segunda-feira, 5 de julho de 2021

O indivíduo, o coletivo, e a natureza

            O ser humano é um animal social. Essa máxima aristotélica tem como consequência que, para analisar o mundo, devemos identificar os sistemas sociais e naturais que nos cercam. Mas isso não é o suficiente.

Essa relação de interdependência e mutualismo é abordado no filme ‘’Ponto de mutação’’, de Bernt Amadeus Capra. O filme se propõe a trazer um triálogo entre um senador democrata, um poeta expatriado e uma física que se isolou do mundo em uma ilha na França. Para além do quase monologo expositivo e proselitista da personalidade cientista para com os demais, o filme traz ótimos questionamentos acerca do mecanismo cartesiano e da sociedade de exploração predatória em que vivemos, propondo um olhar atraente, mas limitado para o mundo - a teoria geral de sistemas.

É proposta a ideia da desvirtuação moderna do desenvolvimento científico, que passaria de ser a serviço do homem para ser a serviço de projetos de poder e dominação. A relação com a ideia, partindo dos filósofos que são base da ciência moderna, como René Descartes, de que, munidos do conhecimento para moldar e subjugar o mundo a nossa vontade, nos tornamos ‘’senhores e possuidores da natureza’’, é vista como base para esse processo.

A visão ecológica e cultural utópica, de reorganização das diversas esferas humanas – econômicas, sociais e materiais, é onde Capra diverge frontalmente de autores como Roger Scruton, expoente do conservadorismo britânico, que trata a questão ambiental sobre um outro viés, em seu livro “Filosofia verde”.

Para Scruton, não é necessária uma reestruturação geral dos sistemas estabelecidos para proteger nossa herança comum, basta uma aliança do estado de direito – que dita as leis ambientais, e as faz cumprir - com o mercado e os indivíduos – que devem absorver os custos e ser responsabilizados pelas consequências de suas ações de transformação do meio ambiente. Esse equilibro, que hoje nos falta, aliado a um incentivo de mercado a preservação e sustentabilidade, até mesmo para perpetuação do consumo, é o que faria o sistema se tornar suportável ao longo prazo. Como nas palavras de Scruton:

- Embora os mercados não possam resolver todos os nossos problemas ambientais, e de fato eles respondem por alguns deles, as alternativas contrárias são quase sempre piores.

Trazendo essa problemática ao Brasil, vemos o estado como motor e até mesmo facilitador do desmatamento e piora da questão ambiental, com sua relação corporativista com empresas irresponsáveis e o não cumprimento das ordens legais.

Assim, fica clara a necessidade da ação, por parte do poder público e de entes privados, para resolver a disfuncionalidade do mundo moderno, em sua complexidade, considerando o indivíduo, o coletivo e a natureza.


Miguel Francisco Corrêa Rodrigues - Direito – Noturno

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