domingo, 18 de julho de 2021

A escola de Comte

 

            O Positivismo foi uma Escola de Pensamento cunhado por Augusto Comte sob um contexto neocolonial e imperialista, isto é, banhada por um forte pensamento etnocêntrico e, sobretudo, eurocêntrico. Com isso, moldou uma a superestrutura de todo um século e perdurou no imaginário de muitos no decorrer das eras. Essa forma de entender o mundo a nossa volta esteve e está fortemente presente na sociedade brasileira desde as origens do positivismo, sendo representada em diversas Escolas Literárias, como o Realismo, e na própria Bandeira nacional, com o lema “Ordem e Progresso”.

            Essa influência adentrou na educação brasileira, moldando as escolas cívico-militares e, inclusive, o sistema educacional como um todo. Em consequência disso, há a formulação de gerações com uma forte visão positivista do mundo e, com isso, ignoram a pluralidade do mundo. Além disso, é possível perceber uma forte tendência da educação de não libertação do estudando.

            Por mais que seja obrigatório o ensino de povos nativos e africanos, além dos mais diversos tipos de movimentos sociais, esse ocorre de forma extremamente burocrática, não envolvendo, de fato, o jovem a esses contextos sociais e antropológicos. Ademais, percebe-se, também, que, apesar de se comentar a existência dos indígenas e sua importância para formação da matriz brasileira, os vestibulares costumeiramente ignoram a cultura indígena como fundamental para a formação de uma cultura e língua nacional. Vocábulos e fonemas indígenas foram indispensáveis para que o português no Brasil se manifestasse da forma como o conhecemos atualmente e o diferenciasse das demais formas de se reproduzir a língua portuguesa. Isso fica evidente ao notar que, em provas de vestibulares que exigem a leitura de obras literárias, quase nunca (se não, nunca) propõe leituras de escritores indígenas, mesmo quando esses escrevem em português.

            Outra característica forte da educação brasileira de forte cunho positivista é a castração da imaginação. Mesmo sendo obrigatório o ensino de arte nas escolas, esse se dá de forma, novamente burocrático, ou seja, com um cunho extremamente técnico e histórico. Apesar de extrema importância ambos esses aspectos, banalizam e suprimem a importância social, psicológico, físico e profissional do ensino de arte – das mais diferentes formas – e dos esportes. Por não serem valorizados nos processos de admissão nas instituições de ensino superior, percebe-se uma grande quantidade de jovens com exímias habilidades vocais, musicas, plásticas, dramáticas e esportivas, abandonando-as a fim de focar nos exames de admissão. Com isso, há, de forma cada vez mais recorrente, a formação de uma sociedade emocionalmente instável, sedentária, e doente de forma geral. Além disso, tem início a falência da produção cultural nacional, uma vez que não há incentivo, e nem ao menos apoio, para novos artistas e atletas e, dessa forma, os jovens deixam de ver nessas áreas, um possível futuro.

            Não precisa olhar com muita profundidade no sistema educacional para entender que ele não cumpre com o a função de libertação. O jovem pode deixar o ensino médio com um incrível conhecimento de análise combinatória, mas não está preparado para comprar um imóvel, ou mesmo bagar boletos. Nesse mesmo sentido, o jovem pode adentar à Universidade com conhecimento do sistema democrático, mas não reconhecer seus direitos e deveres. Ou seja, o estudante, apesar de ser obrigado a estudar uma grande quantidade de conteúdos – mesmo que isso não ocorra em todas as áreas do conhecimento com a profundidade exigida pelos vestibulares –, esses são ensinados de forma descontextualizadas, não tendo função prática para a vida particular e social do jovem.

            Em suma, o sistema positivista de ensino tende a manter os jovens estudantes, em sua maioria, presos a amarras que limitam a forma de se entender o mundo e de produzir conhecimento e cultura. E, com isso, a teoria positivista é incompatível com a educação, uma vez que essa deve libertar e proporcionar meios para que haja produção de conhecimento, não apenas seu repasse.


Vítor Salvador Garcia Lopes - 1º Ano Matutino 

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