sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Uma análise weberiana da contemporaneidade.


Max Weber, sociólogo alemão do século XX, é um dos grandes nomes para a sociologia, juntamente com Durkheim e Karl Marx. No entanto, Weber se distanciou em diversos aspectos das ideias de tais sociólogos, fundamentando suas próprias teorias. Um exemplo disto é que, enquanto Marx acreditava que as relações de poder e dominação entre os indivíduos estavam baseadas unicamente nas relações de produção, Weber buscava explicar essas relações através de uma teia mais complexa.

Para ele, o materialismo histórico de Marx se equivoca ao declarar que a dominação se faz presente apenas entre classes sociais diferentes e, nesse sentido, afirma que ela pode se estabelecer também entre iguais. Ademais, a dominação também não se trata de um processo que tem sentido único e, segundo o pensamento weberiano, se em uma esfera da sociedade determinado indivíduo pode exercer papel de dominador, em outra esfera ele pode ser o dominado. O poder e a dominação podem-se manifestar, por exemplo, através de pequenas atitudes cotidianas, como na escolha do nosso vocabulário. Quando um professor universitário, que pode ter a mesma condição econômica de seus alunos, utiliza expressões técnicas para se comunicar com os estudantes, ele está, mesmo que inconscientemente, demonstrando seu poder, se colocando como superior por utilizar uma linguagem pouco acessível. Assim, uma relação de dominação é estabelecida entre esse professor e seus alunos.

Além disso, Weber também se diferencia de Marx ao defender que é a cultura, e não os meios de produção, o elemento responsável por promover a hegemonia de uma forma de conduta em determinado contexto. Assim, a cultura e os valores coletivos, para tal sociólogo, é responsável por determinar o que Weber chamada de ação social, ou seja, a condução da vida. Podemos observar a aplicação de tal ideia quando analisamos o caso que ocorreu em agosto de 2020 com uma menina de 10 anos de idade. A criança foi vítima, durante cerca de 4 anos, de abusos sexuais cometidos por seu tio e acabou engravidando. A justiça determinou a legitimidade da realização do aborto no caso da menina, no entanto, um grupo denominado “pró-vida” se reuniu na entrada do hospital onde seria realizado o procedimento e tentou impedir a realização do aborto. Para isso, o grupo bloqueava as entradas do local, além de chamarem constantemente os membros da equipe médica de “assassinos”.

Esse triste exemplo nos mostra como as ações sociais são influenciadas pela cultura e pelos valores de um coletivo. Segundo uma matéria da Revista Veja[1], o grupo que protestou contra a realização do aborto era composto por membros da religião católica e, portanto, podemos compreender que os ideais patriarcais e machistas, pregados por muitos grupos católicos , mas também intrínsecos na sociedade brasileira como um todo, foram capazes de influenciar cada indivíduo ali presente e, dessa maneira, o movimento foi formado. Apesar do motim, o procedimento foi realizado e a criança recebeu assistência médica e psicológica.

Nesse contexto, podemos compreender que Weber busca se distanciar de teorias já estabelecidas por outros importantes sociólogos de seu tempo, construindo um pensamento mais abrangente no que tange as relações de poder e dominação nas sociedades. Tais interpretações, desenvolvidas por Weber, são essenciais para ao estudo e o entendimento de muitos fenômenos ocorridos na atualidade e, assim, apesar da obra do autor ter sido elaborada há cerca de 100 anos, parece retratar o que estamos vivendo hoje.

Júlia Scarpinati- 1° ano Direito- Matutino. 

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