sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Beco com saída

    Durante o século XX, sob a luz da Guerra Fria e da bipolarização, o conceito de social-democracia ganhou certo destaque. Na época, como fosse uma espécie de meio termo entre os dois lados em disputa, parecia a solução perfeita por manter o interesse da burguesia como combustível motor da sociedade ao mesmo tempo que não deixava de lado a intervenção estatal no ofício de garantir (ou amenizar a ausência de) uma qualidade de vida digna para todos e não para apenas uma parcela da população. Mas essa teoria toda não se aplicou na prática.

    Os teóricos da social-democracia divergiam e discordavam dos marxistas no sentido de que não intentavam a coletivização dos meios de produção. Esses teóricos, pelo contrário, abraçavam o capitalismo, ao mesmo tempo que usavam a política e os meios a sua disposição para tentar amenizar seus efeitos, “morder e assoprar”. Assim, a social-democracia propunha reformas, mas não reformas demais. Reformas, mas mantidas na remediação das consequências muito mais do que na intervenção nas causas. Reformas, mas dentro do permitido pelo capitalismo.

    As principais críticas a essa perspectiva política tinham exatamente esse viés, o de questionar até que ponto a social-democracia era eficiente, até que ponto era inteligente confiar nas boas intenções dos que estão no poder. Estava ela propondo mudar algo porém utilizando os meios errados para atingir esse resultado, ou será que ela nunca se propôs a mudar algo de verdade?

    Toda essa narrativa se relaciona diretamente com o conceito de dominação desenvolvido pelo sociólogo alemão Max Weber. Weber argumenta que a relação de dominação é por essência não ideal, independentemente dos esforços do dominador para amenizar os impactos negativos de sua soberania. Isso porque dominação, para Weber, era definida justamente como a apropriação de recursos escassos e necessitados por toda a sociedade, apropriação essa legitimada pela aceitação dos dominados. Max Weber considerava a existência da dominação, seja ela de qualquer natureza, imprescindível para a vida social.

   Dessa forma, seguindo as ideias weberianas, mesmo que, é claro, a social-democracia represente um modo de governo menos nocivo que o liberalismo, ainda o é, por estar fundamentada na manutenção do capitalismo, sistema cuja idiossincrasia é a existência de uma cadeia de hierarquias e dominações bem definida.

 

Leonardo Bastos Stevanato – Direito matutino

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