domingo, 4 de julho de 2021

 

Humanos: os senhores torturadores do meio ambiente

 

              No dia 5 de junho foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, no entanto, é fato que, há muito, nossa prioridade deixou de ser cuidar da saúde de nosso planeta, como pode-se observar pela recente pesquisa do Inpe (instituto de pesquisas espaciais), na qual foi apontado que, no último ano, houve uma alta de 40% no índice de desmatamento em relação a 2019. Isso, infelizmente, não é um dado inesperado, visto o crescente descaso em relação à natureza propagado desde a revolução industrial, ainda intensificado exponencialmente nos últimos anos pela postura do atual governo e seus ministros. Tal ideal de que o meio ambiente deve curvar-se a vontade humana e que devemos explorá-lo ao máximo advém, principalmente, do período iluminista, guiado por filósofos como René Descartes, o qual afirmava: “conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos misteres de nossos artifícios, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores da natureza”, ou Francis Bacon que acreditava que a natureza deveria ser “torturada” para que obtivéssemos seus segredos.

Apesar do fato de que essas ideias foram, incontestavelmente importante para o desenvolvimento ao retirar o homem de papel de mero espetador e fazê-lo mais ativo em relação ao meio, porém, há muitos anos já observamos as consequências dessas teorias, que estão entranhadas no nosso ideário ocidental, pelas queimadas anormais ocorrendo mundo afora, as variações climáticas abruptas e “acidentes” premeditados como as tragédias de Brumadinho ou Mariana. Mas, ainda assim, existem aqueles que insistem em negar o impacto humano no planeta e ignoram as consequências que batem na porta, mesmo que essas sejam inevitáveis, pois, como já diria o escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “A natureza não faz milagres, faz revelações”.

Tais ocorrências anteriormente citadas corroboram com o que nos é apontado no filme “Ponto de Mutação”, inspirado no livro homônimo de Fritjof Capra, no qual é apresentada a teoria dos sistemas vivos, ou o pensamento ecológico, em contraposição ao modelo mecanicista cartesiano, afirmando que deveríamos pensar nos recursos do mundo como exauríveis e trabalhar com eles de maneira harmoniosa, sempre pensando no planeta como um conjunto de sistemas vivos e interligados, os quais a mudança em um mínimo ponto pode afetar vários outros. Este método guia não apenas uma maneira de remediar as áreas já afetadas, porém de prevenir novos erros ao que aprendemos a compreender as dimensões do mundo, aplicando-se não só aos problemas naturais já mencionados, mas também aos sociais.

Portanto, antes agir como os “torturadores” ou “senhores” da natureza, deveríamos dar um passo para trás e tentar compreender as consequências de nossas ações, para que no futuro não venhamos dizer que não esperávamos por elas e fingir cegueira diante das consequências de nossa inconsequência, uma vez que, até mesmo o próprio “torturador da natureza”, Francis Bacon afirmou: “ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito, pois a natureza não se vence, senão quando se lhe obedecer”.

 

- Isabela Batista Pinto- Direito Matutino.

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