domingo, 4 de julho de 2021

 À herança de Descartes e Bacon, que não se manche ainda mais pelo negacionismo científico...

 

A produção do conhecimento já se deu de muitas formas distintas ao longo do processo de evolução pelo qual passou a humanidade. Em cada período produzimos de forma diferente, sempre da forma que mais nos beneficiou. A princípio, o utilitarismo do conhecimento do senso comum garantiu nossa existência, o uso de ervas medicinais nos manteve vivos, a produção de ferramentas facilitou nosso trabalho, o uso de animais, da força das águas e dos ventos automatizou algumas tarefas e nos deu tempo para pensar em mais que apenas sobreviver, para produzir trabalhos intelectuais.

Os gregos foram os primeiros a se destacar por sua produção intelectual, fomentaram a ciência, a filosofia e contribuíram imensamente para o direito e a política. Sua produção se baseava na observação da natureza, atividade que exerciam a fim de conhecê-la e tirar proveito dela. Sua forma de produção de conhecimento foi extremamente relevante e contribuiu muito para o avanço da humanidade, tanto que foi tomada como base por diversos outros povos de lugares e em tempos diferentes.

No entanto, na moderna idade, alguns pensadores começaram a se questionar sobre a real utilidade da produção de conhecimento meramente observativa. Caso de Francis Bacon, por exemplo, que fez pesadas críticas a respeito da ciência dos gregos. Para Bacon, o conhecimento produzido apenas com base na observação, e que não buscava objetivamente melhorias para a humanidade, não passava de um conhecimento fútil e insignificante, que entende por entender, mas sem um fim prático. Este acreditava que devíamos dobrar a natureza à nossa vontade, realizando experimentos e tendo como base um método que guiaria a ciência moderna e a nova forma de produção do conhecimento com base na experimentação científica. Esse assunto foi tratado por ele em seu livro “Novum Organum”, o novo instrumento usado na busca do conhecimento, publicado no ano de 1620, e que trouxe uma revolução à ciência.

Outro dos grandes pensadores que revolucionaram a ciência foi René Descartes, que refletiu sobre a mesma coisa. Este também via a produção grega como algo inútil e classificava-a como uma forma de produção de conhecimento estéril, que não progrediria a humanidade. Foi também o responsável por propor a dúvida como instrumento de produção de conhecimento, afirmando que primeiro devemos duvidar, levantar questões acerca de um objeto, e então tentar, através da razão, respondê-las. Assim, duvidando, poderíamos distinguir aquilo que é científico e verdadeiro por sua clareza, pois apenas seria claro aquilo que se provasse real, daí a máxima “penso, logo existo” tão icônica de sua obra “Discurso sobre o método”, de 1637.

Ambos, juntamente de outros muitos nomes importantes da história, pavimentaram os métodos da produção do conhecimento científico, e vissem hoje a situação em que se encontra o mundo, sentiriam não mais que desgosto. Pessoas que nasceram anos depois de Descartes e Bacon e se beneficiaram dos conhecimentos que estes tanto contribuíram para construir, hoje os rejeitam, preterindo por viver às sombras da ignorância, e tendo somente o senso comum, o que se um dia nos garantiu, hoje ameaça nossa existência.

 Em plena pandemia, em meio a todas as mortes causadas pelo vírus do Covid-19, os negacionistas da ciência jogam no lixo os esforços dos pensadores e cientistas que fazem um trabalho sério para livrar o mundo do caos que se instaurou com a doença.  Negar-se a vacinação, a usar máscara ou ainda pregar falsas curas por remédios que não tem comprovação alguma de eficácia contra o vírus é um desserviço para o mundo e uma ofensa a aqueles que se dedicaram à ciência e ao combate a pandemia.

 

Rodrigo Beloti de Morais

1º ano - Noturno

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