domingo, 18 de julho de 2021


20 de julho de 2020,

Eu gostaria de gritar para o mundo que eu não sou disfuncional, que o meu amar não é imoral e que a luta pelo respeito a minha identidade de gênero não é um ataque a ordem e a harmonia da sociedade. Mas de qualquer forma, ninguém me ouviria. A bala atravessaria meu corpo preto antes mesmo de eu tentar dizer a primeira frase.

Eu não sou a porra de um corpo celeste que está destinado a ficar sempre no mesmo lugar, dentro da minha história não cabe uma lei invariável e eu não deveria ser obrigada a negar toda a minha história visando o “bem comum”.

Conheço bem os guardiões e construtores da moral da família que toda semana frequentam a rua dos prazeres carnais, mas que em suas casas condenam qualquer tipo de depravação contra seus preceitos sagrados.

A minha presença foi invisibilizada e sinto como se não fosse mais uma protagonista da sociedade, e sim uma antagonista que atrapalha toda a eficácia desse sistema doentio que me coloca como uma anarquista moral. Eu sinto na pele que a meta dessa sociedade é me eliminar para conseguirem atingir o progresso. Tento ser mais positiva, mas é inegável que meu corpo é um alvo.

-  Esse texto foi retirado de um pedaço de papel encontrado no bolso de uma transexual queimada viva dormindo.

 Lorena Prado Silva – 1° Período Noturno

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