivocado quando mencionou em seus escritos que o trabalhador está sendo manipulado, submetido ao desumano, alienado e transformado em uma máquina de produzir riqueza aos capitalistas. Acho plausível fazer um adendo de que a expressão “lastimavelmente” no início do parágrafo refere-se ao meu sentimento de descontentamento ao me deparar com uma situação de opressão em pleno século XXI.

Não é utopia (quem dera fosse) que existem pessoas trabalhando em situações deploráveis, sendo subjugadas a produzirem durantes horas, recebendo o mínimo para sobreviver (olhe só para o Brasil, vivemos essa realidade. O trabalhador brasileiro que recebe um salário-mínimo, ele não vive, ele sobrevive).

            Além disso, é horripilante perceber que enfrentamos uma estrutura posta. (Não irei generalizar, pois existem pequenas exceções), mas esse mesmo trabalhador que está sendo explorado e oprimido veio de estruturas sociais que perduraram (existe uma relação de classe e etnia na formação da classe trabalhadora), assim como o grande proprietário, o dono dos meios de produção também veio de uma estrutura que se manteve. É nítido isso, bom, no Brasil é.

As transformações ocorrem durante a história. A vida humana é volúvel. Hoje somos, amanhã não somos mais. Tudo é apenas no instante. Mas, se vivemos uma vida etérea, onde estão as mudanças necessárias para retirar o trabalhador dessa situação abominável que ele vive?  

É exatamente sobre essas prerrogativas que surge o método materialista histórico-dialético marxista. Karl e Engels discorrem sobre o movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens durante a história. A filosofia marxista está na práxis, no concreto, na vida material. Sendo que será através de um conhecimento profundo da história material que as transformações irão de ocorrer. Trata-se de fazer uma projeção científica da realidade.

Não é sobre partir de uma lógica filosófica, idealista e, sim de uma lógica concreta, analisando a realidade como ela é para que consigamos atingir grandes transformações. A música de Gabriel demonstra muito disso, não adianta projetarmos apenas ideias de mudança, as modificações sociais irão acontecer por meio de luta e enfrentamento. Não podemos e não devemos nos abster, e nem mesmo perder as esperanças. Tomar uma postura de imparcialidade diante de uma análise histórica concreta não mudará as estruturas vigentes.

Bom, serei franca em minhas análises e reconhecerei minha ignorante enquanto ser humano. Não sei o que irá mudar ou transformar a vida do trabalhador. Talvez estejamos longe de grandes mudanças ou talvez não. Mas enquanto isso, não podemos aceitar a realidade em que vivemos. Como já dizia Gabriel, “devemos mudar nossa postura, porque o medo é um modo de fazer censura”.


LÍVIA GOMES - 1º PERÍODO DE DIREITO NOTURNO

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