domingo, 27 de junho de 2021

Racionalismo da Cor: As marcas do racismo que poderiam ser evitadas

 As políticas públicas de ações afirmativas adotadas no território brasileiro surgiram, efetivamente, apenas no ano de 2012, revelando o atraso do país em relação ao restante do mundo. Os recortes originais para minorias de outros países foram acomodados dentro de um processo político-social que permite essa realidade. Já no Brasil, a proposta é destina a uma maioria negra, estourando esse modelo de Estado, pois o problema local não é acomodar, mas reestruturar as políticas econômicas-sociais brasileiras.

A questão central se fundamenta na compreensão do negro como ser humano. Tal processo se deu de forma tardia, visto que o histórico recente apresenta episódios de inúmeras barbáries cometidas contra a população negra pelo mundo. Essa realidade se deve, entre outros fatores, à visão distorcida da realidade que existia na humanidade até o aparecimento de correntes racionalistas que buscaram compreender o mundo não a partir de um viés contemplativo e sim de uma visão questionadora e investigativa.

Historicamente, tivessem os homens questionado seus status sociais e buscado compreender o que tornavam raças diferentes detentoras de diferenciações de direitos, poderiam chegar à conclusão de que foram vítimas do que Bacon chamaria de Ídolos do foro: distorções provocadas pelas associações e relações pessoais/sociais estabelecidas. Na verdade, nada justifica todo processo histórico de exploração e desumanidade destinado às populações negras. Todos são seres humanos, independentemente de sua cor, raça, sexualidade, religião, ou qualquer outro fator de segregação. As associações de grupos ditos “melhores” ou “mais evoluídos”, cegos pela realidade distorcida da sociedade é que permitiram tais abusos.

O que de fato faltou em nossa história foi alguém capaz de utilizar, assim como Descartes, a racionalidade e experiência com perspectiva de transformação e intervenção no mundo, e não mais de contemplação da situação vigente de abuso e submissão. Nesse caso, se assim questionassem a realidade na busca da superação radical do racismo sistêmico e paralisação do mecanismo de destruição dos corpos negros, na luta por direitos para as mulheres negras e das minorias em geral, talvez não seria necessário hoje lutar pela permanência das políticas públicas de ação afirmativa enquanto persistirem as marcas do racismo na sociedade brasileira.

Laredo Silva e Oliveira – 1º Ano Noturno

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