domingo, 18 de julho de 2021

 

A esterilidade do positivismo no mundo contemporâneo

    A corrente positivista de pensamento, cujo expoente mais preponderante foi Augusto Comte, é essencial para compreender as bases do início da Sociologia. Entretanto, no mundo contemporâneo, ela prova ser insustentável diante das novas realidades que se apresentam, as quais agem no sentido de contornar prejuízos históricos e valorizar a individualidade em diversos âmbitos.

    Em uma primeira perspectiva, o Positivismo se notabilizou pelo caráter mecanicista, próximo às Ciências da Natureza nos aspectos metodológicos e, por vezes, austero na análise social. Essas características podem ser visualizadas, por exemplo, na hipervalorização do trabalho como o meio para atingir a felicidade, não a felicidade pessoal, mas a chamada felicidade coletiva, que seria muito próxima ao sentimento patriota e à percepção de avanços da nação (avanços sempre de caráter objetivo, como o aumento da riqueza produzida, sem preocupações acerca de sua distribuição na sociedade). Outro aspecto ilustrativo é a exaltação de deveres em detrimento dos direitos, limitando a discussão destes e “podando” ambições concernentes à mobilidade social ou às melhoras da qualidade de vida. Dentro dessa lógica, jaz a perversidade de manter os trabalhadores manuais nessas atividades, impedindo o pensamento crítico desses indivíduos e favorecendo a estabilidade das classes sociais e do poder.

    Nessa ótica, é possível fazer uma análise crítica sobre o Positivismo, o relacionando com pautas contemporâneas e percebendo o anacronismo resultante caso sua lógica continuasse predominando atualmente. Assim, é sabido que o Brasil se constituiu como uma nação de inúmeras influências culturais diferentes e que seus habitantes refletem até hoje, por suas raízes e manifestações, essa evidente pluralidade. O quadro “Operários”, de Tarsila do Amaral, retratou com perspicácia essa variedade étnica. Em um viés positivista sobre a obra, tal diversidade seria ignorada e o componente valorizado seria a produção industrial, bem como o trabalho mecânico que todos ali supostamente exercem. Busca-se a supressão das diferenças em prol do avanço industrial. Todavia, se analisarmos a obra por meio de uma perspectiva condizente com as discussões atuais e coma própria realidade de grande parte do mercado de trabalho, as diferenças seriam, pelo contrário, valorizadas, inclusive no ambiente produtivo, explorando as potencialidades individuais e o background cultural de cada um. Ademais, ao contrário do que pode parecer de início, não se trata de uma abdicação da produtividade, mas de seu aumento por meio da tentativa de construção de um ambiente, de fato, harmônico, sem artificialmente tentar suprimir diferenças, mas aproveitando os seus potenciais.

    Em conclusão, o Positivismo é estéril na contemporaneidade, essencialmente por ser desafeto ao pensamento crítico de minorias sociais, à manifestação da pluralidade e ao questionamento mais profundo de estruturas sociais perversas e preconceituosas, historicamente reforçadas, mas que, com maiores debates no contexto atual, começam a ser desveladas e transformadas. Por ir de encontro a tais tendências de inclusão do século XXI e de valorização dos avanços no campo social, e não somente econômico, o Positivismo como lógica hegemônica tem seus dias contados.





Isabela Mansi Damiski - turma XXXVIII - matutino

Nenhum comentário:

Postar um comentário