domingo, 4 de julho de 2021

O racionalismo cartesiano e o negacionismo científico no século XXI


René Descartes viveu durante a primeira metade do século XVII e, portanto, observou de perto o expansionismo absolutista e a herança no ideário cultural deixado pelas concepções medievais aristotélicas de ciência. Ao lado de outros grandes nomes como Galileu Galilei e Johannes Kepler, Descartes foi um dos pivôs da Revolução Científica e sua obra “Discurso do Método” foi uma das maiores contribuições para a modificação do pensar científico na modernidade.


Seu método, pautado no racionalismo e na crítica da realidade através do questionamento, lhe rendeu o título de clássico justamente por permanecer relevante mais de três séculos após sua publicação original. A ideia de que os sentidos e o raciocínio humanos são imperfeitos e sujeitos ao erro era tão atual então quanto é agora e a busca metodológica pelo conhecimento científico se faz necessária para que haja a separação entre o sujeito (aquilo que pensa) e o objeto (aquilo que é pensado). Não no sentido do mito da neutralidade, mas para que haja produção de conhecimento científico pertinente e confiável.


Na atualidade, um dos maiores representantes da necessidade do racionalismo cartesiano é a crescente tendência do negacionismo científico. Movimentos antivacina, terraplanismo - concepção que há três séculos Descartes e outros cientistas como Kepler tentavam erradicar - e, nos últimos dois anos, a tentativa de negação dos perigos e consequências da COVID-19 por parte da população são só alguns exemplos.


Dessa forma, utilizando o explicitado por Descartes no trecho a seguir retirado de “Discurso do Método”: “Desse modo, considerando que nossos sentidos às vezes nos enganam, quis supor que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. Por haver homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria (...), rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações.”  É preciso ressaltar que não há ciência absoluta e que o fazer científico se modifica e evolui com o passar do tempo. Entretanto, a existência de um método baseado no questionamento como o cartesiano é crucial para que o conhecimento científico e a sua crítica sejam pautados em fatos e não em achismos perpetrados pelo senso comum.


Victoria Dote Rozallez da Costa
Turma XXXVIII Matutino

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