domingo, 4 de julho de 2021

A ciência de Descartes e Bacon


Sob a luz da sociedade capitalista ocidental, ao analisar seus últimos séculos, pode ser que o indivíduo que se propõe a tal contemplação histórica seja acometido por uma falsa percepção de "evolução" da humanidade. Porque, essa concepção, um pouco positivista, de há uma escada de eventos ocorridos durante a humanidade, para que enfim, o homem pós-moderno estivesse no auge dos domínios técnicos-científicos, apoderado do controle do saber, em um topo de uma pirâmide ecológica, na qual, nada além dele seria maior, advém, em boa parte, de um dos pioneiros filósofos modernos como René Descartes e Francis Bacon. Tais nomes propunham durante o século XVII uma transformação na forma de produzir conhecimento e interpretá-lo como ferramenta de uso humano, causando uma ruptura gradual com os dogmas até ali presentes  - feito a influência cristã sobre todos os mecanismos da sociedade. Não obstante, a construção de um pensamento, que edificou a sociedade moderna e reverberou-se sobre os séculos seguintes, parte de uma lógica metódica e racional, a qual lê o mundo como passível da ação humana, então, nessa  premissa de que o homem  "evoluiu", torna-se questionável, pois, apesar de grandes transformações benéficas a humanidade, a ciência guiada por tal fundamento, também causou e causa efeitos nocivos aos seres humanos. 

Para René Descartes, o conhecimento deveria ser norteado pelo princípio fundamental da dúvida, como novo método científico, no qual ele possuía função não só de explicar o fenômeno, mas também, transformar. Para ele, tudo poderia ser submetido a um sistema lógico, isto é, ao domínio humano. Assim, as ciências seriam a libertação do homem, com o senso comum. Porém, no filme Ponto de Mutação, clássico dos anos 1990, dirigido por Bernt Amadeus Capra, a personagem Sônia representa uma outra visão (crítica) ao que o filósofo propôs como forma de compreender as relações sociais e a natureza. Em suas falas, Sônia constrói uma argumentação de que o racionalismo de Descartes, inclusive usa o termo "visão mecânica"  sobre o mundo, a maneira de afirmar que a natureza seria um relógio com engrenagens, e explicações pautadas por métodos, e para uso do homem seria errada. Porque, segundo os argumentos da personagem Sônia, a ciência e seus benefícios à humanidade são de contenção e de não de solução, ou seja, a ideia de que a razão científica estaria estabelecida para transformar positivamente o planeta é errônea. A ciência, na atual circunstância, ou mesmo há trinta anos - período do filme, seria regida pelos interesses capitalistas, no qual, o interessante não seria transformar para o bem. 

Assim, pode-se usar como exemplo a pandemia do covid-19, o qual avassalou o globo terrestre inteiro. Em especial, países subdesenvolvidos, como o Brasil.  A ciência foi de suma importância para que contivesse o número de casos, evitando mortes e sofrimento, até enfim haver uma solução: a vacina que levaria ao fim dessa crise, da maneira proposta pelos filósofos ditos. Porém, sob o prisma da personagem Sônia, ela também foi usada como alicerce de interesses capitalistas, como o último escândalo político envolvendo o presidente Bolsonaro, no qual se descobriu caso de propina com uma marca de vacina. Mesmo a ciência, proposta para o benefício humano, aliou-se a politicagem e o desejo do lucro capitalista. 

Não somente, com a personagem Sônia, pode-se analisar o atual momento, o qual, no início do texto foi remetido como uma falsa evolução humana. O Francis Bacon também afirmou em sua filosofia que  o senso comum era algo que guiava os homens, e que sendo o conhecimento o objeto revelador. Assim, uma dessas falsas percepções do mundo estaria nos ídolos, vinculados às distorções provocadas pela a mente humana, com a realidade. Dessa forma, pode-se valer do mesmo presidente mencionado, no que tange ao senso comum e as mentiras acerca da pandemia, as quais custaram vidas. Um ídolo, por meio de seus discursos moveram as paixões humanas, impedindo o uso racional de ver o mundo. 

Por fim, as bases epistemológicas da ciência moderna formuladas por Descartes e Bacon deixaram como heranças para sociedade vigente, explicações para certos fenômenos, mas, concomitantemente, questionáveis premissas - usando como alicerce de exemplo a personagem Sônia. A ciência e sua importância e sua funcionalidade podem ser entendidas pela lupa desses dois nomes, ainda no século XXI. 


Isabella Barra Nova Uehara -

1a semestre - direito noturno

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