domingo, 18 de julho de 2021

“Ordem e progresso” como justificativa para barbárie

Auguste Comte, no século XIX, foi o responsável pela criação da corrente positivista de pensamento. Na época, o ideário social herdava as ideologias progressistas da Revolução Francesa, do iluminismo e da Revolução Industrial. É nesse contexto que a vertente filosófica surge, propondo, entre outras coisas, o conhecimento científico como único verdadeiro e a busca constante pelo progresso como ferramenta para alcance da ordem social.


O pensamento positivista, na época de sua elaboração, além de ser condizente com a ideologia vigente, serviu o propósito pretendido por seu autor: a criação de um método científico para análise social que se distanciasse das explicações anteriores - metafísicas e teológicas - sobre os fenômenos sociais observáveis. Porém, é necessário avaliar as consequências trazidas por essa forma de pensamento. A idealização quase religiosa da ciência como meio único e infalível de se obter a verdade e a busca progressista pela ordem social foram causas de inúmeras violações de direitos fundamentais ao longo dos séculos.


A crença na Ciência infalível e no seu uso para a constante evolução humana teve seu apogeu no século XX, mais especificamente entre as décadas de 20 e 50 com as posturas higienistas praticadas na Europa, durante a segunda guerra mundial, e no Brasil, durante a era Vargas. Tanto nos campos de concentração da Alemanha nazista quanto nos manicômios brasileiros sancionados pelo Estado, a exclusão e o extermínio de partes da população consideradas indesejadas teve fortes raízes no positivismo. 


Os absurdos justificados em nome do progresso social e da evolução da ciência nos mostram que é extremamente perigosa a colocação de uma vertente de pensamento como soberana e inegável, por mais relevante que ela seja em seu momento de formação. “Ordem e progresso” podem até ser importantes e, em alguns casos, necessários, mas jamais devem ser utilizados como pretexto para a barbárie, por mais paradoxal que possa parecer. 


Victoria Dote Rozallez da Costa

Turma XXXVIII Matutino


Um comentário: