quinta-feira, 16 de abril de 2020

O Anticientificismo Bolsonarista e a Covid- 19


Marquês de Maricá, célebre filósofo do período imperial do Brasil, em sua obra "Máximas, Pensamentos e Reflexões", citou: “sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa”. Tal frase, embora datada do século XIX, é estritamente atual, principalmente, porque em pleno século XXI o pensamento científico tem sido banalizado por pseudo pensadores, tecnologias e até mesmo chefes de estado. A falta de crença em um ramo essencial para o desenvolvimento e preservação da população tem gerado resultados graves, entre eles, a proliferação em massa da covid-19. 

Hodiernamente, lidamos com uma gama de informações circulando por toda parte sem nenhum filtro, isto é, ao mesmo tempo em que se tem acesso a dados e notícias corretas, tem-se também o acesso a fake news e concepções especulatórias sobre temas que se baseiam em fatos e não em opiniões, principalmente ligados à ciência.  Isso traz consequências ao Estado Democrático de Direito na medida em que esse anticientificismo alcança esferas importantes de poder de decisão, saindo do âmbito de opiniões populares e chegando a pronunciamentos de autoridades de estado.

Desde o final de 2019, a Covid-19 vinha sendo pauta de noticiários e maiores estudos por parte dos pesquisadores. Neste ano, se tornou uma pandemia, afetando mais de 180 países, dentre eles o Brasil. No Brasil, particularmente, nota-se o fenômeno do anticientificismo bolsonarista, que liga a falta da crença na ciência ao populismo do presidente Jair Bolsonaro e suas alegações escrúpulas e sem embasamento. O Presidente da República, em diversas ocasiões, zombou e ridicularizou do papel da ciência na luta contra uma das maiores doenças do século, apontando que a mesma seria uma “gripezinha”, contrariando seu próprio Ministro da Saúde que alertava para a possibilidade de um colapso no sistema de saúde se nada fosse feito para conter o avanço da pandemia. 

Alegações e pronunciamentos, principalmente por parte de pessoas públicas e influenciadores sem embasamento entram em conflito direto com o Estado Democrático de Direito, uma vez que ele prevê a proteção e garantia dos direitos fundamentais como modo de proteção e respeito aos cidadãos. Quando determinadas figuras públicas, como o Presidente da República, líderes religiosos e famosos falam para a população ignorar os avisos, tal direito é violado e põe em risco a vida das pessoas frente uma pandemia. Relacionado a esse direito, existem ainda, diversos questionamentos frente à Covid-19 sobre o direito de ir e vir desde que a quarentena foi colocada em prática, todavia, deve-se entender que, ir contra uma medida de segurança nacional para proteção dos cidadãos fere o direito de outras pessoas e põe novamente em risco o a República democrática.

Além disso, sobre o quadro de propagação da Covid-19 diferentemente do que é propagado, a ciência atua como personagem principal na luta contra esse vírus alarmante, uma vez que, através de estudos, resultados e fatos ela, em uma busca frenética, procura salvar e cuidar da população. Os avisos e indicações por parte dos cientistas precisam ser seguidos rigidamente, porque diferente de muitos outros pronunciamentos, eles têm dados e comprovações. 

É preciso sempre relembrar a população que o domínio de um assunto vem de estudiosos e pesquisadores da área e não de líderes fanáticos e pessoas leigas no assunto. A ciência, principalmente em tempos de pandemia, deve ser exaltada e apoiada, oferecendo bolsas de pesquisa, ao invés de corta-las, incentivando o prestigio da área e não desmoralizando-a, pois como já citava Sócrates “A vida sem ciência é uma espécie de morte.”

Isabel Borderes Motta - 1° ano de Direito - Período Noturno 

A ciência como alvo


A ciência constrói-se a partir da existência da dúvida, como apresentado por Karl Popper “O espirito da ciência é o mesmo de Sócrates. É um espirito de dúvida, anseio pela verdade e humildade”. Logo a concepção de uma ciência fixa e certeira é irreal, uma vez que a ciência é um processo e não uma finalidade. Em decorrência disso pressupõem-se o direito de confrontar a ciência de formas não cientificas, como o achismo, a pseudociência, entre outras, que em meio a suas premissas está a suposição de verdade que se válida em si mesma ou no desconhecimento da realidade, resulta em uma leitura de mundo com seus fins, mas em um desconhecimento de sua constituição.
Portanto, o direito de confrontar a ciência sem mais ciência se resume a uma relação de desconexão com a realidade. Sendo assim a não difusão do conhecimento, mas sim sua imposição por vias de finalidade tem como resultado um indivíduo alienado uma vez que não possuindo reconhecimento do mundo em sua natureza, mas sim de suas finalidades passa por um processo de construção de falsas verdades para suprir as lacunas do desconhecido. Logo o fenômeno das “Fake News” e diversas outras manifestações que tem acontecido no Brasil e no mundo, ao exemplo dos graves ataques ao isolamento social e ao discurso de sobreposição da ciência frente a pressão econômica e política tem por base a concentração do conhecimento em uma elite intelectual em um mundo pautado no cientificismo. Com isso, o conflito com a ciência hoje se apresenta como uma anomia social segundo Emile Durkheim uma vez que existe um processo de desintegração das normas sociais e a busca por solidez em um “oceano” desconhecido resulta na aceitação de verdades verdadeiras por si só.
Com isso, o fenômeno contemporâneo de ataque a ciência deve ser observado como realmente é, um grito de desespero de pessoas que ao se depararem com o desconhecido utilizam mecanismos para suprimir a falta do processo para se construir a realidade.


-Rafael Bashiyo Baz
-Primeiro ano de Direito, Turma matutina

Prioridades

René Descartes defende que o bom-senso é inerente a todos os seres humanos, o que em outras palavras quer dizer que a capacidade de julgamento e de chegar a uma conclusão existe em toda e qualquer pessoa. O que o filósofo do século XVI não esperava era que no futuro (que conhecemos como hoje em dia) a liberdade de expressão seria dada a tantas pessoas, e que elas se concentrariam em um só lugar: a internet.

Não me entendam mal, não acho que a rede seja uma maldição para a humanidade, pelo contrário, ela deu luz a muitas descobertas, como a primeira foto de um buraco negro que aconteceu recentemente, e ainda permite a divulgação dessas maravilhas da ciência, o que fez a fotografia do buraco negro ser uma das mais compartilhadas. Em tempos de pandemia mundial, a facilidade de comunicação, compartilhamento e difusão de informação seria uma arma poderosa contra o vírus se não existissem aqueles que vão contra a ciência e insistem em dizer que os cientistas estão errados.

A frase “eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” (que graças a uma rápida pesquisa na internet eu descobri ser de Evelyn Beatrice Hall, biógrafa de Voltaire, e não do filósofo), demonstra como o direito a liberdade de expressão é importante e essencial para a estruturação da sociedade. Porém, diante das fake news e do mal que elas podem fazer ao mundo, ainda mais diante da doença que precisamos enfrentar no momento, a autonomia para dizer o que bem entender não é uma das prioridades.

Confrontar a ciência é importante, uma vez que toda grande teoria científica nasce de uma dúvida e de uma observação, mas fazê-lo sem pensar nas consequências e sem ter evidências reais daquilo que se está falando, é um erro que vem sido cometido por muitas pessoas e que como um vírus pode se espalhar rapidamente. Como escrito por George Orwell no livro 1984, “liberdade é a liberdade de dizer que 2+2=4”, o que em outras palavras quer dizer que a verdade é imprescindível para se alcançar a liberdade, tanto de expressão quanto para sair nas ruas novamente, sem risco de contaminação.

Referências: 
SOARES, Jéssica. Superinteressante, 21 de dezembro de 2016. Disponível em: <https://super.abril.com.br/blog/superlistas/8-frases-iconicas-que-nunca-foram-ditas/>. Acesso em: 16 de abril de 2020. 

Aluna: Beatriz Araújo Gomes - 201223066
Primeiro ano - matutino .