segunda-feira, 7 de setembro de 2020


 

Power & Control

Uma análise do álbum Electra Hert de Marina And The Diamonds como uma metáfora para a perspectiva weberiana


Em abril de 2012, o segundo álbum da artista inglesa Marina And The Diamonds, Electra Heart é lançado. O álbum, em si, é um conto de ficção a partir da perspectiva dessa personagem, a Electra Heart, que representa os 4 principais arquétipos femininos americanos (a dona de casa, a “beauty queen”, a destruidora do lar e a adolescente vagabunda). O álbum todo encorpa essa história de um sonho americano tornado realidade como uma crítica a essas expectativas que Hollywood impõe diretamente as artistas e, indiretamente, as mulheres que são afetas por essa mídia que elas consumem.


queentex, latex

I’m your wonder maid

life gave me some lemons,

só I made some lemonade

soda pop, soda pop

baby, here I come,

straight to number 1”

(Bubblegum Bitch)

O nome da personagem advém da definição da psicoanálise do Complexo de Electra, um tipo especificamente feminino do complexo de Édipo, que se resume a um sentimento de competitividade que uma filha pode sentir contra sua mãe. Foi escolhido como o nome da personagem, provavelmente, para representar a ideia de como esses “ídolos pops” da modernidade são meios para reforçar a rivalidade feminina. É nessa rivalidade feminina e, em geral, individualismo que se encontra o ponto mais interessante de sua música. Constantemente no álbum, Marina tenta representar o sentimento de impotência feminino que é tão conflitante com a natureza de seu personagem. Electra é uma artista famosa, com uma carreira bem-sucedida, mas ela não possui nenhum controle real sobre sua fama ou sobre sua vida, apesar de seus privilégios, ela está constantemente consciência que sua existência é um produto que ela pode ser trocada por uma outra versão mais nova dela a qualquer momento ou erro que cometer. Sua existência é substituível.

In the valley of the dolls we sleep,

Got a hole inside of me.

Born with a void, hard to destroy with love or hope

Built with a heart, broken from the start and now

I die slow”
(Valley of the Dolls)


If you only knew my dear

How I live my life in fear

If you only knew my dear

How I know my time is near”
(The State of Dreaming)


É essa incessante luta contra ser dominada que cria o relacionamento mais interessante da obra – a existência de Electra (e, no geral, de Marina também) depende desse sistema, mas também é punido por ele, e por isso, apesar da crítica ao capitalismo, não é uma crítica destrutiva, Electra não quer demolir o sistema, Electra quer ser inadvertidamente beneficiada por ele assim como homens geralmente são. Nesse sentido, é uma representação pura da experiência da branquitude feminina em um sistema capitalista, pois é limitado ao questionamento de apenas um tipo de poder, o poder do gênero.

Para Weber, o poder se compõe pela capacidade de impor a vontade sobre outro(s) indivíduo(s), independente da resistência ou da lógica dessa imposição. O poder, e portanto, a dominação, não passa de uma competição de vontades de dois grupos, onde ser dominado implica na aceitação da legitimidade dessa assimetria estabelecida por diferentes instituições. Contudo, essa aceitação é um estado instável, com o dominado permanecendo em uma constante procura da mudança do status quo para o seu próprio benefício.

I’m gonna make you fall

We give and take a little more

cause all my life I’ve been controlled

you can’t have peace without a war”

(Power & Control)


É nesse aspecto que Electra Heart admite uma perspectiva essencialmente weberiana, pois, em seu cerne, é um álbum sobre a dominação do patriarcado sobre as mulheres e da fama (ou a parte econômica de Hollywood) sobre uma artista, independente de suas vontades. Electra é a representação desse conflito entre aceitar essa ação social imposta (afinal, a personagem continua incorporando todos os arquétipos femininos até fim) enquanto se luta constantemente para desvalidação desse mesmo dominante que impõe essa ação social (pois, durante todo o álbum, há questionamento da lógica e da necessidade dessa incorporação). Se a cultura significa, para Weber, a supremacia de um certo comportamento, Electra Heart demonstra a subserviência a este estado pois, afinal, continua sendo um álbum de música popular americana que se baseia e utiliza das mesmas técnicas quase culturalmente imperialistas hollywoodianas para seu sucesso comercial, porém, também uma certa rebelião controlada contra essa mesma cultura que a música está personificando.

Question what the TV tells you,

question what a pop star sells you,

question mom and question dad,

question good and question bad.

[…]

Cause all my life I’ve tried to fight what

history has given me.”
(Sex Yeah)


Isadora Lima Ribeiro - 1o Semetre/Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário