segunda-feira, 5 de julho de 2021

Criticismo e os ídolos do senso comum

       O homem, condenado a uma busca incessante por interpretar sua existência e o mundo, parte de diferentes formas de representação da realidade para tal, as quais chamamos de conhecimento. José Carlos Köche define dois tipos de conhecimento como principais: o de senso comum ou empírico, a primeira forma como geramos saber a partir das sensações e experiencias pessoais e individuais; e o científico, que surge da necessidade de sair do papel passivo de expectador da natureza para agente de transformação do mundo, utilizando de meio mais seguros para decifrar e entender a própria realidade. Nessa linha, René Descartes e Francis Bacon são de fundamental importância no estudo da ciência moderna, tendo contribuído para a formação dos alicerces que a compõe e, através de suas obras e influencias, nos deixam um legado da importância do pensamento crítico no desenvolvimento também de uma visão de mundo. 

    A virada para a década de 2020, marcada pela pandemia da COVID-19 e a crise política vivida no Brasil, evidenciou ainda mais como bases já tão consolidadas se encontram em parte da sociedade de hoje, séculos mais tarde, ameaçadas por crenças e achismos que sobrepõem a razão. Bacon, em sua obra “Novum Organum”, traz a ideia de como podemos acabar usando de Ídolos, falsas percepções de mundo, para interpretar nossa realidade pela facilidade e familiaridade em estabelecer conexões com essas ideias. Pastores, ditos emissários do divino, vendendo curas milagrosas para aqueles que se agarram ao conforto e confiança da religião em momentos de crise ou incitando o uso de remédios sem comprovação cientifica ou recusa de tratamentos comprovados, são um exemplo atual de como o abandono do senso crítico pela crença naquilo que é de mais fácil compreensão ou aceitação, pode ser danoso a toda uma população.  

O agravamento da crise sanitária hoje vivida no país é reflexo não apenas de fatores de crença, sejam elas religiosas ou até mesmo políticas, mas também de um ensino fundamental e médio falho em instigar a curiosidade. O método cartesiano traz como sua premissa a dúvida, como Bacon, visa não só a busca por conhecimento teórico, mas acima de tudo sua aplicação em prol do homem, a ciência aqui deve ter papel de transformar a condição humana. Na contramão do que Descartes e Bacon inspiram, a educação brasileira se mantém a décadas na mesma conformidade, pesada em conteúdo, mas sem desenvolver a criticidade e o pensamento científico desde o ensino básicoO resultado pode ser visto na briga severa que parte dos brasileiros trava contra a ciência, em um contexto pandêmico se prefere ouvir o político favorito ou o grupo de leigos do “zap” sobre as medidas contra o Coronavíruso as indicações das autoridades competentes de saúde e suas vacinas “comunista”. 

Esse é o triste retrato da vivência no Brasil de 2021. O homem, condenado a uma incessante busca por interpretar sua realidade, dispensa os óculos da razão, ressuscita fantasmas e desconhece ou ignora o saber crítico, preferindo a segurança e a comodidade de suas crenças e razões próprias   

Jordana Queiroz Dias, 1° período de Direito, Matutino, Turma XXXVIII.

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