segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O trabalho dignifica o homem

 

“O trabalho dignifica o homem”, desde cedo me diziam. Talvez o trabalho digno. Pecado é a preguiça, mas o burguês recebe benção divina. A herança que resta ao proletariado são os calos. Ao capitalista a alegria, provavelmente por saber que vai aproveitar sua aposentadoria.

O capitalismo é flexível. As classes todas correm riscos. O rico, porém. possui reservas, o pobre possui lacunas. Lacuna no estômago, lacuna na cabeça, lacuna na esperança. “Não se planejou”, disseram. “Agora se reinvente”.

O refúgio às vezes vive contigo. Asse pão, venda o armário e dirija para aplicativo. Perdeu os direitos trabalhistas pelo qual lutou, mas tem o que comer. Ai se adoecer, vá ao médico mesmo que o atestado não lhe livre da labuta independente – de insuficiência basta a assinatura na carteira. “Faça o dinheiro trabalhar para você”, li na revista da sala de espera.

A realidade é instável com ilusão de segurança. Até o primo com diploma vem sofrendo com mudanças. Sua companhia agora terceiriza, colocando o emprego de todos em jogo. Ou já pode distribuir currículo ou aceita trabalhar por pouco.

Santificam os pobres depois da morte, o que oferecem em vida é abstrato. Do pó viemos e a ele voltaremos, mas não se vive de poeira. Se os garotos quiserem abandonar os estudos para trabalhar, não sou exemplo. Um cliente disse que o conhecimento é capaz de libertar ao homem. Talvez o homem que não teme a fome, a mim basta ter filhos direitos.


Lívia Pimenta Clemente Silva

Direito Noturno - UNESP

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