segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A glosa weberiana frente a musicalidade em “Toda forma de poder”

    Consagrado como um dos grandes nomes da sociologia moderna, o pensador alemão Max Weber afirmava em sua teoria que a sociedade poderia ser analisada e compreendida por meio das ações de seus indivíduos, propondo-as como objeto de estudo. Segundo ele, a ação social é a conduta humana dotada de um sentido, motivado por razões concretas ou não e, desse modo, o indivíduo prevalece sobre a sociedade, ao contrário do que propunha a teoria de seu contemporâneo, o francês Émile Durkheim. Entretanto, além de ser um renomado estudioso das ciências humanas, Weber também possuía demasiada admiração pela música, tanto que em suas questões acerca da musicalidade moderna estão incutidas nas suas investigações acerca do racionalismo ocidental, tema de destaque do autor que se encontra bem perceptível no mundo atual.
    “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada, toda forma de conduta se transforma numa luta armada”, assim, entoa o emblemático refrão da canção “Toda forma de poder” lançada em 1986 pelo grupo musical Engenheiros do Hawaii. Nesse sentido, é possível notar-se aí uma das premissas weberianas, na qual diz que nos próprios meios artísticos é onde a racionalização se concebe perante a arte. Os versos, com forte crítica política, interpretam a ação social e o conceito de Weber diante do termo “poder”: uma situação oportuna dentro de uma relação social a qual permite um integrante ou um grupo de integrantes imporem sua vontade própria, expressando-se continuamente uma competição/luta entre essas diversas vontades.
    Ademais, pode-se observar em outra estrofe da mesma música que “O fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada, é tão fácil ir adiante e se esquecer, que a coisa toda tá errada”. Tal forma de governo referenciada pela banda qualifica-se no fenômeno presente de dominação – a qual, para Weber, fundamenta-se em uma perspectiva intrínseca na vida em sociedade, uma vez que a distribuição de recursos não se dá de forma igualitária. Outrossim, subjetivamente, retoma-se a questão weberiana da legitimidade, haja vista, que sem essa característica não é possível se manter no poder a longo prazo. Desse modo, é relevante destacar a influência das ideologias, que nada mais são do que a manifestação de um conjunto de valores, como guia das ações sociais humanas, considerando-se a hodierna ascensão de movimentos de extrema direita em inúmeros países, desestimulando a racionalização dos saberes.
    Além disso, o sociólogo dissertou acerca do chamado “tipo ideal”: construção abstrata derivada de casos particulares já presenciados em uma sociedade. Nesse âmbito, é concebido pelo eu lírico dos Engenheiros do Hawaii, o “tipo ideal” de cidadão para os políticos, vulgo os alienados. Todavia, Weber também reconhece que não se trata de um conceito perfeito, configurando apenas um instrumento científico de análise e comparação sem intenção de reproduzir ou copiar uma realidade fielmente, e isso se comprova na música em “e começo achar normal que algum boçal, atire bombas na embaixada”, evidenciando a não totalidade da alienação diante dos fatos, através das exceções ao regime. 
    Torna-se evidente, portanto, a contextualização da racionalidade e teoria de Weber em diversos modelos de expressão contemporânea, como em Engenheiros do Hawaii, reiterando o seu pensamento de que as obras musicais configuram base da holística científica, junto ao direito, política, economia e religião. Por fim, delineia-se que, mediante termos dinâmicos da modernidade, observa-se o direito como racionalidade formal e material – demonstrando em seu formato o tipo ideal weberiano das condutas desejadas ou expectáveis – tal qual nos modelos de dominação apresentados em “Toda forma de poder” nas ações sociais pautadas em “Fidel e Pinochet”. 

Luana Lima Estevanatto – 1º ano Matutino

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